Em um primeiro momento, Resident Evil: Resistance pode parecer uma experiência bastante diferente para qualquer jogador da franquia, novo ou de longa data. Afinal, mesmo que a jogabilidade seja semelhante aos títulos mais recentes da série, e tenha sido lançado em conjunto com o remake de Resident Evil 3, a temática é diferente: se trata de um multiplayer assimétrico, ou seja, serão 4 jogadores (os Sobreviventes) contra 1 (o Mastermind).
Os objetivos de cada uma das partes são diferentes, obviamente e, como cada personagem disponível possui sua particularidade (Personal Skills e Fever Skills), o game exige um período de adaptação às habilidades e mecânicas, de modo geral.
Em minha primeira tentativa com Resistance, ainda no Brasil Game Show 2019, eu não havia gostado do que experimentei: um game bastante desequilibrado e, como estava em um ambiente com muito público, deixei a comunicação com a equipe completamente de lado - e este é um erro imperdoável, mas voltarei a esta questão mais tarde.
A interface, mais poluída do que o habitual (se comparado com Resident Evil 7: Biohazard ou Resident Evil 2 (2019), por exemplo), também causou estranhamento. Além disso, os Sobreviventes conseguem itens de uma maneira diferente também: além de coletar os objetos espalhados pelas fases - ervas, munição, equipamentos de reparo para armas brancas, granadas, dentre outros -, podem ainda comprá-los em baús especiais usando os Umbrella Points.
Por fim, vale citar, mas a jogabilidade e movimentação dos bonecos não têm nada de especial. É bem semelhante ao que tem de mais recente dentre os últimos lançamentos da Capcom.
Todos esses elementos controversos, que iam contra tudo (ou pouco se diferenciavam do) que eu havia experimentado e gostado até aquele momento, e o ambiente nada propício para os testes, tornaram o saldo final negativo.
Então, depois de alguns meses, testei Resistance novamente à convite da Capcom. Todos os testes ocorreram em um ambiente controlado e com uma equipe fechada (e conectada para se comunicar!). Neste momento, percebi que o jogo estava mais aprimorado em aspectos técnicos e um tanto mais equilibrado em sua jogabilidade, o que tornou toda a experiência foi bastante satisfatória, passando a impressão de que o game poderia ser, de fato, o melhor multiplayer da franquia até aqui.
Entretanto, após receber a versão final para análise, mesmo que eu tenha me divertido nas partidas que participei; é preciso ressaltar como toda a experiência, como já comentado por aqui, pode ser bem diferente ao que o jogador está acostumado, mas isso não significa que Resistance é ruim - longe disso!
Diferentes habilidades
Como já dito, Resistance requer um certo período de adaptação à sua proposta e suas mecânicas e, felizmente, existe um satisfatório rol de personagens para o jogador escolher, entender, praticar e escolher, tanto do lado dos Sobreviventes quanto dos Masterminds.
Do lado dos Sobreviventes, temos January que consegue usar suas habilidades de hacker para desligar câmeras de segurança e outros gadgets do Mastermind; Valerie que é uma curandeira e pode marcar itens no cenário, facilitando as buscas; Tyrone que é o tank e consegue aplicar um “buff” em seus companheiros; Samuel que pode executar ataques com grande dano corporal; Becca que é outra personagem de dano com técnicas de “buff” nas armas de fogo; e Martin que é o outro suporte, cujos especiais permitem que ele crie minas explosivas, além de deixar os personagens desestabilizados temporariamente.
Desnecessário dizer, mas o principal objetivo dos Sobreviventes é, como o nome bem diz, sobreviver. Para tanto, todos os 4 personagens precisam cumprir os diferentes objetivos de cada uma das etapas do mapa. Primeiramente, é necessário coletar itens especiais, na segunda parte é preciso derrotar um zumbi especial e ativar terminais espalhados pelo cenário e, por fim, na última fase deve-se destruir cápsulas em diferentes pontos.
Tudo isso precisa ser cumprido dentro de um determinado tempo. Caso o cronômetro chegue a 00:00, todos os 4 mocinhos morrem e a missão é encerrada.
Para ajudar nesta tarefa difícil de, literalmente, lutar contra o tempo, os Sobreviventes podem: derrotar inimigos para ganhar mais alguns segundos, evitar tomar dano dos monstros ou das armadilhas (e principalmente, evitar morrer, pois a penalidade no tempo é bem grande caso isso ocorra), ajudar os companheiros sempre que precisarem, curar uns aos outros e/ou usar qualquer outra habilidade que atrapalhe os Masterminds.
