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Review: Grounded encanta com quintal criativo e surpreendentemente assustador

Sobreviver à experiência de “Querida, Encolhi as Crianças” é uma tarefa desafiadora e instigante

Por Helena Nogueira 12.10.2022 17H00

Não acompanhei a evolução de Grounded durante o período de Acesso Antecipado. Disponibilizado em julho 2020, a fase de teste permitiu que os jogadores explorassem o quintal criado pela Obsidian por mais de dois anos até o jogo ser lançado oficialmente, no último dia 27 de setembro. 

Durante todo esse tempo, o título de sobrevivência recebeu novas áreas, sistemas e inimigos — mas os adendos não foram suficientes para capturar minha atenção. 

Reprodução: Obsidian Entertainment

A experiência inspirada por “Querida, Encolhi as Crianças”, em que é necessário controlar quatro crianças para sobreviver a um jardim e retornar ao tamanho normal, não era atraente no começo. Contudo, bastou começar a jogar para entender o apelo. 

Se der uma chance, você vai descobrir uma experiência surpreendente no quintal. 

Grounded facilmente pode ser classificado como um dos melhores jogos de sobrevivência dos últimos anos. Mesmo com uma história desinteressante, encarar o estonteante mundo do jardim encanta pela criatividade e pelos elementos surpreendentemente assustadores. 

Um mundo no quintal de casa  

Reprodução: Obsidian Entertainment

O fator sobrevivência, completo com o DNA de RPG da Obsidian, é, com certeza, o que mais brilha na experiência. É necessário avançar na progressão de personagem ao estudar coletas (ao som do hilário efeito sonoro que diz: “science!”), construir estruturas para se afugentar à noite e enfrentar os insetos gigantes tenebrosos que assolam as diferentes regiões do mundo (seja sozinho ou em co-op com outros três amigos). 

Mas, antes de tudo, você precisará vasculhar o quintal em busca de materiais para criar e aprimorar ferramentas e itens. Principalmente nas primeiras horas, essa é a principal tarefa. Aliás, mesmo que se torne algo indissociável do gameplay, a busca por novos itens nunca se torna cansativa.

O sentimento genuíno de descoberta é constante. Há um equilíbrio satisfatório entre encontrar um inseto agressivo ao atravessar um conjunto de troncos e, depois, encontrar uma lata de refrigerante vazia que, sob o novo ângulo, se torna o refúgio ideal para a noite. 

Foi interessante perceber que, ao contrário de outros jogos de mundo aberto, os elementos que guiam a curiosidade do jogador estão dispostos na vertical. Em Zelda: Breath of the Wild, por exemplo, sinais de fumaça e construções no horizonte nos incentivam a ir naquela direção. 

Reprodução: Obsidian Entertainment

Já em Grounded, me peguei olhando para cima constantemente para enxergar onde se encontra a torre de experimentos mais próxima. Esse pequeno detalhe mostra o brilhantismo da Obsidian em proporcionar um mundo gigantesco em relação ao jogador, ao mesmo tempo que torna a exploração fluída ao manter pontos de interesse constantemente no campo de visão do personagem. 

No mundo do quintal, há muito o que se fazer e descobrir. É possível soltar a criatividade para expandir sua base até que se torne o próprio triplex da árvore, conectar o jardim com tirolesas e trampolins para facilitar a movimentação ou se aventurar por dungeons completas com puzzles e boss fights. 

Mesmo em um mundo tão vasto, quase não há NPCs para conhecer. Mas, tudo bem. No fim das contas, não foi exatamente a história que me prendeu em Grounded — foi a experiência extremamente solitária, hostil e inóspita de explorar o mundo.

Terror aracnofóbico

Reprodução: Obsidian Entertainment

Seja jogando em primeira ou terceira pessoa, o combate de Grounded é básico. Há armas de combate corpo-a-corpo e à distância, sendo possível alternar a tática de ataque dependendo do perigo a ser enfrentado. Fora isso, há o recurso de parry, que, caso aperfeiçoado, permite criar aberturas na investida adversária. 

Sabendo que cada inimigo possui pontos fracos e características diferentes, aprimorar as armas se faz necessário para fazer frente aos terrores do quintal. E é justamente a variedade de horrores presentes no jogo que torna enfrentá-los tão legal, ainda mais na companhia dos amigos. 

Jogando com um segundo jogador em multiplayer online, fui encarar umas das primeiras aranhas encontradas na área inicial, escondida atrás de sua teia na abertura de um tronco.

