Review: The Quarry traz mistério intrigante estilo terror adolescente
Menos exigente e assustador, sucessor de Until Dawn entrega trama que deve conquistar diferentes públicos
The Quarry é um filme de terror adolescente interativo e não tem vergonha disso. Com um elenco cativante e foco em investigação, a nova empreitada da Supermassive no gênero narrativo é menos aterrorizante do que Until Dawn, mas igualmente recompensadora ao permitir que o jogador se aprofunde no mistério e reúna as peças sozinho. Desta vez, a experiência é mais tranquila e menos exigente, construída com o intuito do título alcançar um público maior do que o antecessor.
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“O que não te mata te fortalece”
The Quarry é uma nítida homenagem aos clássicos do terror adolescente, como Evil Dead (Uma Noite Alucinante) — que, inclusive, é mencionado diretamente no diálogo do game. O jogo é abarrotado de elementos retrô das décadas de 1980 e 1990, desde a trilha sonora regada a sintetizadores aos computadores de tubo com sistema operacional Windows 98. Nesse sentido, jogar The Quarry poucos dias após assistir à quarta temporada de Stranger Things foi um deleite, em especial pelo mistério instigante e arrebatador que ambos proporcionam.
O game se passa em uma noite de puro pavor para um grupo de adolescentes que, após fecharem o verão sendo monitores de acampamento em Hackett’s Quarry, passam a ser perseguidos por ameaças misteriosas vindas da floresta local. Seguindo à risca o lema do acampamento “O que não te mata, te fortalece”, é preciso tentar manter os 10 protagonistas vivos até o raiar do sol.
Ao todo, são cerca de 10 horas de gameplay e, com os deslumbrantes gráficos da Unreal Engine 4, que em breve será algo do passado, a experiência é tão cinematográfica quanto possível. O game está disponível com dublagem e legendas em português. Para aqueles que tiverem medo de jogar, é possível curtir a experiência completa no modo “cinema”.
Premonição
Um recurso de Until Dawn que retorna em The Quarry é a “premonição”, a possibilidade de ter um breve vislumbre de uma consequência de escolha, como a morte de um personagem, e saber o que o futuro reserva. Desta vez, a ferramenta é materializada na forma de cartas de tarot, coletadas durante a exploração dos cenários. Ao final de cada capítulo, essas cartas são entregues a uma misteriosa senhora, que quebra a quarta parede e conversa com o jogador — outro elemento clássico dos jogos da Supermassive. Assim, jogadores têm acesso a uma possibilidade de desfecho para as escolhas feitas.
No início do jogo, encontrar as cartas é uma tarefa difícil, sendo necessário mover o personagem pelos cantos mais reclusos dos cenários até que a câmera se fixe em um novo ângulo e revele uma carta antes oculta atrás de uma árvore ou coluna. Porém, encontrá-las se tornou uma tarefa fácil com o passar do game, aparecendo em corredores que o jogador precisa passar obrigatoriamente.
Como esperado, em The Quarry, a Supermassive tem sucesso naquilo que se tornou: oferecer uma infinidade de escolhas ao jogador. O novo game apresenta um emaranhado complexo de variações de rota e finais únicos — que, de acordo com a desenvolvedora, somam impressionantes 186. Porém, nesse momento, tendo completado o jogo apenas uma vez, é difícil ter dimensão do quão diferentes são esses finais de verdade.
De qualquer forma, fui surpreendida pela forma como pequenas ações já implicam em mudanças de rota narrativa. Por exemplo, o simples ato de coletar uma pulseira do chão já fez a mensagem “Caminho Escolhido” aparecer na tela, indicando que isso resultou na alteração de uma das minhas rotas. Também foi interessante perceber o impacto causado no relacionamento com outros personagens e no psicológico do grupo. Em certo momento, deixei Ryan desesperançoso ao responder que não tinha certeza se os ferimentos de um colega eram graves ou não.
A Noite do Terror
Mecanicamente, The Quarry traz pouca inovação, mas os recursos disponíveis cumprem o papel de tornar a noite dos monitores de acampamento um verdadeiro terror. A intenção dos desenvolvedores é nítida: deixar o jogador em constante estado de alerta. Desgrudar o olho da tela pode significar perder uma interação de tempo limitado ou sofrer as consequências dos quick-time events, em que é necessário reagir rapidamente (mas não tanto) para que o personagem não se machuque ou morra.
