Review: Power Rangers: Battle for the Grid
Produção de baixo custo não tem a força, mas tem potencial
Em muitas maneiras, Power Rangers: Battle for the Grid é um reflexo da série na qual se baseia: uma produção de baixo custo que, diante de restrições financeiras, tenta fazer o melhor que pode.
Mas a comparação para por aí, já que, enquanto Power Rangers juntou, mesmo com poucos recursos, os elementos certos para construir um fenômeno da cultura pop nos anos 1990, Battle for the Grid apenas tenta replicar um modelo de baixo custo que já existe nos jogos de smartphone, apesar de ter marcas ricas por trás de sua produção (o game é o primeiro da franquia após a mudança de donos da Saban para a Hasbro).
O game de luta segue a pegada de um outro título dos Rangers para mobile, Legacy Wars (ambos são feitos pela mesma desenvolvedora, a californiana nWay), que, ao melhor estilo Marvel vs Capcom, junta heróis e vilões de várias eras da série em um título de lutas contra trios.
As semelhanças com Legacy Wars ajudam a explicar, também, porque o conteúdo do jogo é bem escasso em seu lançamento: o título chegou às lojas com apenas nove personagens, e outros devem ser adicionados ao longo do caminho - três já estão confirmados um DLC gratuito, por exemplo.
Assim, a desenvolvedora acredita em um modelo no qual o jogo vai ganhando conteúdo ao longo do tempo, que até funciona em alguns segmentos, mas se provou um tanto arriscado no gênero de luta - basta lembrar a tortuosa trajetória de Street Fighter V. Ao menos o preço é mais baixo em relação a um título AAA tradicional (inclusive no Brasil).
O elenco, que é relativamente diverso, tem a óbvia predominância da era clássica (e mais famosa) da série, com a equipe de Tommy e Jason, mas também faz diversos acenos às sagas mais recentes dos quadrinhos, que giram em torno da figura de Lord Drakkon, uma versão alternativa do ranger verde original que permanece maligno mesmo após se livrar do feitiço de Rita Repulsa e, ao lado da bruxa, domina o mundo, derrotando os Power Rangers no processo.
No gameplay, os controles são relativamente simplificados, em uma mistura curiosa de Marvel vs Capcom, com assistências e trocas durante o meio da luta, e uma lista de comandos que mais lembra Super Smash Bros., na qual os golpes especiais são necessitam de manobras com o direcional como a meia-lua, exigindo apenas que o direcional seja apertado para um lado ao mesmo tempo que um dos botões de ataque.
As influências em jogos de luta orientais também são evidentes nos movimentos de cada personagem. Tommy é quase um Ryu de Street Fighter, com golpes que emulam hadoukens e shoryukens, enquanto Drakkon tem um chute que é praticamente uma homenagem ao icônico Genocide Cutter de Rugal, eterno chefe de The King of Fighters.
Apesar disso, o elenco é relativamente diverso em seus golpes e movimentos. Embora os Rangers predominem em todo o elenco, há uma diferenciação clara entre o que cada um deles pode fazer, denotando inclusive uma aspiração da nWay em tornar Battle for the Grid um título competitivo - o americano Justin Wong, um dos maiores campeões de Marvel vs Capcom da história do EVO, está ajudando a equipe a balancear os personagens.
Seja como for, Wong e a nWay ainda devem ter bastante trabalho, já que o jogo precisa de um bom balanceamento entre personagens e mecânicas. Os golpes, em geral, tiram muito dano do jogador e há muitas possibilidades de emendar combos longos, emendando uma avenida de possibilidades “apelonas” por parte de jogadores de games de luta mais veteranos (ainda que o conceito de “apelação” seja debatível, se houver opções para escapar dele).
Outro exemplo da pegada mais “apelona” de Battle for the Grid está nos Zords, que podem ser escolhidos junto às equipes e funcionam como golpes super especiais do jogo. A princípio, é possível escolher o Megazord, o Dragonzord e uma versão gigante de Goldar, e as três ocupam quase toda a tela com seus golpes durante um curto período de tempo, obrigando o oponente a adotar uma postura defensiva - pense no tamanho do Apocalipse em X-Men vs. Street Fighter.
Como escrevi acima, tudo isso é embalado pela pegada de baixo custo do jogo, que se reflete principalmente em sua apresentação e em seus gráficos. Battle for the Grid não tem a pretensão de ser um título incrivelmente polido, mas ainda assim deixa a desejar. Os personagens e seus golpes estão bem feitos, mas o que os cerca é um tanto simples - veja, por exemplo, o Zordon do Centro de Comando.
As opções de jogo também são básicas, com modos competitivos offline e online, treinamento e um modo arcade como única opção de single-player. Faltam ainda mais modos, que devem vir no futuro, como o já prometido modo história escrito pelos autores de Shattered Grid.
Seja como for, Battle for the Grid é um trabalho honesto, no qual as restrições de produção podem claramente ser vistas em praticamente todos os aspectos do game. Não é um bom jogo de luta no momento (e nem sequer é um bom jogo de luta se comparado ao que Power Rangers já teve no passado), mas há potencial para evoluir.