Ori and the Will of the Wisps é uma continuação que melhora e expande quase tudo que existia no primeiro game da série. Mapa maior, campanha principal mais longa e combate mais refinado e variado estão entre as novidades trazidas pela Moon Studios para o metroidvania, que é uma das grandes apostas da Microsoft para este final de geração.
De forma geral, o game impressiona com sua beleza nos cenários e gameplay extremamente fluido. Uma das poucas críticas que tive no primeiro game era a ausência de um combate mais preciso, algo que foi resolvido com a variedade no arsenal do protagonista Ori.
Infelizmente, o game seria ainda mais incrível se conseguisse ultrapassar a barreira técnica: travamentos, perda de progresso e muitos bugs permearam meu gameplay.
Nova aventura
A história de Will of the Wisps começa pouco tempo depois do final de Blind Forest. O ovo deixado por Kuro, vilã do primeiro jogo, choca e introduz Kun, corujinha simpática que se torna melhor amiga de Ori.
A motivação que dá o pontapé inicial ao enredo é a dificuldade que Kun tem para voar. Quando ela finalmente consegue, uma terrível tempestade a separa de Ori e os deixa na desconhecida floresta de Niwen, perturbada pelo enfraquecimento do espírito que zelava por ela.
Daí para frente, Ori percebe que os problemas são muito maiores do que parecem e, claro, ele é o único ser vivo capaz de resolver os problemas de Niwen. Boa parte da aventura gira em torno de uma nova vilã, Grito, que é ainda mais assustadora do que Kuro.
O enredo reserva algumas grandes surpresas, mas a história brilha muito mais quando os personagens estão em foco. Sem falar qualquer palavra de uma língua inteligível, os seres de Ori and the Will of the Wisps transmitem emoções fortíssimas com sua expressão corporal e olhares, e são esses momentos que realmente comovem o jogador.
Visual ainda mais impressionante
Desde os trailers, era possível perceber que Will of the Wisps teria artes que flertavam com uma aparência 3D. De fato, os cenários e criaturas possuem um apelo muito mais tridimensional do que no primeiro game - destaque para Naru, a mãe adotiva de Ori, e Kwolok, gigantesco sapo que é introduzido no início da história.
Como alguns comentários de YouTube já atestavam desde os trailers, cada captura de tela do jogo pode facilmente se tornar um papel de parede. A beleza gráfica é potencializada por um mapa mais amplo, que permite novos ambientes e combinações de cores que garantem um visual quase sempre fresco e que te instiga a explorar cada canto.
Ainda sobre exploração, o novo sistema de auto save favorece bastante os jogadores que queiram investigar cada canto do cenário. Diferente do primeiro game, onde era necessário gastar sua energia para salvar o jogo, Will of the Wisps tem um salvamento automático que costuma ser bastante eficiente e raramente obriga o jogador a passar duas vezes pelo mesmo desafio.
Gameplay mais variado
Ori and the Blind Forest já convencia com sua jogabilidade divertidíssima. Usar a habilidade Golpear para mandar projéteis de volta para os inimigos era um deleite, tal qual explorar os cenários mais desafiadores usando a gama de poderes do protagonista.
O segundo jogo expande as possibilidades de maneira massiva. Antes de tudo, a primeira novidade é a maneira básica de se atacar: Ori passa a usar uma espada como sua arma principal, deixando para trás o orbe que o acompanhava antigamente.
Além da espada, o espírito da floresta possui um vasto arsenal à sua disposição: golpes desbloqueáveis como arco e flecha, uma lança espiritual e uma bola de fogo explosiva estão entre as novas formas de infringir dano aos oponentes.
Essa grande quantidade de habilidades é acessível por um menu que lembra vagamente os de alguns shooters. Usando um dos botões de gatilho, o jogador escolhe as skills em um círculo e liga cada uma delas aos três botões de ação do controle (X, Y e B).
Como é de se esperar em um game bem planejado como Ori, algumas das habilidades estão intrinsecamente ligadas aos cenários, e é necessário equipar uma ou outra delas para conseguir alcançar colecionáveis e itens escondidos.
