Review: Streets of Rage 4
Pancadaria da Sega volta em jogo caprichado que respeita o passado e traz muitas novidades nos controles
É muito emocionante e empolgante falar sobre um novo Streets of Rage. Ainda mais quando ele é tão bem feito e gostoso de jogar como este Streets of Rage 4.
A missão não era fácil. Fazia mais de 25 anos desde que o título mais recente da série, Streets of Rage 3, tinha saído para o Mega Drive, em 1993, e o estilo de jogo beat'em up não vinha exatamente como um dos mais populares, mesmo entre produções indie.
Ainda assim, não tinha como o projeto ter caído em mãos mais habilidosas. No comando da produção aparece a Dotemu, publisher conhecida por remasters e relançamentos de qualidade de games antigos.
No desenvolvimento em si vem o pessoal da Guard Crush Games, estúdio canadense responsável pelo antigo hit indie Streets of Fury, e também o estúdio francês Lizardcube, que trabalhou no fantástico remaster de Wonder Boy: The Dragon's Trap, em 2017.
Streets of Rage 4 entende a essência do beat'em up da Sega e traz de volta com um novo estilo gráfico, algo entre desenho animado e gibi americano dos anos 90. Os controles trazem de volta tudo que fez do estilo 'jogo de porrada na rua' um sucesso nos anos 90, mas não deixa também de atualizar e modernizar a jogabilidade e o design das fases.
Já peço perdão pelo clichê, mas o que define Streets of Rage 4 é um equilíbrio perfeito entre tradição e modernidade. É um game que respeita e homenageia o passado, mas não transforma a nostalgia em correntes que prendam e impeçam ideias novas de brilharem.
Ao longo de 12 fases da história principal é possível jogar com os veteranos Axel Stone e Blaze Fielding ou os novatos Cherry Hunter e Floyd Iraia. Cada um traz estilos únicos, como a velocidade de Blaze, a corridinha de Cherry e o agarrão duplo de Floyd.
Como é tradicional deste tipo de game, a campanha não é longa, dá pra terminar em umas duas a três horas, mas a dificuldade é alta e tem muito conteúdo para desbloquear e curtir depois, como o desafio extremo do Arcade, enfrentar só os chefões ou até um mano-a-mano mais estilo jogo de luta mesmo.
Ao longo da jornada é possível desbloquear também Adam Hunter, completando o trio de personagens do primeiro Streets of Rage, e também versões pixeladas dos brigões dos cartuchos de Mega Drive. Acredite: funciona bem e tem algo de especial e nostálgico ver aqueles sprites quadradões interagindo com os lindos gráficos 2D desenhados à mão.
Chegamos à parte visual de Streets of Rage 4. A ruptura é grande com relação ao passado e a qualidade inegável. Assim como foi com o remaster de Wonder Boy: Dragon's Trap, os gráficos desenhados à mão dão vida nova à ação, especialmente pelas animações fluidas e detalhadas.
Pode ter quem preferisse ver gráficos em estilo pixel art, mais na veia da era 16-bits, mas acho que aí é questão de gosto pessoal. Seja como for, o visual está sensacional e muito bem feito.
Fiquei muito feliz de descobrir também todo esse capricho e versatilidade nos controles. Streets of Rage é um dos icônicos máximos do gênero beat'em up, que fez muito sucesso em fliperamas e videogames no início dos anos 90, e tem um jeito específico de funcionar, um 'feeling' que precisa ser preservado.
Streets of Rage 4 faz isso com todo cuidado, mas traz também um monte de pequenas novidades e ajustes que tornam o sistema todo mais complexo e gratificante.
Dá pra carregar um ataque mais forte segurando o botão de porrada. Ao jogar uma arma em cima de um inimigo dá pra pegar ela de volta ainda no ar e voltar mais rapidinho pra ação. Ao cair, depois de ser golpeado, é possível apertar o botão de pulo antes de encostar no chão para cair de pé. Os combos então, nossa, oferecem um amplo cardápio de possibilidades, especialmente porque agora há 'juggle combos', dá pra acertar inimigos no ar.
Pode acredtar, é muita coisa e dá gosto ir descobrindo e aperfeiçoando tudo conforme se joga com cada personagem. Ah, e tudo isso em multiplayer, seja online em até duas pessoas ou no inédito multiplayer pra até quatro pessoas no mesmo aparelho.
Para completar, as fases e chefões também trazem situações empolgantes e variadas, especialmente nas interações com o jogador. Por exemplo, a luta contra um boss de uma certa fase acontece em um lugar com várias motos estacionadas que podem ser destruídas. Quebrar elas dá itens, mas também faz com que um inimigo dono da moto venha se meter no meio da luta contra chefe, dificultando a vida do jogador.
Em outros momentos você se depara com bandidos e policiais pelas ruas de fúria, mas não precisa ir direto pra pancadaria: se ficar só parado e olhando por um tempo eles vão brigar entre si e facilitar sua vida. Nãou vou comentar mais para guardar surpresas, mas é bem legal também ver como em vários momentos há referências nostálgicas, seja só uma gracinha no cenário ou mesmo alguma luta inesperada.
Não dá para falar de Streets of Rage sem falar da trilha sonora e aqui este novo episódio também dá show. O fardo é pesado de carregar, especialmente por conta de toda a qualidade e impacto que as trilhas de Yuzo Koshiro tiveram no início da década de 90, mas a tarefa é realizada com sucesso, ainda que não tome riscos nem tente inovar.
O trabalho principal é do músico francês Olivier Deriviere, mas o próprio Koshirão volta no comando de algumas composições ao lado de outros nomes pesadíssimos da game music nipônica, como a impecável Yoko Shimomura, o antigo colega Motohiro Kawashima, o pioneiro Keiji Yamagishi e Harumi Fujita.
Streets of Rage 4 é um jogo feito com muito carinho e capricho. Um game que faz valer toda a espera de décadas por um novo capítulo dessa série tão querida e importante da geração 16-bits, mas que vai muito além de se apoiar na nostalgia e traz novidades empolgantes para jogos beat'em up.