Por falar neles, os Masterminds possuem habilidades únicas também, mas, para não frustrar ninguém com spoilers, não irei citar quais exatamente são. Cada um dos vilões apresentados até o momento - isto é, Daniel Fabron, Annette Birkin, Alex Wesker e Ozwell E. Spencer - podem surpreendê-lo quando ativarem seus especiais.
Todavia, vale citar que as mecânicas dos Masterminds são bem diferentes dos Sobreviventes. Ao invés de transitar livremente pelos mapas e atacar os inimigos, o vilão do mapa observa tudo remotamente através de câmera, podendo alternar entre os displays livremente.
O Mastermind também recebe um deck de cartas e estas são suas principais armas. São estes cards que ele usa para colocar inimigos e/ou armadilhas nos cenários, para atrapalhar os Sobreviventes. Também é possível trancar portas, apagar as luzes e tomar controle de câmeras com metralhadora, ou ainda, assumir o controle dos inimigos, o que os torna mais fortes e resistentes por um curto período de tempo.
Vale apontar, porém, que, assim como os Sobreviventes têm um tempo de espera até que possam usar de novo suas habilidades (especiais ou não), o mesmo se aplica ao Mastermind: conforme o deck é distribuído, algumas cartas demoram mais a ressurgir, além de algumas delas exigirem mais pontos para serem colocadas no mapa.
Por fim, existem as habilidades especiais, como comentei anteriormente. A de Daniel, por exemplo, permite que ele invoque e controle o Tyrant (mais conhecido como Mr. X) de RE2. Leva mais tempo que o comum até que a carta dele fique disponível, mas quando acontece, cabe ao jogador decidir a melhor hora de usá-lo. Ser um Mastermind, afinal, exige bastante estratégia também.
Comunicação é a chave da vitória
Uma das características que pode (ou não) fazer com que os jogadores estranhem o game, também pode ser o fato de que é imprescindível se comunicar com a equipe. Um bom headset e conversar com o time formado pode ser a chave para a vitória.
Para quem não está acostumado com esse tipo de abordagem, ou ainda, não tem muita experiência em jogos multiplayer onde a comunicação é importante; pode ter alguma dificuldade em se adaptar a Resistance.
O game também apresenta personalização de personagens e, conforme eles ganham nível, podem adquirir novas habilidades e ganhar Pontos de Resultado (PR) em Partidas Aleatórias.
Com estes pontos, os jogadores podem obter diferentes tipos de pacotes de Baús, as quais presenteiam os personagens com habilidades passivas ou opções cosméticas para serem usadas nas partidas. Vale informar, inclusive, que os PRs só podem ser ganhos no game, e não podem ser comprados com dinheiro real.
Mais conteúdo, por favor!
Após acompanhar a evolução de Resistance até aqui e passar algumas horas me divertindo com a versão final cedida para análise, posso afirmar que para um primeiro momento, isto é, seu lançamento, Resistance tem ótimas opções e recursos para manter os jogadores entretidos.
Contudo, se eu puder deixar uma reclamação registrada, é o de que uma atualização de otimização de rede é extremamente necessária, pois tive diversos problemas com o servidor instável do game. Acredito que isto se resoverá com o tempo, mas tomara que seja o quanto antes!
Além disso, para o lançamento, também gostaria de ver mais personagens adicionados ao rol. Recentemente, a Capcom inclusive anunciou que irá atualizar o game futuramente com Jill Valentine como um dos Sobreviventes, mas não deu pistas de quando isso irá acontecer.
O game não é canônico, então a presença da heroína de Resident Evil 3 (2020) será mais do que bem-vinda e, pessoalmente, estou curiosa para ver quais habilidades únicas ela terá. Além disso, a adição de Jill implica que outros heróis de Resident Evil podem ser adicionados também.
Nada foi confirmado pela Capcom até o momento de publicação desta crítica, mas eu espero que mais conteúdo chegue logo ao game, tais como cenários, Sobreviventes, habilidades, monstros e, claro, Masterminds.
Veredito
Resident Evil: Resistance é a sobrevida que Resident Evil 3 (2020) necessitava. A aventura de Jill pode ser um pouco rápida, especialmente para os maratonistas de plantão. Contudo, felizmente, o modo multiplayer que vem junto do jogo base certamente irá preencher ainda mais horas de jogatina daqueles que adquiriram o título.
Portanto, arrume um bom fone com microfone, chame os amigos e feche um time e teste todos os bonecos disponíveis. A diversão é garantida (e a frustração inicial até se entender como tudo funciona também). Passado o período de adaptação, Resistance certamente o convencerá.