Antes de mais nada, devo admitir: eu estava errado.
Vejam, sou o tipo de cara que defende que o Need for Speed de 2015 é, sim, considerado o sucessor espiritual dos jogos da era Underground e, apesar dos pesares, acho que seja um jogo bem bom.
Como o reboot que é, foi um primeiro passo sólido da Ghost Games à frente da franquia: A customização era a mais densa, até então, entre todos os games de corrida no estilo arcade. A ambientação e a proposta de corridas de rua, junto com o cuidado na curadoria de conteúdo exaltavam de forma magnífica a cultura automotiva urbana moderna, com o tuning do início dos anos 2000 dando lugar à cena do stance, o jogo foi recheado de personalidades dessa car culture e o senso de irmandade dos grupos de entusiastas foi o que norteou a narrativa – que estava longe de ser a ideal, mas também não era terrível.
Foi, de fato, um bom começo.
No entanto, Need for Speed Payback aconteceu. E foi terrível.
O jogo veio impregnado com glitches gráficos que quebravam a experiência e a progressão foi atrelada a um sistema de loot boxes e microtransações que era ridículo, pra dizer o mínimo.
A história, colocada pelos desenvolvedores como um dos principais pilares do jogo, era risível e ambiciosa demais, com personagens forçados, situações absurdas até para um NFS... Enfim, se o reboot foi um primeiro passo consistente, Payback foi um duplo twist carpado para trás com uma aterrissagem que garantiu, na melhor das hipóteses, uma fratura exposta.
Acelere dois anos e um novo jogo, Need for Speed Heat, é anunciado, justamente para comemorar os 25 anos da franquia.
Desta vez, a Ghost prometeu trazer de volta tudo o que fez os fãs se apaixonarem pelos títulos mais populares da série. Ainda assim, era mais do que natural estar com medo de que Heat pudesse repetir a receita do fracasso.
Vendo os trailers, fiquei receoso com a pegada "adolescente rebelde", cheio de dedos do meio sendo mostrados para a polícia, e um baita climão de festa sendo contraposto com uma tentativa pífia de drama envolvendo conflitos com as autoridades.
Tudo me cheirava muito mais a um "Payback: Parte 2" do que uma tentativa de se recuperar.
As gameplays, por sua vez, não ajudaram, uma vez que estavam cheios dos mesmos glitches gráficos presentes no lançamento do jogo anterior, e que arruinaram aquela experiência completamente.
Por isso, dois dias antes do lançamento do jogo, tratei de escrever um preview enorme para um grupo de amigos listando todos os motivos pelos quais eu acreditava que Need for Speed Heat não merecia um centavo de ninguém na pré-venda.
... Só que eu errei. E eu não poderia estar mais feliz em ter sido provado errado.
Para a surpresa de alguns e alívio de muitos, estamos diante do melhor Need for Speed desde o Most Wanted de 2005 e, sem sombra de dúvidas, um dos melhores jogos da franquia lançados até hoje – e você vai entender o porquê.
Corrigindo os erros
Antes de falar sobre as novidades de Need for Speed Heat, é importante apontar como o jogo corrigiu alguns erros cometidos em Payback.
A primeira correção veio na eliminação das loot boxes e das microtransações por completo (até o momento, vale reforçar): a sua progressão e a melhoria dos carros voltam a ser feitas com dinheiro e reputação, pura e simplesmente.
O segundo elemento que melhorou substancialmente é a história, que deixou de ser um de seus pilares fundamentais, e agora é apresentada de forma bem menos intrusiva e mais pé-no-chão. Apesar de começar frenética e ter um ou outro momentinho de vergonha alheia, as coisas acontecem de forma bem mais leve, e deixam o gameplay falar mais alto que a narrativa.
Essa abordagem mais equilibrada ajuda muito no ritmo em que o jogo evolui, mas também faz com que os personagens não sejam tão impactantes como alguns velhos conhecidos dos fãs. Isso não significa que eles não tenham seu carisma (e muito potencial), mas não espere que Shaw, Tenente Mercer e Eva Torres sejam uma espécie de novo Cross – pelo menos não de imediato.
Os irmãos Lucas e Ana Rivera, por outro lado, até conseguem segurar bem as pontas e funcionam bem como personagens de suporte, enquanto os integrantes da "The League" e praticamente todos os outros passam bem batido.
