O ano do PlayStation em 2017
Console da Sony teve ano forte de lançamentos, mas empresa fez decisões estranhas na hora de administrar o hype
O ano de 2017 está chegando ao fim e, em nossa retrospectiva, vamos relembrar e avaliar o ano das três grandes fabricantes de consoles no ano. Para começar, vamos falar da Sony, que, desde o início da geração, tomou a dianteira nas vendas com o PlayStation 4 e claramente tem apenas administrado essa vantagem nos últimos quatro anos.
A “folga” nas vendas certamente fez a empresa repensar algumas de suas estratégias a respeito da divulgação e lançamento de seus aparelhos e jogos e, embora comercialmente isso não pareça fazer tanta diferença (afinal, o PS4 já bateu as 70 milhões de unidades enviadas às lojas e continua vendendo), a fabricante testa a paciência dos jogadores ao adentrar 2018 sem quase nenhuma data para seus principais games.
Vamos, então, à retrospectiva do PlayStation em 2017:
Os exclusivos
A Sony teve em 2017 o seu ano mais forte de jogos exclusivos quando falamos de quantidade. Boa parte de jogos previstos para o ano anterior acabaram atrasando, e isso fortaleceu o line-up do PlayStation 4, que teve um início de ano arrasador.
Horizon Zero Dawn e Persona 5, dois dos principais concorrentes aos prêmios de melhor jogo do ano, foram lançados com exclusividade para as plataformas da Sony, em um período que ainda viu grandes títulos, do AAA (NieR: Automata, Yakuza 0, Nioh) a projetos mais modestos em escala de produção, mas não menos interessantes artisticamente (Everything, Gravity Rush 2, What Remains of Edith Finch - este úlitmo já chegou ao Xbox One).
Mas o bom momento dos exclusivos de PS4 se esvaiu à medida que o ano foi passando. Depois da trilogia remasterizada de Crash Bandicoot e do excelente Hellblade (que, vale lembrar, também saiu para PC), o console recebeu Uncharted: Lost Legacy, uma expansão de Uncharted 4 que acabou ganhando corpo (mas não tamanho) de jogo derivado, o eterno meme da comunidade Knack II e Gran Turismo Sport, que ficou bem atrás dos demais jogos de corrida do ano. No concorrido período de novembro, foi a vez de Horizon receber a expansão “The Frozen Wilds”.
Até aí, nada de novo. Assim como nos últimos dois anos, a fabricante do PlayStation reserva seus jogos de maior peso para o primeiro semestre, e deixa o período de setembro a novembro, o mais concorrido em termos de lançamentos, para os grandes jogos de third parties - muitas das quais têm acordo com a Sony de conteúdo exclusivo, como a Activision (Call of Duty: WWII, Destiny 2) e a EA (Star Wars: Battlefront II).
O hardware
Em 2017, a Sony vendeu 17,2 milhões de unidades do PS4, um pouco abaixo dos resultados de 2016 e 2015, mas ainda assim próximo da média de vendas (17,575 mi/ano) do aparelho desde seu lançamento em 2013. O resultado é bem claro: os acertos de comunicação e a vantagem obtida na fatídica E3 de 2013 deram ao console da Sony uma dianteira tão boa que, mantendo o mesmo nível de lançamentos e serviços, as vendas do PS4 não se alteraram muito.
Sendo assim, a Sony se permitiu focar em tecnologias que ainda estão em um campo mais experimental, como a realidade virtual. A tecnologia ainda não atingiu um ponto ideal de distribuição em massa no mercado - os headsets são caros e ainda não surgiu uma experiência que leve um público mais amplo para a plataforma -, mas lentamente a companhia japonesa tem ganhado terreno com o PlayStation VR.
Com uma biblioteca expressiva e um bom suporte por parte da Sony - seus lançamentos sempre são mencionados nos grandes eventos para a imprensa da fabricante - o PSVR chegou a marca de 2 milhões de unidades.
Por outro lado, o PlayStation 4 Pro, uma versão mais poderosa do PS4, acabou eclipsado em sua competição particular com o Xbox One X, a contraparte do aparelho da Microsoft. Apesar de ambos oferecerem, no papel, uma proposta parecida - trazer os jogos com melhor qualidade gráfica - o aparelho da Sony é muito inferior tecnicamente ao do concorrente, o que dificulta qualquer discurso da fabricante japonesa de argumentar em termos de poder de hardware.
Sendo assim, o PS4 Pro passou o ano alardeado mais como uma opção, e menos como a prioridade no discurso da Sony, ao contrário do que a Microsoft fez para bombar o lançamento do Xbox One X.
