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Review: Neva traz uma jornada emocionante e cheia de desafios

Novo game do estúdio de Gris tem a maternidade e a destruição do meio ambiente como temáticas principais

Por Amanda Seraphim 14.10.2024 13H49

Se você se emocionou com Gris,então Nevanovo título do Nomada Studio, vai ser uma experiência nostálgica. Neva conta com o mesmo estilo de arte que consagrou seu antecessor e alguns puzzles de plataforma familiares. Mas a jornada da jovem Alba conta com elementos novos, como um sistema de combate e um companheiro de viagem que é bem mais do que só um acompanhante.

A história já começa sentimental e em tom de urgência, Alba e sua incrível loba tem que enfrentar uma força escura devastadora, que acaba por matar o animal. A protagonista então adota Neva, o filhote de lobo agora órfão.

Os capítulos são divididos em estações do ano, e como a maioria das metáforas do tipo, é meio esperado o que acontece em cada uma delas. Começando no verão, Neva é ainda muito pequena para se virar sozinha e depende de Alba para protegê-la e confortá-la em situações de perigo.

À medida que as estações passam, a loba cresce e novas mecânicas de gameplay surgem até Neva se tornar adulta e passar a ajudar no combate. Esse, que é o grande diferencial em relação a Gris, consegue ser simples, mas as variedades de inimigos e alguns chefes, faz com que o jogo tenha uma dificuldade a mais, resultando em algumas lutas épicas. Inicialmente usando apenas uma espada, Alba passa a conseguir usar Neva para imobilizar alguns inimigos e atingir alvos mais distantes, o que ajuda também em alguns puzzles.

Uma boa parte do jogo ainda é composta por elementos de plataforma, que são bem familiares e seguem o estilo já utilizado pelo estúdio. Em alguns momentos importantes, há dois caminhos a seguir para resgatar umas bolinhas brilhantes que desbloqueiam o caminho para a próxima fase. Além disso, o jogo propõe alguns desafios de pulos espelhados, plataformas invisíveis ou que mudam de posição, e obstáculos com tempo.

Sobre a arte encantadora do jogo, é incrível a escolha de cores e a mudança das estações. Começando em um verão, no qual a natureza exuberante está em seu maior potencial, o primeiro capítulo do jogo é pintado de verdes e rosas. O cenário muda rapidamente de cor ao encontrar um inimigo poderoso, escurecendo e perdendo a saturação.

Durante o outono, o laranja e o amarelo dominam, mas em alguns momentos de maior tensão, passamos por cenários vermelhos e até em preto e branco. Em Gris, as cores desempenham um papel fundamental na narrativa da história e Neva segue o mesmo direcionamento. Mais do que apenas refletir as estações do ano, elas simbolizam estados emocionais, transmitindo uma mensagem poderosa.

Algumas inspirações nos filmes do estúdio Ghibli são notáveis. A mais óbvia é a protagonista e seu lobo, lembrando o filme da Princesa Mononoke. Mas além dos personagens principais, os animais gigantes, os javalis e até mesmo a luta contra forças que destroem a natureza são bastante similares à animação. A Viagem de Chihiro também parece ter sido inspiração, mais especificamente os inimigos do jogo, que lembram muito o Sem Rosto.

E não dá para jogar Neva sem pensar em sua mensagem. Em Gris, temos uma protagonista enlutada pela perda da mãe, uma história que está sutilmente colocada no jogo e pode passar despercebida por algumas pessoas.

Já em Neva, temos a mesma sutileza em uma história sobre maternidade, o ciclo da relação mãe-filha e o quanto essa relação se modifica à medida que o tempo passa. Enquanto criança, Neva é dependente de Alba. Porém, quando adolescente, ela passa a ser mais rebelde, se afastando algumas vezes. Ao se tornar adulta, ela passa a ter mais responsabilidade e a criar uma identidade e independência, até se apaixonar e sumir por um capítulo.

Divulgação/Devolver Digital

Sem colocar uma interpretação definitiva porque o jogo deixa muito aberto ao imaginário, mas, do ponto de vista feminino, acredito em um possível significado da história. Alba parece representar o conceito de “mãe”, sendo Neva sua filha, que cresce, amadurece e se desenvolve.

Quando a pessoa se torna mãe, uma parte da individualidade se vai e ela deixa de ser ela mesma, tornando-se a figura da “mãe”. Essa é uma representação metafórica da transição da individualidade para uma figura materna, que vive e se dedica aos filhos. É claro que isso não representa todas as mães do mundo, e não passa de uma interpretação pessoal, mas não deixa de ser um significado bonito.

E voltando a Princesa Mononoke, a luta e a sobrevivência em um mundo devastado por mudanças climáticas e a intervenção do homem também fazem parte da temática. Alba e Neva tem que lidar com mais do que apenas a sua relação, pois o mundo à volta delas as oprime constantemente e as força a lutar e seguir em frente. Juntas, elas conseguem derrotar os inimigos em seu caminho e até reverter a destruição do mundo ao seu redor, dando um raio de esperança que é apagado logo após o nascimento de Bruma em que o ciclo de destruição recomeça.

Neva é uma jornada bela e emocionante, cheia de cenários incríveis e personagens cativantes. A história é capaz de engajar desde o primeiro minuto, mesmo sem usar palavras e consegue evocar emoções usando cores e sons. O combate traz um diferencial interessante e nos faz engajar e aproximar da vida desses protagonistas além de ser uma evolução em relação à Gris. No geral, Neva tem todos os atributos para ser um ótimo jogo para curtir em uma tarde despreocupada: curto, não muito complexo e com uma história impactante.

 
Nota do crítico