Review: Shadow of the Tomb Raider
Uma aventura maior e melhor em todos os aspectos, com exceção da história clichê
Após um reboot sensacional e uma excelente continuação que refinou muitos dos conceitos originais, a série Tomb Raider encerra essa trilogia de renascimento com Shadow of the Tomb Raider.
A aventura marca o amadurecimento completo da heroína Lara Croft, que foi de ingênua sobrevivente para uma aventureira experiente e um tanto quanto fria e egoísta, bem mais próxima da Croft vista em episódios antigos da franquia.
Desta vez a responsabilidade de desenvolvimento ficou a cargo da Eidos Montreal, dos jogos recentes da série Deus EX, enquanto a Crystal Dynamics ficou no papel de supervisão - provavelmente dedicando a maior parte de sua equipe para a produção do game dos Vingadores.
Shadow expande todos os elementos de sucesso vistos no reboot e em Rise, equilibrando melhor os trechos de tiroteio e exploração. Porém, acaba sofrendo também com alguns excessos e quase deixa a peteca cair em relação à história. Felizmente, o saldo ainda é positivo.
A nova aventura é ambientada nas selvas da América do Sul e coloca Lara mais uma vez no encalço da Trindade, poderosa organização secreta que tem servido de antagonista desde o reboot.
Guiada pela ganância, nossa heroína coloca as mãos em um artefato mágico que desencadeia o início do apocalipse. Cabe a ela dar um jeito na situação antes que os rivais da Trindade façam o mesmo, mas em benefício próprio.
Tudo que funcionou nos games anteriores volta maior e mais bonito. Os cenários são vistosos e repletos de detalhes, especialmente em relação à iluminação, que dá contornos mais intensos e dramáticos a explorações na selva, em cavernas escuras e até debaixo da água.
Mais uma vez a jornada intercala trechos lineares ao estilo Uncharted com áreas abertas para exploração e cheias de segredos para descobrir. Encontrar esses itens é duplamente gratificante, já que permite vislumbrar ainda mais dos belos cenários de Shadow, mas também concede mais pontos de experiência e materiais para Lara adquirir novas habilidades e melhorar equipamentos.
No entanto, neste aspecto já acontece um certo excesso desnecessário: é muito grande a quantidade de materiais para criar itens, como flechas, medicamentos e combinações de ervas para efeitos adicionais como aumentar a defesa (aliás, uma novidade do game). Ao mesmo tempo, a oferta é gigantesca, Lara Croft praticamente não para de pegar coisas pelo cenário conforme avança pelas fases. Talvez fosse mais interessante uma experiência otimizada, com menos coleta de matéria-prima para poder apreciar mais os cenários.
Achei especialmente recompensador ver também que os trechos de exploração são a maior parte do jogo, entre campanha principal e missões paralelas, e as partes de tiroteio aparecem com menos frequência e agora contam com mecânicas de furtividade aprimoradas. No passado, o reboot e Rise também traziam ótimas jornadas, mas repletas de sequências cansativas de tiroteios medíocres sem muitas alternativas para vencer os inimigos.
Lara Croft agora dispõe de arsenal expandido de movimentos e armas para eliminar adversário de forma sorrateira. Seja se escondendo na lama ou usando flechas alucinógenas, que colocam os inimigos para lutar entre si, o fato é que depender das trocas de tiros é algo muito menos frequente e, quando acontece, apresenta controles mais precisos e menos incômodos.
Por sua vez as tumbas de desafio chegam ao ápice nesta produção. Não digo apenas pelo visual absolutamente único e envolvente de cada uma, mas também pela maneira como tudo isso se entrelaça com os puzzles de cada lugar, que usam de forma criativa a própria física do jogo, como cordas e ventanias.
Enquanto toda a parte técnica evoluiu de forma impressionante, o mesmo não pode ser dito da história. Os dois jogos anteriores focaram em arcos pessoais de Lara Croft, primeiro apresentando a personagem e depois trabalhando alguns dilemas íntimos da personagem, especialmente em relação à própria família, mas Shadow of the Tomb Raider se distancia da protagonista e nisso perde muito do impacto.
O roteiro é clichê e apela para o tradicional cenário de fim do mundo, com um item místico perdido que deve ser encontrado para resolver a treta. O que se vê é um desfile de cenas muito familiares de Indiana Jones, Uncharted e até mesmo de outros Tomb Raider, mas com um outro agravante: Lara não é mais uma personagem tão carismática.
A princípio, parece que a história vai lidar com a frieza da moça, endurecida pelos traumas das aventuras anteriores, mas o drama é raso. Os dilemas impostos na excelente primeira hora de jogo logo são deixados de lado e o que se vê é uma personagem inconsistente. Em boa parte dos acontecimentos Lara é puramente egoísta e age em interesse próprio, mas quando convém para a trama ela volta a ser a heroína benevolente e inocente do passado. Fica difícil ter empatia com uma personagem inconstante assim e a consequência é uma história com menos peso e importância para quem joga.
Ao menos, foi mantido o fenomenal trabalho de localização iniciado em Rise. A atriz Fernanda Bullara mais uma vez dá voz a Lara Croft, em um excelente trabalho de interpretação ao lado de muitos outros profissionais talentosos - incluindo algumas vozes bem conhecidas de outros jogos, filmes e desenhos animados.
Outro detalhe interessante é a imensa quantidade de opções presentes no game, para configurar a experiência e a dificuldade a gosto do freguês. É possível, por exemplo, aumentar a dificuldade da exploração ao desativar as pistas visuais pelo cenário (como a tinta branca em algumas paredes que indica onde é possível escalar). Os combates podem ficar tensos ao desligar o instinto selvagem de Lara, poder que permite destacar os inimigos no cenário e conferir se abater ele vai chamar ou não atenção de outros inimigos. Desligar todas as assistências resulta em uma dificuldade feroz e desafiadora, ótima para apimentar uma segunda rodada na campanha principal.
Shadow of the Tomb Raider é um excelente exemplo de 'mais do mesmo, maior e melhor'. O que funcionou no passado volta ainda mais bonito e exuberante, como os cenários de natureza e ruínas cheias de segredos e itens, assim como as incríveis tumbas de desafios. Os combates ganharam mais opções, com grande foco no stealth, a localização segue excelente e há uma infinidade de opções para configurar a experiência como preferir. Pena que a história tirou o foco dos dramas pessoais de Lara, optando por algo mais grandioso, mas também batido e sem grandes novidades.
O resultado é uma experiência que vai agradar em cheio e ocupar muitas e muitas horas de quem gostou bastante do reboot e de Rise of the Tomb Raider.
Rise of the Tomb Raider está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One. O jogo foi testado em um PS4 padrão. Clique no nome da plataforma para conferir o preço em sua versão digital.