É justo dizer que a história não chega a superar a que vimos em Need for Speed 2015. Mas, sem dúvida alguma, é muito melhor do que Payback. É uma narrativa até divertida, com começo, meio e fim, e segue a linha de que "se não ajude, que não atrapalhe".
Algo que reforça um pouco essa sensação de leve superficialidade é que, mesmo com suas quase vinte horas de duração, a história dá a sensação de que tudo passa rápido demais e termina de uma forma meio abrupta. Ao mesmo tempo, isso também abre espaço para uma continuação na forma de uma expansão ou, mais provável, na forma de uma DLC.
Um outro detalhe bacana é que a Ghost fez questão de colocar referências a diversos títulos antigos da série – algo muito bacana para um momento tão emblemático como a comemoração de seus 25 anos.
Apesar de não ser necessariamente uma correção direta do jogo anterior, vale lembrar que NFS Heat não exige conexão com a internet para ser jogado e, felizmente, oferece as opções de se aventurar sozinho ou num mundo compartilhado com outros jogadores.
Equilibrando o "inspirar" e o "inovar"
Outra das novidades em relação à história, e que é apresentado logo no início da jogatina, é que você agora pode escolher um avatar que, para alegria de muitos, não é mudo – muito pelo contrário: o trabalho de dublagem (apenas em inglês, com legendas em português) foi muito bem feito e faz com que seu personagem seja um tanto carismático, especialmente nas interações através do celular.
É possível escolher entre 12 modelos de personagens, e alterar elementos como cortes de cabelo, acessórios e vestuário. Apesar de não ser totalmente customizável, a variedade disponível e a vasta opção de itens permite que as chances de você criar um avatar único sejam bem grandes.
O mais interessante é que esse é o primeiro de alguns aspectos que deixam bem claro que a Ghost se inspirou bastante na principal referência, e líder incontestável do gênero atualmente – além de principal concorrente –, Forza Horizon.
(Mais sobre isso em breve)
De qualquer forma, há de se reconhecer que a principal mecânica de Need for Speed Heat é bem própria: a alternância entre dia e noite, e como o jogo muda de acordo com o período. Cada um conta com suas próprias dinâmicas, eventos e até mesmo trilha sonora. Você decide em qual deles vai explorar a cidade ao sair da garagem ou ao pressionar um botão no mapa.
De dia, você corre em corridas oficiais do Speedhunters Showdown, uma competição sancionada e legal que acontece em toda a região de Palm City, que atrai corredores do país inteiro – e o motivo pelo qual você foi parar na cidade. Enquanto o sol estiver reinando, dificilmente irá vai se envolver em confusão com a polícia, que está presente, mas é bem tranquila em relação às suas transgressões no trânsito. Contanto que não bata em uma viatura, tudo vai ficar bem.
Quando o astro-rei se põe, no entanto, a coisa muda de figura: vão-se as barreiras, os espectadores e a legalidade, e em seus lugares entram os neons, o tráfego e um cerco policial muito mais cerrado. As corridas ilegais passam a ser disputadas em vias públicas e a interferência da força-tarefa do Tenente Mercer é bem mais frequente (e agressiva).
A mecânica também influencia como você progride: de dia, é preciso correr para arrecadar dinheiro, enquanto as competições noturnas rendem reputação. Você precisa de REP para subir de nível e desbloquear novas missões, peças e carros – que, por sua vez, devem ser adquiridos, obviamente, com dinheiro. A forma como essa dinâmica funciona está bem equilibrada e faz com que os dois períodos sejam quase que igualmente relevantes na empreitada.
Você pode escolher entre corridas comuns, competições contra o tempo (que funcionam como uma espécie de autocross), eventos de drift, off-road e missões da história – que podem vir na forma de uma corrida convencional ou com objetivos específicos, como seguir um veículo para investigar uma situação da trama, por exemplo.
Uma das coisas bacanas aqui é que, em algumas dessas missões, há uma parte que consiste em apenas seguir o carro de alguém, dando um "rolê" em baixas velocidades e tendo conversas que permitem que você desacelere um pouco e entenda mais sobre os personagens e sobre o enredo.
Carinha de Forza Horizon de dia...
