A guerra fria entre as gigantes AmazonGoogle pelo domínio da automação doméstica pode aquecer consideravelmente, indica a notícia de que a varejista eletrônica decidiu não vender os produtos mais recentes da Nest em seu comércio eletrônico.

A informação foi divulgada na última sexta-feira (02) pela Business Insider, que afirma ter conversado com uma pessoa próxima ao tema que revelou o episódio.

De acordo com a publicação, a Amazon teria entrado em contato com o time da Nest no final do ano passado, afirmando que os novos produtos da companhia – que inclui o mais novo termostato da Nest – não seriam listados na plataforma.

Segundo os representantes da própria varejista, a exclusão dos produtos não teriam relação com sua falta qualidade  – já que a empresa costuma ser elogiada por consumidores  –, mas sim por uma suposta decisão “de cima”, sugerindo que estratégia poderia ter vindo diretamente de Jeff Bezos, CEO da Amazon.

Novo termostato E da Nest, revelado em setembro

Divulgação/Nest

Adquirida pelo Google em janeiro de 2014, a Nest ficou famosa por seu termostato inteligente, capaz de conectar-se ao Wi-Fi doméstico, aprender com o padrão de uso de cada casa e de entrar no modo de economia automaticamente quando identifica que não há ninguém em casa. Desde então, a empresa diversificou seu portfólio, incluindo sistemas como Nest Hello, Nest Secure e Nest Cam IQ Outdoor, apresentados no ano passado.

Como resultado da decisão da Amazon, a Nest também decidiu não vender mais produtos atuais na Amazon – ou seja, assim que os estoques acabarem, a Nest estará fora da Amazon oficialmente.

Decisão de vetar produtos poderia ter vindo de Jeff Bezos, CEO da Amazon

Reprodução

Apesar de polêmica, a decisão da Amazon não é necessariamente uma surpresa: conforme a empresa avança seus esforços e investimentos no setor de casas inteligentes, o Google se mostra como um dos maiores rivais. De certa forma, vender produtos da Nest diretamente seria o equivalente a Apple vender o novo Galaxy S9 dentro de suas próprias lojas de varejo.

A Nest, aliás, é só mais uma na lista de produtos da Google que não são vendidos na Amazon – a empresa também exclui listagens do próprio Google Home e smartphones Pixel. Há pouco mais de três meses, a empresa até prometeu que voltaria a vender o também excluído acessório Chromecast em seu varejo eletrônico, mas isso não aconteceu até agora.

Do lado da Google, a gigante das buscas retaliou essas decisões bloqueando o app do YouTube nas plataformas Fire TV e Echo Show, ambas da Amazon.

E conforme as duas companhias seguem reforçando seus esforços no setor, a expectativa é que essa briga só fique mais acirrada nos próximos meses.

Ring é o mais novo investimento da Amazon em automação residencial

Divulgação/Ring

Afinal, ambas disputam o mercado com seus próprios alto-falantes domésticos inteligentes – Google Home e Amazon Echo. E apesar da popularidade crescente destes produtos em países como os Estados Unidos – onde uma pesquisa recente da Edison Research apontou que 39 milhões de americanos já possuem esse tipo de produto em casa – esse é só o primeiro passo na guerra da automação doméstica.

Com cada vez mais Echos e Homes dentro das casa de usuários, a expectativa é que eles sirvam como “hubs” para controle e conexão de outros produtos inteligentes – afinal, quem não gostaria de dar um simples comando de voz para sua própria casa e ter todas as luzes apagadas, portas trancadas e despertador acionado logo antes de dormir?

Nesse cenário, a briga dessas empresas agora é garantir que todos os produtos que estejam conectados aos assistentes pertençam aos seus próprios ecossistemas, garantindo que a inteligência artificial de cada casa conectada seja a sua, não a da rival. Para garantir que essa estratégia funciono, aparentemente vale qualquer coisa que não seja ilegal.

E os investimentos pela automação doméstica continuam: do lado da Google, a empresa reabsorveu a Nest para sua linha de hardware em fevereiro para reapróximá-la de seus esforços unificados, além de continuar diversificando sua oferta de produtos inteligentes – que já inclui até roteadores inteligentes.

A Amazon, por sua vez, acabou de confirmar a aquisição por US$ 1 bilhão da Ring, empresa de campainhas inteligentes que utilizam câmeras. Além de reforçar sua linha de hardware para casas conectadas, o produto é considerado estratégico para o serviço de entregas da Amazon, que poderá ser facilitado pelo reconhecimento facial de entregadores.

Se confirmada a não listagem dos novos produtos da Nest na Amazon, agora nos restaria ver qual será a reação do Google: retaliar a adversária de alguma outra forma ou não escalar ainda mais a disputa, mantendo o foco nos seus próprios esforços?