Elden Ring tem quatro batalhas interligadas de forma brilhante
Um confronto genialmente construído ao longo de diversos encontros
Um dos aspectos em que a FromSoftware mais demonstra genialidade quando o assunto é game design são as batalhas contra chefão. Ao longo dos anos, a desenvolvedora ofereceu confrontos com ciclo de desafio, aprendizado e recompensa de formas diversas e surpreendentes, e não é diferente em Elden Ring. Inclusive, uma das batalhas mais satisfatórias do RPG de mundo aberto faz parte de uma linha de aprendizado brilhantemente construída ao longo de quatro encontros.
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Caso você não tenha terminado Elden Ring, fica o aviso: spoilers a seguir.
Tudo começa com o primeiro grande desafio do Maculado: derrotar Margit e conseguir acesso ao Castelo Tempesvéu. O Agouro Caído ganhou notoriedade na Internet por ser fonte de grande frustração dos jogadores — e não à toa. Ele é o professor da linha de aprendizado em questão, responsável por apresentar um estilo de batalha que se repetirá mais três vezes ao longo do jogo.
Afinal, por que apanhamos tanto dele? Bom, Margit (ou Margareth, como foi carinhosamente apelidado pela comunidade) é um chefão que se caracteriza por três traços principais. O primeiro são os golpes com grande alcance, visto que ele usa um cajado longo como arma primária.
Mesmo que você queira rolar desesperadamente para longe dele, ainda há a chance de ser acertado em cheio pelo cajado. Essa também não é uma boa estratégia por causa do terreno em que acontece o duelo: um trecho estreito de terra com penhascos em ambos os lados. Então, por favor, não saia rolando desesperadamente e gastando a barra de estamina.
Essa batalha ensina que, às vezes, é necessário esquivar em direção ao chefão para evitar o ataque e aproveitar a janela de abertura para golpeá-lo. Isso também força o jogador a ter domínio dos poucos segundos de invencibilidade proporcionados por cada esquiva, algo importantíssimo em Elden Ring.
O segundo aspecto da batalha são os contratempos. Na música, o contratempo é caracterizado pelo deslocamento do acento natural do compasso, que em vez de acontecer no tempo forte acontece no tempo fraco. Explicando de forma mais direta, é quando a batida acontece no espaço de tempo entre os tempos, no “e”: 1 e 2 e 3.
Margit, mostrando que é um bom aluno de música, escolheu desferir alguns golpes em contratempos. Por exemplo, o ataque em que joga o cajado para trás do corpo se desenvolve ao longo de “1 e 2 e”. Outro que surpreende o jogador dessa forma é aquele em que salta para trás e rapidamente arremessa uma adaga.
O terceiro aspecto da batalha são os combos. O Agouro Caído tem movimentos ágeis e precisos, atacando em sequências longas de combos. Por isso, para superá-lo, é preciso ter em mente exatamente quais são os breves momentos de abertura em que é possível acertá-lo e causar algum dano.
Esses três aspectos, somados, tornam essa batalha um aprendizado desafiador, mas um que nos prepara para o que virá adiante.
Voltamos a encontrar o Agouro Caído em frente à capital, Leyndell, quando o enfrentamos brevemente no campo. Porém, essa não pode ser considerada uma batalha de chefão em si, pois é mais breve e, nela, o adversário tem vida muito mais curta. De qualquer forma, está ali com o propósito de refrescar a memória dos jogadores.
A segunda batalha acontece, de fato, apenas dentro da capital, quando o inimigo assume o verdadeiro nome: Morgott. Agora empunhando uma afiada espada de lâmina escura, o Rei dos Agouros usa alguns dos mesmos golpes do confronto em frente ao Castelo Tempesvéu, avançado em direção ao jogador de forma ainda mais ágil. A abertura para acertá-lo, porém, continua constante, e esse é um duelo para fortalecer ainda mais nosso domínio dos golpes de longo alcance, surpresas em contratempo e combos que parecem não ter fim.
Chegamos, então, a Mohg, o irmão gêmeo de Morgott. O primeiro encontro com o Lorde do Sangue acontece nos sombrios e imundos esgotos da capital, lugar em que, na mitologia de Elden Ring, os Agouros são condenados a viver longe dos olhos da sociedade.
Mohg é irmão de Morgott também no estilo de combate e, por isso, ele ataca com um tridente de longo alcance, usando combos longos e desferindo golpes em contratempo. Ele tem o diferencial, porém, de atirar jatos de sangue que causam sangramento no jogador, adicionando mais uma camada de desafio na investida.
A batalha contra o Lorde de Sangue no esgoto é mais simples do que o verdadeiro confronto contra ele, que acontece mais à frente. Aqui, ele não se transforma e fica restrito apenas à primeira fase. O embate demonstra o intuito da From Software de, mais uma vez, oferecer a oportunidade do jogador dominar as habilidades que serão necessárias no encontro derradeiro.
Quando, enfim, entramos na arena de Mohg no subsolo das Terras Intermédias, parece que tem início uma valsa. A esse ponto, a sequência de ataques e os momentos de esquiva já são intuitivos e mais fáceis de se aplicar, resultado da linha de aprendizado que o jogo proporcionou até esse ponto.
Mas não pense que isso facilita o desafio de derrotar o Lorde de Sangue: o dano infligido pelo Agouro é muito alto, em especial na segunda fase, quando ele abre asas demoníacas e passa a ter ataques aéreos. Além disso, o jogador precisa administrar bem os frascos de vida e os momentos de cura, visto que, no meio da batalha, o chefão desfere três golpes mortais em que necessariamente serão usados três frascos para se manter vivo.
A sensação de finalmente superar esse épico desafio é muito recompensadora, e compreender a linha de aprendizado necessária para dominá-lo torna a batalha contra Mohg uma das mais satisfatórias de Elden Ring. Tudo começa no primeiro chefe que enfrentamos e se estende até um desfecho triunfal.