Com exceção dos eventos de drift e da história, qualquer similaridade com o título da Playground Games não é mera coincidência: há momentos, nas corridas diurnas, principalmente, que é impossível não associar o aspecto visual de Need for Speed Heat com Forza Horizon.
A forma como elementos visuais são dispostos, como barreiras, banners e o cenário em geral, em especial as porções mais interioranas, são assustadoramente similares com o que já foi visto nas representações virtuais da Austrália e, mais recentemente, do Reino Unido de Forza.
Durante a minha experiência com o Heat, fiquei chocado ao ver como uma parte específica de uma corrida de off-road me causou uma impressão absurdamente similar ao que estava habituado com o Horizon.
Isso se repetiu por várias vezes, mas, no geral, não pareceu absurdo.
Até mesmo efeitos como a destruição mais ampla de objetos no cenário acabam se tornando evidentes essa influência. As atividades secundárias, como saltos, zonas de drift e velocidade também trazem o Horizon imediatamente à memória.
Ainda assim, a Ghost fez questão de colocar um pouquinho do seu próprio tempero na fórmula e acrescentou colecionáveis por todo o mapa, que tem um tamanho total muito próximo do que já havia sido visto em Need for Speed Payback, mas que está muito mais bem organizado e uniforme. Tanto os desafios quanto os colecionáveis rendem carros exclusivos e que servem como um ótimo estímulo para buscar a completude do game.
É importante notar que há, também, elementos bem particulares em Heat – que serão mais bem explicadas nesta análise – que ajudam o game a ter sua personalidade mesmo como tantas similaridades. É o caso da jogabilidade, do som, além de outros fatores estruturais e conceituais do game.
Isso porque, enquanto Forza Horizon foi fortemente inspirado em eventos como o Gumball 3000, e prioriza mais a experiência de dirigir em cenários paradisíacos, Need for Speed Heat dá foco a uma experiência mais urbana e, de certa forma, que prioriza o carro enquanto objeto e expressão de arte – algo que se aproxima muito mais de encontros regionais de entusiastas, como por exemplo o Tuner Evolution.
Há de se dizer, no entanto, que a inspiração (ou cópia, para alguns) para diversos aspectos do jogo não é algo necessariamente ruim. Pelo contrário, até: não há nada de mal em usar algo que vem funcionando muitíssimo bem no segmento – desde que isso, claro, seja combinado a outros fatores que sejam igualmente bons.
E é aí, meus amigos, que NFS Heat realmente brilha.
... DNA puro de Need for Speed à noite
É durante a noite que Heat sai da sombra de outros jogos e assume a sua verdadeira forma de um puro Need for Speed. As corridas ilegais são uma mistura sublime de Underground com Most Wanted. É como se a ambientação noturna e as competições de rua casassem de forma harmoniosa, e isso faz com que você acabe tendo uma experiência que é potencialmente tão divertida quanto os títulos mais populares da série.
Os encontros com a polícia se tornam bem mais frequentes e intensos, e não se engane: você pode se encontrar em uma situação delicada bem mais rápido do que o esperado. Isso porque as viaturas conseguem te acompanhar com certa facilidade e, caso a perseguição se prolongue muito, não demora até estar cercado por uma quantidade considerável de carros (e helicópteros!) da força policial.
A chave das corridas noturnas é a dinâmica de risco e recompensa que a Ghost implementou: o jogador vai expandindo sua reputação conforme vai completando eventos e atividades no mapa. Além disso, é possível acumular até cinco níveis de "pressão", que servem como um multiplicador para a sua pontuação, mas que também aumentam a atenção da polícia sobre você.
É necessário retornar são e salvo para a sua garagem (ou para um dos esconderijos) para contabilizar o que foi acumulado durante a noite. Caso seja pego ou seu carro quebre, perderá boa parte do que conquistou.
Não, você não leu errado: os carros agora contam com uma barra que indica a integridade do bólido, e ela vai caindo conforme o jogador for batendo com força em outros veículos, em paredes, em outros objetos ou, especialmente, caso os policiais forcem batidas para te fazer parar... E eles não pegam nem um pouco leve.
É possível consertar seu carro em postos espalhados pelo mapa, mas o número de uso é limitado a 3 por noite. Na dificuldade mais alta, as perseguições com pressão três ou mais já são o suficiente para te fazer suar e ter vários momentos de tensão. No nível máximo os policiais tornam-se implacáveis e abusam de recursos, como blindados e faixas de pregos, para tentar te parar – e as chances de conseguirem são grandes.
