Das necessidades de preservação ecológica do planeta ao avanço firme da tecnologia, o carro elétrico surge como um inevitável próximo passo para a indústria automobilística, mas a realidade é que este modelo de automóvel ainda está longe de ser popular. Nesse contexto, o maior trunfo do Audi E-tron é, talvez, parecer um SUV (de luxo, claro) como tantos que habitam as ruas do país.

Com lançamento previsto para o segundo semestre de 2019 no Brasil, o primeiro carro elétrico fabricado em larga escala pela Audi aposta justamente no segmento dos utilitários esportivos, bem recebido entre as faixas mais elevadas de consumo, para se afastar da estética futurista adotada por expoentes do motor elétrico como a Tesla. Mas, ao guiar o E-tron, fica claro que a experiência vai além do comum.

A convite da Audi, o The Enemy teve a oportunidade de testar o E-tron nos Emirados Árabes Unidos, em dezembro de 2018, e a impressão que ficou é a de que o modelo é bastante versátil, adaptando-se com tranquilidade a vários tipos de percurso com um desempenho que não deixa a desejar em relação a um automóvel movido a combustão.

Como diz o início desse texto, a primeira impressão é a de que o E-tron é um carro normal. Mas alguns detalhes projetam suas aspirações tecnológicas. O mais visível fica no retrovisor, cujo espelho é substituído por câmeras. Um detalhe que, por estar sujeito a regulamentação, pode não estar em diversos mercados no lançamento do carro, incluindo o Brasil.

Audi E-tron
Audi/Divulgação

Independentemente de sua presença ou não na versão brasileira do E-tron, o retrovisor digital força algumas adaptações a quem conduz. As câmeras ficam posicionadas na mesma linha de visão do painel, o que não é problema para o lado do passageiro, mas exigem uma linha de visão um pouco diferente para o lado do motorista. A mudança é compensada com tecnologia: cores nas bordas da tela fazem as vezes de sensores de proximidade.

O conforto do E-tron é inquestionável, e ainda mais tecnológico do que o de outros SUVs de luxo da Audi. Assim como no Q8, as telas de LED se espalham para o restante do console central, digitalizando praticamente todos os comandos do carro, do aparelho de som a regulagem do ar condicionado.

Na direção

Para além do interior, o conforto também se estende na hora de dirigir o E-tron. O carro conta com dois motores elétricos - um na dianteira, outro na traseira -, que, juntos, conferem ao carro potência de 355 cv. O número pode subir para 407 cv quando o carro é colocado em modo overboost, que garante um desempenho mais esportivo por até 60 segundos.

Audi E-tron
Audi/Divulgação

Ao acelerar, o que mais impressiona - além, claro, da ausência do ronco característico dos carros movidos a combustão - é a movimentação suave e sem trancos, em um veículo que pode alcançar 100km/h em 6,6 segundos (5,7 segundos no overboost). Não fosse um velocímetro projetado no para-brisa, seria até fácil não se atentar para as altas velocidades que o carro consegue alcançar.

O trecho escolhido pela montadora alemã, de pouco mais de 200km, evidenciava a intenção de mostrar a versatilidade do E-tron em vários tipos de estrada. Além das rodovias, também colocamos o carro em trechos de terra e em uma estrada até o topo da montanha Jebel Hafeet, de 1249m².

O carro passeou por todos estes ambientes com um excelente desempenho, entregando potência e estabilidade nas curvas, mesmo com uma carcaça larga para acomodar as duas baterias. Vale ressaltar que todo o percurso foi feito com janelas fechadas e o ar condicionado ligado, para suportar as altas temperaturas dos Emirados Árabes Unidos.

Na descida da montanha, verificamos uma das tecnologias mais interessantes do E-tron: a recuperação de energia com a frenagem. Nas descidas, pudemos observar o sistema no qual o carro transporta a energia produzida com a frenagem em “combustível” para os motores elétricos. O trecho prolongado de descida foi capaz de recuperar a autonomia do carro em quase 10 km.

Audi E-tron
Audi/Divulgação

Embora o E-tron não tenha falhado em termos de desempenho, a autonomia de sua bateria acabou sendo colocada a prova no teste. Chegamos ao final do nosso dia com pouco menos de 50km de autonomia na bateria do carro, enquanto colegas ficaram sem bateria a poucos quilômetros do fim do percurso. A Audi verificou que o carro não teve nenhuma avaria, indicando que o gasto de energia foi causado pela maneira como o veículo foi conduzido.

Embora o E-tron esteja preparado para andar grandes distâncias, o teste deixa claro que, mesmo com 400 km de autonomia, é necessário ter certa cautela na hora de pisar no acelerador, de modo a não correr estes riscos.

O aviso se torna ainda mais necessário em países como o Brasil, que não dispõe da quantidade necessária de equipamentos para carregar, com rapidez, a bateria de um carro elétrico do porte do E-tron no cotidiano. Durante o teste, a Audi mostrou o carregador padrão do carro, de 150 kWh, capaz de carregar 80% da bateria do veículo, segundo a montadora, em cerca de meia hora. Para ter o E-tron no dia a dia, será necessário ter uma estrutura.

Audi E-tron
Audi/Divulgação

Para quem puder bancar, o E-tron se apresenta como uma experiência versátil de um carro elétrico pronta para a maioria das demandas do dia a dia. É uma opção cara, sem dúvida, mas mostra um caminho para que este segmento automobilístico alcance a escala necessária para a sua continuidade.