Atualmente, Monster Hunter pode ser considerada uma das franquias de maior sucesso da Capcom, ficando atrás apenas de Resident Evil em número de vendas, e com um impacto maior do que Devil May Cry e talvez até de Street Fighter na cultura da empresa.
Esse feito impressionante é reflexo de um processo de evolução de mais de uma década e meia de existência. Não necessariamente de um mesmo formato, mas de uma marca que se aventurou muito além das fronteiras da série principal, trazendo para novos títulos muito do aprendizado de outros nichos.
Sendo assim, com o lançamento de Monster Hunter Rise cada vez mais próximo, por que não lembrar como a franquia evoluiu, desde suas origens humildes no PS2 até finalmente atingir o nível tão sonhado de sucesso fora do Japão?
O primeiro Monster Hunter, lançado para PlayStation 2 em 2004, recebeu em geral críticas medianas, especialmente no mercado ocidental, o que muito provavelmente contribuiu para o sucesso limitado dos jogos principais da série fora do Japão, que eram principalmente lançados para as plataformas da Sony e Nintendo.
Ainda que alguns spin-offs da série fossem lançados para Xbox e PC, a série principal foi exclusiva da Sony até 2009, com Monster Hunter e Monster Hunter 2 chegando majoritariamente para PlayStation 2, com versões adaptadas para o PSP. A partir de 2009, a Capcom aparentemente passou a focar em versões para consoles da Nintendo, refletindo o sucesso estrondoso tanto do Nintendo Wii quanto Nintendo 3DS.
Por mais que a série principal também tivesse versões em inglês para essas plataformas, por muitos anos a série simplesmente não atraia um público fora do Japão - o que, pela lógica, não a tornava economicamente interessante para produzir muitos jogos multiplataforma, especialmente se a plataforma em questão não tivesse uma boa saída no mercado japonês.
Ainda hoje, a popularidade de computadores pessoais pensados para jogos é baixa no Japão se comparado ao resto do mundo, principalmente pela questão do espaço necessário para se ter um PC em casa. Já os consoles da Microsoft nunca foram exatamente populares em terras nipônicas, com o Xbox 360 chegando a 1,6 milhão de unidades vendidas. Para se ter uma noção, o Game Gear, portátil da Sega de 1990, vendeu 1,8 milhão de unidades, e os números do X360 são cerca de 10 vezes menos que o Nintendo Switch.
A bem da verdade é que a tendência de títulos multiplataformas é relativamente recente na história dos consoles, por cada plataforma (ao menos no passado) dispor de arquiteturas de hardware bem diferentes umas das outras. Isso começou a se afunilar ao ponto que chegamos nos dias de hoje, mas até então a saída da Capcom para manter a popularidade de Monster Hunter entre as comunidades foi garantir que, ainda que a franquia principal fosse limitada aos consoles que fossem mais populares no mercado japonês, times criativos diferentes pudessem criar spin-offs e versões remasterizadas, explorando não apenas hardwares diferentes mas gêneros diferentes.
Tudo isso acabou servindo de aprendizado e experiência acumulada para criar e adaptar as mecânicas que funcionavam nos títulos principais.
A aventura por esses diferentes conceitos possibilitou que, no período entre 2005 e 2010 quando os MMORPGs estavam em seu auge e praticamente todas as marcas queriam um pedaço desse bife, Monster Hunter ganhasse seu próprio MMO, intitulado Monster Hunter Frontier Online. Lançado originalmente para Windows em 2007, o jogo chegou ao 360 em 2010 sob o nome mais simplório Monster Hunter Frontier Z, com a versão atualizada exclusiva para o público japonês em 2013, o Frontier G.
Enquanto os jogos principais da série apostavam seguro ao implementar apenas uma ou outra função nova entre um título e outro, os spin-offs serviam de celeiro para testar os limites das tendências mais populares em cada geração, seguindo dessa forma até 2018.
Foi nesse ano que a série, até então um RPG de ação focado em sobreviver em um mundo onde praticamente tudo o que se move e é maior do que você vai tentar te matar, estava pronta para se consagrar mundialmente, aplicando praticamente tudo que deu certo das séries principal e secundárias em seu primeiro jogo multiplataforma, Monster Hunter World.