Fui à frente para derrubar as oito pernas com machadadas, e meu companheiro ficou à distância para disparar flechas. Neste e em outros momentos, foi impossível conter as expressões de pavor e as risadas ao sermos superados pela intimidadora criatura de novo e de novo até, enfim, conseguirmos a vitória. 

Reprodução: Obsidian Entertainment

Ser derrotado no campo, inclusive, significa perder a mochila e, com ela, todos os materiais que o personagem estava carregando. Sendo assim, voltar para a base de mãos vazias se tornou o momento de repensar minha estratégia e entender quais itens precisavam ser aprimorados. 

Após reabastecer meus recursos e me preparar, aí sim voltava para encarar a batalha novamente — e esse ciclo permaneceu divertido. Afinal, o perigo ainda estava lá, e eu precisava dar um jeito de superá-lo. Mesmo que esse processo pareça irritante e difícil em um primeiro momento, o desafio tem potencial para logo se tornar satisfatório. 

Para além da variedade de insetos tenebrosos, a Obsidian teve sucesso em estabelecer uma ambientação que por si só é opressora para uma criança encolhida. 

O quintal é uma verdadeira selva de terrores: uma churrasqueira tombada é uma montanha vulcânica flamejante, uma fonte habitada por uma carpa koi proporciona uma recriação horripilante do filme Tubarão e uma lata de inseticida furada é responsável por criar uma nuvem de toxinas que transforma todos os insetos da área em mutantes.

A abordagem é, justamente, transformar coisas que parecem pequenas e banais em criaturas assassinas e estruturas difíceis de se escalar. 

Sob essa perspectiva, o quintal se torna um mundo vivo e selvagem em que é comum testemunhar formigas gigantes despedaçando carrapatos na sua frente. 

E, por falar nisso, talvez nada no jogo tenha me arrepiado mais do que explorar o jardim à noite, ouvir o som de galhos se partindo e avistar olhos vermelhos me observando à distância. Fica o apreço à ótima mixagem de áudio, por sinal. 

Reprodução: Obsidian Entertainment

Para aqueles que possuem aracnofobia, há um modo disponível no menu principal que permite atenuar a forma dos aracnídeos. Com uma barra de rolagem, o jogador pode ajustar o quão real quer que os insetos pareçam, podendo ser diminuída ao ponto de aranhas se tornarem duas esferas de olhos vermelhos — igualmente mortais.

Tropeços na jornada

Por mais divertida que seja a jornada no quintal, tropeços existem. Por exemplo, para um jogo que tem o gerenciamento de recursos como algo fundamental, o inventório de Grounded é frustrantemente pequeno. O mundo é repleto de materiais para minerar e, mesmo assim, não há como expandir o inventário de forma considerável. 

Reprodução: Obsidian Entertainment

Pior talvez seja perder mochilas e itens derrubados por acidente por ser difícil localizá-los de novo. Ao morrermos, surge, sim, um marcador no mapa que aponta onde a mochila ficou. Contudo, ao se aproximar da área, não há nada que destaque os itens no chão, o que torna essa busca, ainda mais à noite, uma tarefa mais frustrante do que deveria ser.   

Assim como relatado pelos jogadores no Acesso Antecipado, Grounded ainda está infestado por alguns bugs visuais. Na minha jogatina, por exemplo, pude me safar de duas aranhas após elas ficarem presas na superfície de um tronco tombado, o que se tornou a oportunidade perfeita para derrotá-las sem dificuldades. Também notei texturas que piscam e a câmera saindo de eixo subitamente.

Educação e brincadeiras no quintal

Reprodução: Obsidian Entertainment

Grounded é um jogo de sobrevivência inovador e bem elaborado, além de se destacar também pelo viés educacional, podendo ser ainda mais atraente para crianças. 

Há até mesmo uma “Pokédex”: com a visão de “binoculo”, é possível captar e “colecionar” as diferentes espécies de insetos, catalogando informações sobre os diferentes seres do quintal. A experiência possui até mesmo um lado ecológico, visto que é capaz de demonstrar quanto de espaço uma lata de Coca-Cola ou uma embalagem de Tic-Tac ocupa no solo. 

Com visual simples que destaca a beleza dos biomas ao mesmo tempo em que torna a experiência otimizada, Grounded oferece potencial para centenas de horas de muitas brincadeiras no quintal — ainda mais se a Obsidian continuar a alimentar o jogo com novo conteúdo, como fez no Acesso Antecipado. 


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Nota do crítico