Em um abalo sísmico para a indústria de games, a Microsoft anunciou nesta terça-feira (18) a aquisição da Activision Blizzard, publisher responsável por franquias como Call of Duty, World of Warcraft e Candy Crush, e fonte de enormes controvérsias relacionadas a abuso de trabalhadores e condições de trabalho tóxicas nos últimos meses.
O valor para a aquisição, de acordo com repórteres do Wall Street Journal e Bloomberg que noticiaram a compra antes do anúncio oficial, é próximo dos US$ 70 bilhões.
"Quando a transação for confirmada, a Microsoft se tornará a terceira maior companhia de games em termos de receita, atrás da Tencent e da Sony", diz o anúncio oficial do acordo. "A aquisição planejada inclui franquia icônicas dos estúdios da Activision, Blizzard e King, como Warcraft, Diablo, Overwatch, Call of Duty e Candy Crush, além de atividades globais de esports por meio da Major League Gaming. A companhia tem estúdios ao redor do mundo com mais de 10 mil funcionários."
O anúncio também conta com uma declaração do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que chegou a citar um dos termos mais adorados pela indústria de tech nos últimos tempos — o metaverso:
"Games são a forma de entretenimento mais dinâmica e excitante em todas as plataformas nos dias atuais, e terão um papel chave no desenvolvimento de plataformas do metaverso", diz o chefe. "Estamos investindo profundamente em conteúdo, comunidade e nuvem de classe mundial para trazer uma nova era para os games que colocarão jogadores e criadores em primeiro lugar, e farão jogos seguros, inclusivos e acessíveis a todos."
Phil Spencer, líder da divisão Xbox e agora CEO da Microsoft Gaming, também fez seu próprio pronunciamento sobre a aquisição no site Xbox Wire:
"Como uma equipe, temos a missão de trazer a alegria e comunidade de games para todos no planeta. Todos sabemos que os games são a forma de entretenimento mais vibrante e dinâmica em todo o mundo, e experimentamos o poder da conexão social e amizades que eles tornam possível."
"Estamos extremamente animados em ter a chance de trabalhar com as incríveis, talentosas e dedicadas pessoas na Activision Publishing, Blizzard Entertainment, Beenox, Demonware, Digital Legends, High Moon Studios, Infinity Ward, King, Major League Gaming, Radical Entertainment, Raven Software, Sledgehammer Games, Toys for Bob, Treyarch e cada time em toda a Activision Blizzard"
De acordo com Spencer, a publisher manterá sua estrutura independente até o acordo ser formalizado. Após isso a Activision Blizzard "reportará a mim como o CEO da Microsoft Gaming".
Isso também significa que, em um primeiro momento, Bobby Kotick, o extremamente criticado CEO da Activision Blizzard, continuará a chefiar a companhia durante esse período de transição, como reportado por Jason Schreier, da Bloomberg.
"Bobby Kotick continuará a servir como CEO da Activision Blizzard... Assim que o acordo for fechado, os negócios da Activision Blizzard reportarão para Phil Spencer, CEO da Microsoft Gaming", diz a mensagem de um representante da Microsoft a Schreier.
Em julho de 2021, o governo da Califórnia abriu um processo contra a Activision Blizzard por sua cultura de trabalho tóxica e abusiva, especialmente contra funcionárias mulheres, acusando a companhia não só de disparidade salarial entre trabalhadores de diferentes gêneros, como também revelando diversos casos de assédio e abuso sexual dentro da companhia, com um deles levando até a um suicídio.
A resposta inicial da Activision, desmerecendo as acusações, levaram a uma revolta por parte dos trabalhadores, especialmente na Blizzard Entertainment, que foi o foco das denúncias iniciais.
Diversos membros de longa data da Blizzard, incluindo o presidente J. Allen Brack, deixaram a companhia. Um dos personagens de Overwatch teve até que ter seu nome alterado de Jesse McCree para Cole Cassidy, já que o original era compartilhado por um desenvolvedor com ligação às acusações de abuso.
Outras reportagens e relatos começaram a surgir durante os meses seguintes, revelando mais sobre como Bobby Kotick teria conhecimento de casos de abuso não só na Blizzard, como em estúdios do lado da Activision, mas não teria feito qualquer ação para resolver as condições de trabalho tóxicas.
Em sua mensagem, Spencer procurou reforçar a Microsoft como um ambiente mais inclusivo e seguro para as equipes de desenvolvimento, assim como a autonomia dos estúdios de games:
"Como uma companhia, a Microsoft tem um compromisso com nossa jornada para inclusão em cada aspecto do mundo dos games, tanto entre funcionários quanto jogadores. Valorizamos profundamente a cultura individual de estúdios. Também acreditamos que o sucesso criativo e autonomia estão de mãos dadas com o tratamento de cada pessoa com dignidade e respeito. Nós cobramos isso de todos os nossos times e líderes. Estamos ansiosos em estender nossa cultura de inclusão proativa para os grandes times da Activision Blizzard."
É claro, o acordo ainda não está oficialmente finalizado, e deve ser analisado em diversos pontos do mundo por uma potencial violação em leis antitruste. O mesmo ocorreu com a aquisição da Bethesda pela Microsoft, feita pelo valor comparativamente menor de US$ 8,1 bilhões.