Diferente de praticamente todas as gerações anteriores de consoles, que possuíam hardwares incrivelmente específicos e, portanto, requeriam kits de desenvolvimento extremamente adaptados e únicos, tanto o Xbox One quanto o PlayStation 4 já contavam com essencialmente o mesmo hardware, salvo alguns detalhes devido tecnologias proprietárias de uma ou outra fabricante.
Por isso, Monster Hunter World é resultado dessa junção de mais de uma década de aprendizado com a possibilidade de lançar um mesmo jogo, sem muitas modificações no maior número de plataformas domésticas de jogos. Essa acessibilidade acabou o tornando o Monster Hunter mais vendido de todos os tempos, além de elevar a série ao patamar de segunda franquia mais vendida da Capcom como um todo, atrás apenas de Resident Evil e suas 105 milhões de vendas.
Dos 65 milhões de cópias vendidas de Monster Hunter desde seu surgimento em 2004, aproximadamente 17 milhões de unidades foram só de Monster Hunter World, com mais 7 milhões de unidades da expansão Iceborne, mais de um terço da marca total da franquia, e até o momento sua sequência tem potencial para superar essa marca mesmo sendo, pelo menos temporariamente, exclusivo de uma única plataforma doméstica.
Monster Hunter Rise, que chega dia 26 de março, apesar de inicialmente ser exclusivo do Nintendo Switch, que a este ponto conta com 80 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, permitindo tranquilamente que mesmo antes do lançamento para PC planejado para 2022, Rise já tenha as armas necessárias para derrubar o título de World e ameaçar o primeiro lugar da casa, Resident Evil.
Tudo bem, a expectativa por Monster Hunter Rise não se compara à de Resident Evil Village, mas de forma alguma isso diminui os feitos impressionantes de uma das séries da Capcom que mais evoluiu na última década e meia, e agora uma das mais acessíveis com versões excelentes inclusive para dispositivos móveis, como Monster Hunter Stories, originalmente para o 3DS mas que possui uma versão para Android que sai por R$ 66,99 - que, apesar do preço elevado para um título para celular, é uma versão excelente, entregando uma experiência Monster Hunter completa sem esconder a sua progressão atrás de uma paywall de poucos dinheiros a cada dez minutos que, no fim do mês, te faria gastar quase o valor de um triplo AAA.
Quando perguntado sobre qual jogo da franquia é a melhor porta de entrada para quem nunca jogou, minha melhor resposta é: “a que for mais acessível para você”.
Qualquer um dos títulos é excelente dentro das limitações dos hardwares de sua época, e, posto isso, qualquer versão trará uma experiência divertida de exploração e aventura. Isso posto, Monster Hunter World continua sendo o mais democrático dos títulos, custando R$ 110 na Steam já com a expansão Iceborne, sendo dessa forma o melhor que esse universo tem para oferecer - pelo menos até dia 26 -, e tem tanto conteúdo para se explorar que provavelmente até você terminar tudo já é possível que Rise tenha chegado para PC, ou ao menos aparecido em alguma promoção relâmpago da eShop do Switch.
Para quem não dispõe de um PC muito potente, fica a menção honrosa de Dauntless, que não é Monster Hunter, mas é uma versão com claras inspirações (para não dizer adaptações diretas) do universo da Capcom, e que é gratuito para todas as plataformas com possibilidade de compartilhar progresso entre elas.
Dauntless é bem mais simples e menos polido, mas para quem nunca testou absolutamente nada de Monster Hunter… Primeiro, debaixo de qual pedra você esteve nos últimos quinze anos? E segundo, tudo o que você experimentar (e gostar) em Dauntless, Monster Hunter entrega mais, melhor, mais bonito e, novamente, por um preço único sem que seja necessário jogar mais dinheiro na sua tela cada vez que você parar de progredir. Basta ter paciência, astúcia e perseverar, que eventualmente esse desafio cai por terra e você pode se deleitar com os espólios que vão passar a compor suas novas armas e armaduras.