Review: Phoenix Springs brinca com seu cérebro de várias formas
Game de estreia do Calligram Studio traz mistérios complexos e arte impecável
Sabe quando você tá vendo um filme, uma série, ou até um jogo e não entende absolutamente nada do que tá rolando, mas ainda assim gosta do resultado final? Phoenix Springs, jogo de estreia do Calligram Studio, transmite uma sensação assim. Misturando point and click com uma investigação que vai para rumos definitivamente inesperados, o game brinca com seu cérebro em várias maneiras.
O início parece simples: você controla Iris Dormer, jornalista consagrada que se vê em uma missão para encontrar Leo, seu irmão desaparecido. O game avança de acordo com suas interações com o cenário, que sempre acontecem dentro de três comandos — Conversar, Usar e Olhar.
A mecânica aparentemente trivial se soma a um inventário nada comum. Aqui, ao invés de poções ou itens em seu repertório, Iris é munida de palavras e termos específicos ligados à sua investigação. Logo na primeira sequência, por exemplo, após clicar para Usar um computador, o jogador tem de selecionar o termo Leo Dormer e combiná-lo com o terminal de busca para tentar descobrir mais sobre o irmão da protagonista.
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Essa lógica é mantida por todas as poucas horas do game, que pode durar até menos de duas horas para os mais perspicazes, e se estender bem mais do que isso para quem não se encontrar na investigação. Para além dos comandos e interações com objetos, nada em Phoenix Springs é óbvio, e isso vale tanto para as formas de avançar na história, quanto para o que acontece ao redor.
Brincando com uma ambientação que lembra bastante algumas obras da ficção científica, a história de Iris mistura elementos comuns do dia-a-dia contemporâneo com um pouco de retrô e algumas tecnologias que simplesmente não existem no mundo real. Muitos elementos são esquisitos e podem não fazer sentido à primeira vista, mas cabe ao jogador abraçar essa estranheza para embarcar de vez na história.
Diálogos que podem não fazer nenhum sentido, e às vezes serem até frustrantes, são comuns no jogo, assim como cenários psicodélicos e NPCs que parecem ter saído diretamente de um filme de Yorgos Lanthimos.
Felizmente, se acostumar com tudo isso não é um grande desafio, e muito dessa facilidade vem por conta das belíssimas escolhas artísticas. Usando poucas cores, as animações desenhadas à mão são sempre impactantes; a voz serena de Iris — a única que ouvimos ao longo do game — também ajuda a manter a imersão, junto da trilha sonora.
Estamos falando de um produto feito por um estúdio que se autodenomina como um coletivo artístico, afinal, e Phoenix Springs faz jus à essa definição. Por outro lado, arte não é tudo que importa em um game, e é olhando por esse prisma que o jogo mostra alguma fraqueza.
Essencialmente, Phoenix Springs é um jogo difícil. Entender os caminhos que Iris deve seguir para avançar não é nada óbvio ou intuitivo; repetição e insistência são necessários para conseguir chegar ao fim da história.
Por um lado, conseguir completar uma parte da investigação é recompensante e te faz se sentir muito bem. Por outro, quando alguns cenários mais extensos se apresentam, andar de um lado para o outro sem saber direito o que se está procurando toma muito tempo e gera alguma frustração.
Não é um problema que estraga a experiência, e para os menos pacientes, há um walkthrough com todos os passos necessários para terminar o jogo já disponível no site oficial do Calligram Studio. Ainda assim, o game não perderia sua profundidade se algumas fases fossem um pouco mais contidas em sua exploração.
Phoenix Springs é mais um ótimo jogo independente de estreia em 2024, que já nos presenteou com nomes como Animal Well, Balatro e Plucky Squire — todos são os primeiros jogos de seus respectivos estúdios. O estilo de arte único e o discreto sci-fi ditam o ritmo de uma jornada curta, mas que te faz refletir por bastante tempo.