A importância de Resident Evil 4 para a indústria - e para a própria franquia
Game da Capcom comemora 15 anos desde seu inovador lançamento
Em 11 de janeiro de 2005, o Nintendo GameCube recebia um dos títulos que, para sempre, mudaria o curso da história dos videogames: Resident Evil 4. A aguardada continuação numerada trazia Leon S. Kennedy, um dos protagonista de Resident Evil 2 como um agente especial do governo norte-americano em uma missão para resgatar a filha do presidente dos Estados Unidos.
Além dos gráficos estonteantes (para a época), já na abertura uma diferença saltou aos olhos dos fãs mais assíduos: 6 anos se passaram desde a destruição da icônica Raccoon City e a Umbrella Corporation, até então a vilã máxima do enredo, havia sido “destruída”. Com esse salto estabelecido, o jogo se tornou um grande divisor de águas na comunidade, mas, trouxe inovações no gameplay que até hoje são referenciadas.
Tudo novo
Apesar da divisão dentro de sua comunidade, um dos maiores méritos de Resident Evil 4 é a sua jogabilidade. O game havia deixado de lado o gameplay “tank” e o gênero de “terror de sobrevivência” para focar na câmera em terceira pessoa e na ação desenfreada. Além disso, ao invés de se passar em ambientes fechados, o herói do jogo se locomovia por lugares abertos e a progressão da história o levava a diferentes e distantes cenários.
Os inimigos passaram a ser rápidos e (meramente) inteligentes, as armas e munições podiam ser adquiridas com um Mercador e deixaram de ser escassas, os cenários se passavam em boa parte durante a luz do dia, os baús para depositar os itens não existiam mais e, até mesmo salvar o progresso se tornou menos burocrático com a eliminação dos “ink ribbons”.
Tudo passou a ser mais focado ainda em interações e na exploração: era necessário destruir barris com a faca para encontrar itens que pudessem auxiliar; usar recursos dos cenários para se livrar de inúmeros inimigos (como atirar em tanques explosivos ou em carroças em chamas); esconder Ashley Graham, a filha do presidente, em pontos estratégicos para que ela não fosse capturada novamente - ou ainda, usá-la a seu favor para resolver enigmas.
Até mesmo as portas ganharam mais interação: ao invés das animações em primeira pessoa com os personagens atravessando-as, bastava pressionar o botão de ação para abri-las em tempo real. Além disso, pressionar o comando uma vez, fazia com que a prancha se movesse lentamente, e apertando duas vezes, ela abria rapidamente.
A narrativa era, pela primeira vez na história da franquia, contada em capítulos; e toda a atmosfera do game como um todo ganhou um aspecto mais aventuresco, com Leon correndo e fugindo de pedras gigantes rolando, executando tirolesas para atravessar de uma ponta à outra, ou ainda enfrentando crocodilos mutantes em um lago enquanto dirige um barco motororizado.
Os inimigos, por sinal, apresentavam um novo tipo de perigo: diferente dos lentos zumbis dos jogos anteriores, os Ganados eram pessoas comuns que ainda conseguiam se comunicar e agiam como cidadãos comuns… isso até um forasteiro aparecer e os ameaçar.
O simples fato de os inimigos agora correrem e usarem armas para tentar deter Leon fazia toda a diferença: exigia ainda mais atenção do jogador e reflexos mais rápidos para lidar. A estratégia e gerenciamento de recursos ficou ainda mais dinâmico e, um erro bobo, poderia levar a um brutal Game Over.
Divisor de águas: sai o terror, entra a ação
Resident Evil 4 enveredou para o lado da ação logo em sua concepção. O principal motivo, segundo o pai da franquia, Shinji Mikami, teriam sido as vendas baixas de Resident Evil (o Remake de 2002) e Resident Evil 0, ambos lançados originalmente como exclusivos do Nintendo GameCube.
Anos após ter saído da Capcom, Mikami-san falou em uma entrevista para o IGN que a fraca recepção dos dois títulos no console da Nintendo influenciaram diretamente na decisão criativa de mudar a jogabilidade de Resident Evil 4, focando o título na ação ao invés do terror de sobrevivência.
“Por causa das baixas vendas do remake de Resident Evil remake, decidi trabalhar em mais ação em Resident Evil 4. O game teria sido mais assustador e focado no terror se o remake tivesse vendido bem”, declarou o diretor, sem rodeios.
Por conta disso, Resident Evil 4 é considerado um divisor de águas: enquanto para alguns as mudanças no gameplay foram muito bem-vindas, para outros não foi nada agradável. E na indústria de videogames, e dentro da própria série Resident Evil, tudo mudou para sempre
Influência e legado
Resident Evil 4 é um marco na indústria, como já dito por aqui e muito dessa importância é por conta de sua câmera sobre o ombro. Hoje em dia, é comum que muitos jogos de ação em terceira pessoa tenham uma visão desse tipo, mas o quarto game numerado da franquia da Capcom foi o responsável por tornar esse elemento um padrão.
Títulos famosos e igualmente queridos como Grand Theft Auto V, Uncharted, The Last of Us, Batman: Arkham e muitos outros, foram influenciados por Resident Evil 4. Vale ainda lembrar que o game da Capcom herdou (e aprimorou) também os Quick Time Events (QTEs) de Shenmue.
QTEs são aquelas sequência de botões que os jogadores precisam apertar no momento certo para prosseguir com a jogatina. Essa mecânica foi repetida novamente em alguns jogos posteriores da série, como em Resident Evil 5 e Resident Evil 6, além dos spin-off The Umbrella Chronicles e The Darkside Chronicles.
Além desse elemento de gameplay, os jogos pós-Resident Evil 4 também começaram a focar mais na ação também, deixando quase totalmente o aspecto de terror de sobrevivência de lado. Apenas mais recentemente, com os spin-offs Revelations e Revelations 2, e especialmente com Resident Evil 7: Biohazard, é que os títulos retornaram às origens e ao horror.
Além disso, o quarto game numerado da franquia também foi responsável pela criação de dois outros jogos da Capcom: Devil May Cry e Haunting Ground. Os protótipos descartados de Resident Evil 4 acabaram sendo reutilizados para outros projetos dentro da empresa, tomando forma e sendo, posteriormente lançados como os dois títulos citados.
Remakes, Relançamentos, Remasters
Por fim, mas não menos importante, foi com Resident Evil 4 que a Capcom aumentou seu foco em relançamentos, remasters e remakes. Tudo isso quando o game, que até então era exclusivo de Nintendo GameCube, foi lançado para PlayStation 2 em outubro de 2005 - com o cenário Separate Ways como conteúdo extra, é claro.
Em 2007 o título foi relançado no Wii com suporte para os controles do console da Nintendo; e em 2011, Resident Evil 4 ganhou uma remasterização em HD para o Xbox 360 e PlayStation 3 (e mais tarde, para PC). Isso sem conta as versões para Zeebo, iOS, Android, Xbox One, PlayStation 4 e, mais recentemente, Nintendo Switch.
Vale apontar que, com as versões mais recentes, Resident Evil 4 atingiu um total de 7.5 milhões de cópias vendidas e, apesar do game não estar entre os 10 jogos mais vendidos da Capcom; ainda assim, o título deixou sua marca na indústria e também em sua própria franquia.