Com tudo isso, as aventuras noturnas acabam virando uma questão de decisões estratégicas, que fazem com que você queira arriscar cada vez mais para conseguir números mais altos para subir de nível mais rápido e desbloquear peças e carros, ao possível custo de perder boa parte do seu progresso caso seja pego, e isso é extremamente satisfatório.
Na experiência online isso é amplificado, uma vez que você divide o mundo com outros jogadores, e a experiência é totalmente compartilhada. Não são raras situações em que, enquanto está fazendo uma corrida ou andando de bobeira, outro jogador passe rasgando enquanto é perseguido por uma quantidade obscena de policiais, que muito possivelmente também vão passar a perseguir você.
... E isso é sensacional, porque realmente passa a impressão de que a cidade está viva, de que você pertence àquele mundo compartilhado com outros jogadores. Tudo é imprevisível e imperfeito, o que acaba tornando o gameplay, de certa forma, mais "humano".
Amplificando os acertos (com ressalvas)
Não bastasse ter corrigido o que estava errado, e trazer mecânicas novas e consistentes, Need for Speed Heat também conseguiu manter o que o reboot de 2015 fez bem. O principal – e o que faz o jogo se destacar dentro do gênero de corrida – é a customização vasta e bastante densa dos veículos, com a possibilidade de trocar parachoques, faróis, lanternas, aplicar kits de carroceria, aerofólios, placa do veículo e até mesmo ajustar o tom do barulho do motor que é emitido pelo escapamento (que, é claro, também pode ser modificado)
Dos 127 modelos disponíveis no lançamento, a maior parte é amplamente customizável, com um indicador que vai de 0 a 10 mostrando o quanto você pode modificar do carro. A variedade de estilos dos bólidos também é bastante satisfatória, com uma lista que contém muscle cars, clássicos japoneses, hiperesportivos modernos e carros de off-road dos mais variados tipos.
Algumas ausências, como é o caso de alguns modelos da Toyota, são sentidas, mas vale o reforço de que não há muito que a Ghost pudesse fazer se a marca não autoriza sua representação no game.
Mesmo com algumas opções que existiam no 2015 tendo desaparecido, como é o caso dos sliders de ajuste de parâmetros específicos da suspensão (como a inclinação do carro e o espaçamento das rodas), a premissa segue sendo que o que limita você de criar o veículo dos seus sonhos é a sua imaginação. Só que é bom se preparar, pois preparar um carro custa caro e você pode se ver rapidamente sem grana caso se empolgue muito.
Na parte de melhorias, como mencionado anteriormente, funciona o bom e velho modelo convencional: para melhorar o seu carro, as peças são desbloqueadas conforme você sobe de nível e então são adquiridas com o dinheiro in-game.
Nada de microtransações, nada de loot boxes.
As peças são categorizadas em até nove níveis de qualidade e agora é possível fazer a troca de motores nos veículos (o famoso swap) para alcançar níveis ainda maiores de performance – algo essencial em veículos que, originalmente, são pouco competitivos.
Além disso, algumas peças, como suspensão, diferenciais e pneus, contam com categorias que definem a finalidade do carro: com a ajuda de um gráfico, você decide se ele vai ser um veículo mais preparado para estrada ou off-road e se terá mais aderência (ideal para corridas em circuito) ou menos (perfeito para drift).
Falando em comportamento, a Ghost também fez alguns ajustes na jogabilidade. Fazer drifts agora não é mais tão vantajoso, uma vez que o carro perde bastante velocidade – o que deve agradar os mais puristas, mas ainda deve dividir opiniões. Tecnicamente, no entanto, a jogabilidade continua amigável e divertida, como um bom arcade deve ser.
Já o drift, por sua vez, se tornou um tanto mais complexo: em vez de você simplesmente acelerar e controlar a derrapagem com o direcional, agora é necessário iniciar a derrapagem com uma acelerada forte, tirar o pé e então dosar a aplicação do acelerador para definir o ângulo. É mais sobre jeito do que sobre potência e existe a opção de iniciar o drift utilizando o freio, como nos jogos anteriores.
Os carros também parecem ter mais peso e a sensação de velocidade foi ajustada, com veículos mais lentos parecendo realmente lentos e os mais rápidos fazendo você sentir que vai atravessar uma dobra espacial.