Seguindo a cartilha de metroidvania, ambientes explorados no início da aventura possuem elementos que só poderão ser encontrados ao liberar habilidades posteriormente. Com um sistema de fast travel bem simplificado e eficiente, é fácil ter vontade de retornar a locais já visitados para encontrar novos segredos.
Incrementando o poder de Ori, há o novo sistema de Fragmentos (não tão novo, na verdade, pois é quase idêntico aos amuletos de Hollow Knight). Os Fragmentos são objetos que garantem habilidades extras - passivas, em sua maioria -, como grudar em paredes e ter maior resistência a ataques.
Alguns fragmentos estão espalhados pelo mapa e outros disponíveis em uma das lojas de NPCs, podendo ser aprimorados para melhorar ainda mais as habilidades fornecidas por eles.
O jogador tem um limite de espaço para equipar os fragmentos disponíveis e o game permite que eles sejam trocados a qualquer momento, introduzindo uma mecânica bastante básica de builds: composições de habilidades que podem ser focadas em diferentes aspectos do gameplay.
Quer alcançar colecionáveis e explorar o mapa com bastante liberdade? Equipe o pulo triplo. Precisa vencer um chefão? Use fragmentos que dão mais dano e células de vida ao seu personagem.
Novos desafios e novas missões
A relação de Ori and the Blind Forest com chefões é bastante curiosa e, de certa forma, inovadora. Ao invés de confrontos com seres gigantescos e ameaçadores, os verdadeiros chefões do game são fugas de ambientes desmoronando. Desafiadoras, essas sequências são ainda melhores com a trilha sonora épica que permeia todo o título.
O segundo jogo preenche a lacuna de chefões mas ainda há nuances que tornam Will of the Wisps único: as batalhas com monstrengos enormes sempre envolvem mudanças no cenário e eventualmente se misturam com as fugas épicas, criando uma combinação bastante crocante de precisão com poder de combate.
Estruturalmente, outra adição é a formalização das side quests. O funcionamento é similar ao de qualquer outro jogo de mundo aberto: encontre personagens pelo mapa, converse com eles e receba alguma tarefa.
Bem organizado, o jogo da Moon Studios traz uma lista das tarefas extras e descreve qual o seu próximo objetivo dentro daquela missão, tornando o processo mais simples e menos esquecível.
Vale ainda citar duas opções de desafio que foram introduzidas ao game: os Santuários, espécie de arena de batalha onde o jogador enfrenta ondas de inimigo para desbloquear um espaço para colocar um Fragmento; e as Corridas, que são uma espécie de mini-speedrun, desafiando o jogador a completar o percurso no menor tempo possível.
Os tais problemas técnicos
Se Ori and the Will of the Wisps fosse uma corrida de 400 metros com barreira, o corredor estaria em uma excelente prova, superando os obstáculos de gameplay, enredo e visual. A última barreira, entretanto, é atropelada pelo atleta em uma colisão bastante catastrófica.
Essa barreira é a dos aspectos técnicos, que deixam muito a desejar durante toda a extensão da campanha. A barreira, inclusive, é bem mais alta do que a de Control, que chegou a ter atualizações de performance pouco depois de seu lançamento.
Nas pouco mais de doze horas que precisei para finalizar a história de Ori, foram incontáveis problemas sofridos entre bugs e problemas com taxa de quadros por segundo.
A Microsoft já prometeu um patch de atualização para o dia de lançamento, supostamente corrigindo as inúmeras falhas apresentadas, mas essa grande quantidade de problemas não pode passar em branco.
Um dos defeitos mais notáveis é a performance, mais especificamente o aspecto de taxas de quadro por segundo. No Xbox One X, o jogo mantém 60 fps durante a maior parte do tempo, mas cenários mais movimentados são repletos de quedas nessa taxa e também de travamentos inexplicáveis - a tela fica inteiramente travada por alguns segundos até voltar ao normal.
Os carregamentos também são bem complicados, com qualquer ação no menu principal sendo bastante demorada. Dentro do game, os fast travels e a tela com o mapa são dois processos que também levam bastante tempo.