Os serviços
Quando falamos de redes e serviços online, a Sony sempre deixou a desejar e, embora 2017 tenha trazido algumas novidades interessantes para o PlayStation 4, essa parte passou longe de ser um dos pontos altos da companhia.
A PlayStation Network ainda peca em coisas simples, como ainda não permitir que os usuários mudem seus nomes de usuário. É algo aceitável quando um serviço está começando, mas completamente inexplicável quando se está no comando de uma rede online com mais de uma década e milhões de assinantes. E a função não deve chegar tão cedo: a previsão é até o fim de 2018.
A empresa ainda se viu no lado ruim de um discurso de abertura encampado pelas concorrentes Microsoft e Sony ao ser a única das grandes fabricantes a negar a compartilhar o multiplayer entre plataformas de Minecraft. Unir os jogadores dos dois aparelhos é perfeitamente possível - como mostrou um erro que colocou jogadores de XOne e PS4 de Fortnite juntos -, então fica bem claro que o crossplay só não acontece porque a empresa não quer.
Uma das poucas melhorias que se pode destacar é a atualização de firmware que permite o uso de drives externos para armazenamento de jogos no PS4.
O hype
Talvez o ponto em que a Sony mais decepcionou em 2017. O hype, manter as pessoas empolgadas pelo que vem por aí, é um dos pontos centrais do negócio de videogames (em especial, do negócio de consoles), e após dois anos com um desempenho excepcional, a Sony patinou. Em parte, por conta do período de entressafra de projetos - alguns estúdios lançaram jogos enquanto os novos projetos ainda estão longe de serem concluídos -, e, em parte, por decisões muito ruins.
A falta do que anunciar teve um impacto direto nos eventos marcados pela empresa: a E3 foi mais comedida do que as históricas edições de 2015 e 2016. Em uma decisão inexplicável, a Sony guardou os trailers de fim de ano para a Paris Games Week, em outubro, efetivamente sabotando o próprio evento, a PlayStation Experience, cuja abertura virou uma tediosa conversa entre executivos e desenvolvedores.
No grande esquema das coisas, a Sony tem um plano bem claro, com exclusivos já anunciados para 2018 (God of War, Spider-Man, Days Gone, Detroit: Become Human, o remake de Shadow of the Colossus e, vá lá, Shenmue 3) e títulos de peso nos anos a frente (The Last of Us - Parte II, Death Stranding e o remake de Final Fantasy VII).
O problema é que 2018 já está batendo na porta e só temos uma data concreta para um dos jogos acima: o remake de Shadow. O trauma do desenvolvimento de Uncharted 4 fez a Sony decidir que a data de lançamento de seus jogos só será revelada muito perto de eles realmente chegarem às lojas, para evitar eventuais anúncios de atraso. Isso explica porque, a poucas semanas da virada do ano, ainda não há data para God of War, muito embora a Sony diga que ele sai no início de 2018.
O Brasil
2017 foi um ano de reestruturações para o PlayStation no Brasil, que viu a chegada de um novo diretor - Carlos Paschoal assumiu o lugar de Anderson Gracias, que, por sua vez, comanda a divisão da América Latina.
Com pouco mais de um ano de atraso, o PlayStation VR chegou ao país, custando R$ 3 mil. O PS4 Pro era prometido para a mesma data, mas acabou ficando para o início de 2018, ainda dentro do ano fiscal da fabricante. Ambos os aparelhos vem por meio de importação, e com isso não há o mesmo benefício fiscal advindo da fabricação destes produtos em território nacional, como acontece com o PS4.
Em agosto, a divisão nacional de PlayStation se viu em uma polêmica ao disponibilizar títulos da PlayStation Plus diferentes da oferta global - quando as demais regiões puderam baixar Just Cause 3, nós ficamos com Strike Vector EX. O problema foi contornado no mês seguinte, quando o game de ação da Avalanche Studios entrou no catálogo.
O veredito
A vantagem confortável nas vendas acabou permeando todos os aspectos da estratégia do PlayStation em 2017, que, embora tenha tido um ano forte pelo lado dos lançamentos - especialmente no primeiro semestre -, deixou a desejar na comunicação com os jogadores e nos ajustes das expectativas para o futuro.
O hype criado pela fabricante nos últimos dois anos com jogos que estão por vir foi muito alto, e agora saber como domar essas expectativas será um desafio e tanto. Nomes de peso como God of War devem ajudar a suprir os ânimos da comunidade a partir de 2018, mas certamente a empresa vai precisar tomar mais cuidado na maneira como revela seus jogos - e como divulga as novidades dos jogos já anunciados.
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