Review: The Outer Worlds
Um caldeirão de referências em um delicioso RPG nostálgico
Apesar de ser uma franquia completamente nova, é inegável que The Outer Worlds tenha uma qualidade nostálgica para qualquer fã de RPGs single player.
Essa sensação chega logo que se abre a tela de menu do jogo pela primeira vez: lá estão apenas as opções “novo jogo”, “configurações” e “créditos”. Nada de um multiplayer feito às pressas para dar mais vida útil ao jogo. Nada de uma loja de itens cosméticos com ofertas temporárias piscantes. Só o que o jogador de The Outer Worlds realmente procura.
Em meio ao fogo cruzado criado por loot boxes, microtransações, jogos como serviços e tantas outras polêmicas que afligem a indústria de games moderna, a simplicidade do menu inicial do novo jogo da Obsidian Entertainment é quase como um abraço – uma garantia de que ainda há chances de que vá ficar tudo bem.
E, de fato, fica tudo bem. Criado pelos icônicos Tim Cain e Leonard Boyarsky, The Outer Worlds leva o jogador a uma excelente aventura de ficção científica que pincela referências de alguns dos melhores títulos do gênero – equilibrando uma boa jogabilidade de shooter em primeira pessoa com uma excelente história, envolvente e cheia de ramificações.
Na fronteira da Galáxia
The Outer Worlds se passa em uma linha do tempo alternativa, na qual Theodore Roosevelt nunca assumiu a presidência dos Estados Unidos e, com isso, megacorporações puderam dominar a sociedade rapidamente. Com a descoberta de uma tecnologia que permite viagens interestelares, essas corporações logo começaram uma corrida espacial pelo estabelecimento de colônias extraterrestres e pela terraformação de planetas.
A ação do jogo se passa em Bonança, colônia nas franjas da galáxia que é considerada o único sistema inteiramente pertencente e operado por um grupo de corporações – uma espécie de utopia capitalista à la Andrew Ryan, de BioShock, que promete pleno emprego e liberdade econômica para seus cidadãos. A prática, no entanto, é bem diferente.
O jogador assume o papel de um protagonista customizável sem nome definido, despertado de seu sono criogênico pelo cientista Phineas Vernon Welles – considerado um terrorista pelo Conselho que administra Bonança. Welles logo explica ao jogador que seu personagem estava congelado junto a centenas de outros colonos a bordo da Esperança, nave que carregava algumas das mentes mais brilhantes da Terra para a colônia.
Por conta de um problema no sistema de viagem interestelar, no entanto, Esperança ficou à deriva e foi completamente abandonada pelo Conselho com seus tripulantes ainda congelados – ideia que Welles abomina e pede ajuda ao recém-acordado protagonista para reverter.
O mundo the The Outer Worlds capricha no retro-futurismo característico da série Fallout, mas foge de esteriótipos pós-apocalípticos e distópicos – mostrando uma sociedade hiper-capitalista e minimamente funcional, mas à beira do colapso. Ao longo da história, a sensação que o jogador tem é a de se estar em uma espécie de faroeste futurista – Bonança é como a antiga fronteira à oeste dos Estados Unidos, onde cada colono luta pelo seu, enquanto enfrenta as dificuldades de se viver nas franjas da civilização. Todos, é claro, organizados em diferentes facções com interesses diversos e com as quais o jogador pode interagir, virando aliado ou inimigo de acordo com suas escolhas.
Todo esse universo é também permeado por um senso de humor extremamente irônico e povoado por personagens super carismáticos, que frequentemente comentam sobre as condições longe o ideal na qual vivem em Bonança – mas sem deixar de citar o lema das companhias para qual trabalham, o que pode ser motivo de punição nas colônias do sistema.
Faça seu próprio caminho
Ao melhor estilo western, The Outer Worlds entrega todas as decisões na mão do jogador.
A liberdade que o jogador terá ao longo da aventura é algo que fica claro logo nos primeiros minutos do game, através das múltiplas opções que seu criador de personagem oferece.
Além da aparência do protagonista, é possível customizar uma série de habilidades específicas, distribuindo pontos entre habilidades de combate e habilidades sociais que vão impactar a forma como o personagem conseguirá interagir com o mundo a sua volta e com outros NPCs.