Quando se fala sobre bugs, a lista é ainda mais longa: em determinado momento, o cenário completo simplesmente não carregou, deixando espaços azuis na tela, como mostra o print abaixo.
Em outro ponto, perdi quase 40 minutos de progresso porque o jogo simplesmente decidiu que não iria mais salvar. Inocentemente, acreditei que essa era uma maneira de punir o jogador por ainda não ter desbloqueado a estação de save naquela região do mapa. Cheguei até a estação e garanti que minha tela estivesse estampada com “Jogo salvo!”, tudo isso para morrer e voltar a um ponto que já tinha superado há muito tempo.
Houve ainda momentos em que Ori ficou “preso” em algum dos objetos do cenário, como se a Lince Negra dos X-Men perdesse seus poderes enquanto atravessa uma parede. Em outros, itens e missões que eu já havia coletado ou completado ainda apareciam em minha tela.
Talvez o problema mais irritante dentre esses todos foi o bug com os orbes de vida e energia. De maneira similar ao primeiro game, esses dois atributos são medidos por bolinhas na parte inferior da tela; o jogador começa com três bolinhas para cada, e consegue ir aumentando conforme progride no game.
Orbes espalhados pelo mapa são uma das maneiras de aumentar sua capacidade de vida e energia: bastaria coletar dois do mesmo tipo para ganhar uma bolinha extra. Ao completar minha primeira nova bolinha de vida, entretanto, ela desapareceu assim que morri e nunca mais voltou.
Desde então, os orbes que eu coletava, tanto de vida quanto de energia, eram completamente inúteis. Nenhum deles sequer criava uma bolinha adicional. Felizmente, o jogo dá outras possibilidades para aumentar as forças vitais de Ori, mas isso não mudou minha irritação com o bug.
Não se engane pela nota, Ori and the Will of the Wisps tem tudo para ser um jogo excelente, mas nada garante que o patch de atualização resolverá essa grande quantidade de problemas já no lançamento. Por enquanto, a aventura na floresta de Niwen ainda é bastante inóspita por motivos técnicos, mas não deixa de ser um ambiente maravilhoso e que exalta todas as nuances dos metroidvanias.
[ATUALIZAÇÃO] O patch de lançamento resolveu os problemas?
Antes de comentar a versão final de Ori, cabe um esclarecimento. Ao se deparar com uma quantidade significativa de bugs na versão de Review do game, o The Enemy entrou em contato com a assessoria da Microsoft no Brasil para questionar se havia algum direcionamento a respeito de como tratar esses problemas.
A resposta foi de que não havia nada específico a ser considerado, portanto, prossegui com a crítica considerando o game que estava em minhas mãos. Posteriormente, ao se encerrar o embargo e outros veículos publicarem suas análises, ficou claro que sites estrangeiros receberam orientações bastante diretas nesse aspecto, contando inclusive com uma lista oficial dos bugs que poderiam ser encontrados no jogo. Infelizmente, não chegamos a ter acesso a essa lista.
Sem mais delongas, o patch prometido pela Moon Studios chegou pouco antes do lançamento oficial do game, na madrugada de terça-feira (10/03). Depois de instalar a atualização, a diferença de performance é nítida: carregamentos tiveram diferença considerável, e não tive mais problemas com bugs.
Com 96% do game completo, acredito que é seguro dizer que o patch cumpriu majoritariamente sua função. Infelizmente, o problema com as Células de Vida e Energia não foi resolvido no meu arquivo de save, mas ao iniciar uma nova campanha o bug já estava sanado.
Ainda assim, há poucas ressalvas no que diz respeito ao desempenho: mesmo no Xbox One X, o game tem quedas de framerate e leves travamentos em alguns momentos, e a performance parece piorar conforme a sessão de jogatina se estende. Dito isso, esses pequenos entraves não afetam de maneira tão ampla a experiência, mas vale a pena ficar de olho em futuras correções providenciadas pela Moon Studios.
Dessa maneira, Ori and the Will of the Wisps atinge quase todo o seu potencial visual, justificando o aumento na nota dada anteriormente.
- Lançamento
11.03.2020
- Publicadora
Microsoft
- Desenvolvedora
Moon Studios