O gameplay é formado por trechos de visão em terceira pessoa e câmera fixa — a qual é usada com excelência, principalmente, no primeiro capítulo, sendo tão efetiva para deixar o jogador apavorado quanto em clássicos das franquias Resident Evil e Silent Hill.
Outro recurso que corrobora para o suspense é o “segure o fôlego”, em que é necessário manter um botão pressionado até que um perseguidor se afaste, evitando ser percebido. O combate é outra adição interessante, sendo necessário usar a visão em terceira pessoa para mirar em um alvo e atirar, mas o recurso infelizmente é pouco utilizado.
O game não exige tanto do jogador quanto poderia, e isso compromete a sensação de urgência e pavor que a narrativa tenta passar. Em específico, os quick-time events possuem um tempo longo demais para a reação, o que facilita que o jogador acerte o botão necessário. Eles até se tornam mais frequentes e emocionantes nos últimos capítulos do game, mas ainda permitem o mesmo tempo excessivamente amigável para a resposta.
A Supermassive também adicionou uma opção que torna a experiência ainda mais tranquila para os jogadores: é possível salvar os personagens que morrem. Ao todo, são três tentativas disponíveis para voltar e tentar reverter um destino fatal. Porém, houve um erro com essa ferramenta na experiência de review no PC: No final do game, ao tentar evitar a morte de uma personagem, o jogo rebobinou para o início de tudo em vez de voltar atrás apenas algumas cenas. Porém, o The Enemy foi alertado em seguida pela Supermassive sobre o erro. A desenvolvedora ofereceu um novo save sem o bug e informou que está trabalhando para corrigir o erro antes do lançamento.
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado
Mesmo com um gameplay que demanda pouco, The Quarry recompensa a curiosidade do jogador de forma satisfatória. Quanto mais os cenários são investigados, mais evidências e pistas podem ser encontradas. Em especial, o recurso que mais brilha são as pistas, que passam a se interligar conforme o jogo avança. É possível consultá-las a qualquer momento no menu de pause e refletir sobre as suas descobertas, de forma a ter um vislumbre do que realmente aconteceu em Hackett’s Quarry em verões passados.
É necessário mencionar, porém, que muitas das extensas áreas de exploração são mais vazias que o desejado. Em especial, um trecho no final do game é formado por diversos corredores sem coisa alguma para interagir e sem ameaças por perto.
Ainda assim, avancei por eles com muito interesse, pois não via a hora de enfim alcançar a resolução da trama, que me intrigou e cativou o tempo inteiro.
Pânico
Embalado por um ótimo mistério, um roteiro bem construído e uma boa entrega do elenco de estrelas, algo que pode tirar o jogador da experiência são alguns problemas de desempenho que o game apresenta no momento.
No geral, os gráficos são deslumbrantes. Entretanto, alguns bugs escaparam na versão final. Mais notadamente, os cabelos dos personagens em alguns momentos podem ter movimentos “loucos” e descontrolados, principalmente o de Kaitlyn, interpretado por Brenda Song. A atuação dos protagonistas também é comprometida por feições descalibradas e olhos que se reviram mais do que o esperado. Após o fim de cutscenes, em alguns momentos os protagonistas “poparam”, flutuando no ar por alguns segundos antes de encostar os pés no chão.
Assim como vimos na versão de preview, o áudio do jogo em diversos momentos fica mais atrasado do que a imagem, voltando subitamente para o ritmo padrão com um efeito de “sanduiche-iche”. Também é notável algumas texturas não finalizadas nos protagonistas, que ficam em evidência, principalmente, nos trechos em terceira pessoa — e também na água.
Mesmo que possua alguns problemas de performance neste momento, as questões devem ser solucionadas pela desenvolvedora assim que possível. Esses detalhes, porém, não atrapalham de forma considerável a experiência, que promete agradar os fãs de jogos de terror, os jogadores que foram conquistados por Until Dawn ou aqueles que procuram por um bom mistério.
The Quarry está confirmado para PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series X|S e PC via Steam.