Review: Marvel's Midnight Suns diverte mesmo sem história para contar
O jogo da Firaxis é rico em interações para fãs de quadrinhos e heróis, além de oferecer escolhas interessantes para um personagem inédito
Para fãs de quadrinhos, universo cinematográfico e mais, qualquer conteúdo da Marvel gera interesse. Com Marvel’s Midnight Suns não é diferente. Com versões diferenciadas de hoje ícones da cultura pop e um personagem inédito, o jogo da Firaxis traz o espírito de XCOM para um cenário cheio de poderes especiais, piadas, dramas dos mais clichês, frases de efeito, roteiro fraco e tudo que uma boa história de heróis demanda.
Um avatar para chamar de seu (ou nem tanto)
Desde seu anúncio, a premissa básica de Marvel’s Midnight Suns sempre foi a de contar uma história inédita na qual o jogador pode se projetar na pele de The Hunter. O novo herói ou nova heroína personalizável, de fato, é uma chance de integrar o universo com o próprio avatar.
De fato, a ideia é simpática e, em determinados momentos, faz jus ao vendido pela Firaxis. Nos trechos iniciais do game, The Hunter é apresentado a locais, personagens, sistemas e dinâmicas junto ao jogador, disfarçando fases introdutórias e provocando um sentimento de pertencimento.
Assim sendo, tudo cai por terra quando levamos em conta que, embora The Hunter sirva para representar um avatar do jogador, o personagem já tem um passado e sua própria história. Apresentado como filho ou filha de Lilith, o herói morreu em uma primeira luta contra a vilã centenas de anos antes dos acontecimentos do jogo e foi revivido.
Nada disso é necessariamente um problema, mas não há como “ter as próprias escolhas” quando isso envolve decidir o que um personagem que já possui uma história irá dizer. Um guerreiro de 300 anos não faria piadas sobre tecnologia com Tony Stark, por exemplo.
Escolhas de diálogo podem não oferecer tanta “liberdade”, mas além do relacionamento com os personagens, The Hunter pode ter a personalidade moldada pelo jogador o que reflete diretamente nas habilidades que podem ser usadas em combate. Esse aspecto sim oferece consequências mais palpáveis às decisões tomadas em diferentes interações.
História apagada, mas com personagens brilhantes
O enredo do jogo não está diretamente relacionado a The Hunter, obviamente, o personagem existe e é considerado o único que pode lidar com a vilã Lillith, mas quem de fato faz as coisas acontecerem é a organização Midnight Suns, que conta com a Zeladora, Blade, Niko Minoku, Magia e o Motorista Fantasma.
No início da história, Homem de Ferro, Dr. Estranho e Capitã Marvel se juntam à equipe e a história se desenrola à medida em que Hydra e Lillith trabalham juntos como vilões sem profundidade que servem apenas para colocar mais personagens icônicos na tela como Venom, Dentes de Sabre, Hulk, Feiticeira Escarlate, Homem-Aranha, Wolverine e mais.
Todos esses heróis e vilões possuem suas relações que são trazidas à tona durante combates e breves trechos cinematográficos, mas não escondem o enredo indiferente reduzido à batalhas que lembram o modelo “monstro da semana” no qual nenhuma ação tem grandes consequências e tudo se resume ao próximo episódio, que trará um inimigo diferente.
O charme real de Midnight Suns está nos relacionamentos entre personagens e de todos os heróis com The Hunter. Embora não existam motivos narrativos para continuar essa jornada, o fato de novas interações serem desbloqueadas com o avançar dos capítulos é justificativa suficiente.
The Hunter pode se relacionar diretamente com heróis no quartel general da organização, a Abadia, e é aqui que toda a riqueza na escrita se faz presente. Com o decorrer do jogo, diferentes opções de “socialização” são disponibilizadas e essas envolvem uma noite de filmes, um jogo de xadrez, um passeio pelo jardim, todas atividades que aumentam a intimidade do jogador com os companheiros de equipe e podem desbloquear ações diferentes no combate.
Essas interações possuem ricos diálogos para fãs de quadrinhos e Marvel no geral, Tony Stark e Dr. Estranho fazem piadas envolvendo Wilson Fisk, Magia comenta sobre o restante dos X-Men e por aí vai. De fato, essas conversas são o que dão vontade de seguir em Midnight Suns, mais do que o enredo propriamente dito.
Diferente de XCOM, de um jeito positivo
O legado de XCOM está muito presente na jogabilidade de Marvel’s Midnight Suns, mas de um jeito diferente. Deixamos de lado apenas ataques simples e posicionamento em prol de arenas menores, 100% abertas com mais maneiras de interagir.
O combate guiado por cartas como habilidades é um ponto extremamente positivo. Oferecer diferentes mecânicas de acordo com o perfil dos personagens e misturar isso com formas de usar o ambiente gera um resultado agradável. Mesmo sem jogadas disponíveis, é possível se mover pelo campo de batalha e até usar um medidor de “heroísmo” para usar itens no cenário para continuar lutando contra inimigos, fazendo-nos sentir realmente como heróis poderosos.
Nos primeiros trechos do game, tudo parece refrescante. Em uma missão precisamos apenas derrotar inimigos, em outra recobrar um artefato da Hydra, em outro proteger um ponto, interromper a fuga de um alvo e por aí vai. A mistura de todos esses fatores realmente faz o jogador se sentir em meio à uma aventura cheia de ação na qual tudo é realmente urgente.
Assim sendo, evoluir as cartas de cada herói, pensar nas melhores sinergias e priorizar objetivos ataca a adrenalina, heróis como Capitã Marvel se transformam no auge do conflito, The Hunter pode usar curas para salvar aliados prestes a cair e afins.
Porém, não demora para tudo se mostrar repetitivo. Venom, por exemplo, aparece como um grande inimigo amedrontador e intimidador, na segunda aparição do Simbionte, o jogador já domina os sistemas de combate e o que é necessário fazer para cumprir o objetivo, fazendo tal sentimento sumir.
Marvel’s Midnight Suns é um jogo que diverte até determinado ponto, de fato, encarnar um herói inédito e poder se projetar em um universo junto de seus heróis pode realizar o sonho de muitos jogadores, mas “cair na mesmice” é quase inevitável.
O enredo abafado por indiferença e combate que se torna repetitivo não trazem entretenimento duradouro para jogadores de Marvel’s Midnight Suns, assim como a proposta de criar um avatar próprio se mostra sem sentido quando o personagem já possui o próprio passado. Ainda assim, o jogo diverte e traz rico conteúdo em forma de interações entre heróis que podem fazer fãs de quadrinhos e filmes da Marvel saírem com olhos brilhando.
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