SNK quer ficar mais próxima do Brasil adorador de King of Fighters
"Eles ficam impressionados que existe um nível de paixão parecido por aqui", diz representante da companhia
A trajetória da SNK tem sido tumultuosa nas últimas décadas, da sua falência na virada do século, seguida de sucessivas tentativas de reestruturação, e mais recentemente a aquisição quase completa da publisher por parte de uma empresa controlada pelo príncipe-regente da Arábia Saudita.
Mas, em meio a este período complicado, uma coisa que se manteve é a paixão que a América Latina pelos jogos da empresa – com a "nação kofeira" do Brasil em particular.
"As propriedades intelectuais da SNK – especialmente King of Fighters, Fatal Fury e Metal Slug – vão para além da cultura de games no Brasil e América Latina, e já fazem parte da cultural geral", diz Nicolas Gonzalez, da Divisão de Negócios Ocidentais da SNK Corporation. "Quando eu mostro isso para as pessoas no Japão, eles não acreditam."
Antes de ser empregado pela SNK, o chileno Gonzalez começou sua carreira como pro player de jogos de luta sob o nick "Kane Blueriver", chegando a vencer o torneio de Ultimate Marvel vs. Capcom 3 na EVO Japan de 2019.
Mas é claro que também participou de torneios de KoF durante os anos, e sabe bem o lugar especial que a franquia tem por aqui.
"Eu sei – pessoalmente, como um jogador que jogou competitivamente por muito tempo – o quão importante [a SNK é] para o Brasil e para a América Latina", disse em entrevista ao The Enemy na Gaming Garage da Intel , pré-BGS 2023. "Um dos meus objetivos na companhia é servir como ponte e diminuir a distância entre um lugar tão distante quanto o Japão com a América Latina, e mostrar a eles porque esta região é tão importante para eles e porque eles devem se importar com ela."
"É engraçado porque KoF, no Japão, tem uma das fanbases mais apaixonadas de pessoas que não jogam videogame. Há tantas pessoas que amam tudo que a SNK faz – do universo aos personagens – mas que não são jogadores competitivos ou mesmo ativos, que fazem artes ou cosplay."
"E eles ficam impressionados que existe um nível de paixão parecido por aqui."
Gonzalez acredita que, apesar da cultura corporativa japonesa tradicionalista da SNK, conseguiu avançar consideravelmente este objetivo desde foi contratado, dois anos atrás.
Um exemplo disso é que, em novembro, o Brasil vai ser uma das paradas do Campeonato Mundial de King of Fighters XV – algo importante não só para a comunidade, como para o próprio Nicolas Gonzalez, que também tem como objetivo ajudar competidores latino-americanos a encontrar mais espaço nestes tipos de torneios, sabendo por conta própria as dificuldades que alguém da região passa ao disputar competitivamente em vários lugares do mundo.
"Sabemos o quanto é difícil para alguém do Brasil e da América Latina viajar para lugares como os Estados Unidos e tal, então isto está sendo levado em consideração. Eu, como jogador, já vi muitas pessoas talentosas daqui e de outros lugares ganharem passagens para torneios e não poderem ir pela necessidade de vistos, então eu sei o que restritivo isto é."
SNK à brasileira
Além dos esports, Gonzalez também diz que sua própria presença na BGS é um sinal de que a SNK está valorizando mais o país e a região como um todo – não só pelo relacionamento com a comunidade, como até pela possibilidade de envolvimento de estúdios e desenvolvedores brasileiros em jogos futuros da empresa.
"Há desenvolvedores apaixonados que também cresceram com os jogos da SNK, e estou mostrando para o pessoal de lá que há grandes oportunidades de trabalhar com as pessoas da região também. Por isso, uma das razões de estar aqui também é para conhecer pessoas, fazer networking com diferentes desenvolvedores para ver o que eles têm para oferecer."
Gonzalez não entrou em maiores detalhes, mas aparentemente há conversas e negociações entre a SNK e devs brasileiros já há algum tempo – pelo menos desde a Gamescom, que rolou em agosto.
Além desses contatos profissionais, um dos objetivos dele é mostrar o valor que uma feira como a BGS pode ter para a divulgação não só dos jogos, mas da SNK como um todo.
"Eu disse a pessoas da companhia que a BGS já trouxe os responsáveis por Street Fighter, pessoas como Ed Boon e outras figuras da indústria. Por que não trouxemos as pessoas da SNK para cá também? Eu sei que tem gente louca para conhecer eles pessoalmente, então acho que temos boas oportunidades de fazer isso."
Gonzalez já pensa na possibilidade de trazer algo relacionado a City of the Wolves para a BGS 2024, considerando que o projeto deve avançar consideravelmente até lá, e levando em conta a popularidade de Fatal Fury para o público brasileiro.
Falando em Ed Boon, levantei a possibilidade de algum jogo da SNK ganhar algum tipo de conteúdo especial temático inspirado no Brasil, como tem sido o caso nos últimos Mortal Kombat.
"Seria interessante fazer isso. De novo, é uma empresa japonesa bem tradicional, e às vezes é difícil quebrar essa perspectiva", explicou Gonzalez. "Não há muitas skins de DLC, ou fases ou coisas assim mesmo nos jogos principais."
"Estamos definitivamente tentando convencer o estúdio quanto às grandes oportunidades que fazer um conteúdo deste tipo pode trazer. Não só em termos de receita, mas também com colaborações, homenagens e este tipo de coisa."
"O que Mortal Kombat fez com aqueles personagens foi bem legal, e algo que deveria ser replicado pela nossa companhia, com certeza."