Para egressos da série Fallout e ou mesmo jogadores de Vampire: The Masquerade – Bloodlines, outra produção clássica de Cain e Boyarsky, o sistema é bastante familiar – criar um personagem com baixa inteligência vai resultar em opções estúpidas de diálogo, enquanto um personagem com alto charme vai ter bônus de carisma da hora de persuadir ou mentir para um NPC.
No entanto, o grande mérito de The Outer Worlds é, de fato, colocar esse sistema em uso: praticamente todas as missões do game podem ser abordadas de formas diferentes, deixando nas mãos do jogador a decisão sobre como resolver um problema – seja na base do diálogo, do subterfúgio ou – é claro – com o dedo no gatilho.
Melhor ainda: combate e narrativa se complementam. Para manter o jogador engajado seja qual for sua escolha durante as missões do jogo, a Obsidian criou sistemas sólidos de combate, assim como personagens bem desenhados que dão vida à narrativa.
No fronte de combate, o jogo brilha com um sistema bastante simples de tiro em primeira pessoa, mas denso o suficiente para torná-lo interessante ao jogador.
Há múltiplas opções de armas, incluindo armas corpo-a-corpo e à distância, e de armaduras, que podem ser melhoradas em bancadas de customização com novas habilidades e acessórios – incluindo dano elemental de plasma e elétrico, além de lunetas e acessórios para dar mais estabilidade aos tiros. Há também um sistema de desgaste de equipamentos, mas ele não chega a ser intrusivo o suficiente para atrapalhar a experiência de jogo.
O grande destaque, no entanto, fica por conta da habilidade de distorção temporal do protagonista, que pode reduzir a velocidade do tempo para dar tiros precisos em inimigos e aplicar debuffs – deixando-os cegos com um tiro na cabeça, por exemplo, ou incapacitados com um tiro na perna. É uma mecânica que complemente a ação em primeira pessoa bastante direta e que dá um charme a mais aos trechos de combate do título.
Ao longo da aventura, o jogador também poderá recrutar uma série de companheiros em um sistema que parece ser uma página retirada diretamente do livro de melhores práticas de Mass Effect – e sim, isso inclui algo equivalente a uma “missão de lealdade” para cada um deles.
Acompanhando o jogador sempre que ele deixa a nave Falível para navegar entre os diferentes planetas e luas de Bonança, os aliados são responsáveis por alguns dos pontos altos mais altos da história de The Outer Worlds e brilham sempre que o jogador opta pelo caminho narrativo da aventura – com personalidades diversas, os personagens comentam sobre as ações do jogador, se envolvem em diálogos com outros NPCs e fazem comentários aleatórios que dão mais vida e cor ao mundo do jogo.
Isso, é claro, aliado ao impacto destes personagens na jogabilidade, já que eles são responsáveis por melhorar algumas das habilidades do protagonista, além de melhorarem sua capacidade de carregar objetos e de, é claro, ajudarem no combate com habilidades especiais únicas.
Bem além de "sucessor espiritual"
Não é nenhuma surpresa que, desde seu anúncio, The Outer Worlds tenha sido considerado uma espécie de “Fallout no espaço”. Além de ser desenvolvido pela produtora responsável pelo ótimo Fallout: New Vegas, seus diretores são, literalmente, dois dos responsáveis pela criação da lendária franquia de RPGs.
Mas The Outer Worlds não precisa de muito tempo para mostrar ao jogador que vai muito além de um “sucessor espiritual” de New Vegas, e que é plenamente capaz de andar com as próprias pernas e de assumir sua posição como uma IP completa, com suas próprias características e charme.
Combinando uma narrativa envolvente e com inúmeras possibilidades a um combate sólido e divertido, The Outer Worlds entrega ao jogador uma experiência excelente e que pede para ser vivenciada múltiplas vezes – é um universo que estimula o jogador a explorar cada canto existente para experimentar, ao máximo, tudo que existe nas fronteiras de Bonança.
Com The Outer Worlds, a Obsidian reforça que ainda há espaço suficiente para RPGs single player "dos velhos tempos", simples e direto ao ponto. E já estamos prontos para o próximo da série.
The Outer Worlds foi testado em um PlayStation 4 padrão. O jogo chega no dia 25 de outubro para PlayStation 4, Xbox One e PC. Uma versão para Switch também é planejada, mas ainda não tem data de lançamento confirmada.