A parte visual do Need for Speed Heat é o único aspecto que deixa impressões diametralmente opostas. Enquanto é inegável que o jogo esteja graficamente maravilhoso, é justamente aqui que também surgem alguns problemas.
O mapa todo conta com regiões que têm características visuais bastante distintas e essa variedade é bastante salutar para não dar a impressão de mesmice: além dos blocos há a região mais montanhosa, com estradas sinuosas perfeitas para a prática de drift; há também as grandes rodovias e regiões mais planas e alagadas, perfeitas para velocidades mais altas; a região portuária permite que você dê um trabalho maior para a polícia.
A cidade de Palm City passa muito bem o clima de Miami que a Ghost buscou e, durante a noite, o contraste do céu escuro com a cidade iluminada e repleta de néon é muito agradável. Inclusive, o uso das barras de luz enquanto ferramentas estéticas, seja na jogatina normal quanto nas cenas de transição (influências de Jvy Pennant e The Crowned), foi extremamente acertado e resultou em imagens belíssimas nas saídas e retornos para a garagem e também nos inícios de corrida.
Os carros também acompanham a qualidade gráfica e estão muito bem detalhados, especialmente quando customizados. Os efeitos das chamas saindo do escapamento em reduzidas e trocas de marcha estão muito bons e com certeza vão arrancar uns sorrisos bobos dos mais aficionados.
No entanto, nem tudo são flores: alguns glitches gráficos vistos em Payback voltaram. Pop-ins de textura e de objetos acontecem com frequência e a impressão que tive é de que a situação piora um pouco no modo online.
Prédios aparecem como blocos poligonais maciços e demoram a renderizar, arbustos parecem ter sido transportados diretamente do Minecraft, carros surgem do mais absoluto nada enquanto você rasga as rodovias a mais de 300 km/h e também há problemas ocasionais de colisão com objetos do cenário, que podem ser desastrosos em algumas situações. Não chega nem perto de ser quebrado como no Payback, mas, quando afeta diretamente a experiência, incomoda um pouco.
Outro detalhe que também causa um pouco de estranheza é como a cidade é extremamente vazia, especialmente durante o dia. Enquanto em alguns eventos há um grupo de pessoas nas laterais da pista, em outros não há uma alma sequer.
De novo: não é algo que arruíne o jogo, mas, sem dúvidas, é um pouco estranho.
O áudio, que teve uma qualidade altíssima nos últimos dois títulos, não faz diferente no Heat. Quase todos os carros soam diferentes entre si e são representados de forma bastante convincente de acordo com as diversas motorizações disponíveis. Efeitos como os das pequenas explosões do escapamento (conhecidos como "backfire") e de troca de marcha em câmbios de dupla embreagem também estão excelentes.
A dublagem dos personagens também está muito boa – a do protagonista, principalmente – e, embora ainda haja muito papo rolando durante as corridas, é algo que está longe de incomodar. Os diálogos do rádio da polícia é que são um tanto bizarros ao fugir completamente dos protocolos e soarem mais como um bando de gente aleatória que se reuniu pra caçar rachador.
Outro ponto alto de Need for Speed Heat fica com a trilha sonora: os desenvolvedores conseguiram incorporar de forma magnífica as músicas como uma forma de compor a ambientação do jogo. O resultado é uma lista fortemente influenciada pela cultura latina, com muito reggaeton (a música de abertura do game sendo "Levantate" do grupo KLTR), reggae e até mesmo o funk brasileiro por "Coisa Boa", da Gloria Groove. Além desses, o hip-hop, o trap e o eletrônico também são presenças na playlist.
As músicas variam de acordo com as partes do jogo que você está (garagem, corrida ou exploração) e também com o período do dia e casam muito bem com cada situação e ajuda muito a construir o mundo do game.
O segundo passo necessário finalmente foi dado
Sem vergonha de mostrar que se inspirou bastante nos líderes do gênero, mas sem precisar sacrificar sua personalidade, Need for Speed Heat consegue entregar uma experiência que há muito tempo um game da franquia não fazia.
A customização que se tornou marca registrada da série, o trabalho de áudio e da trilha sonora, a estética, a mecânica de dia e noite, a jogabilidade bem equilibrada e a excelente ambientação resultam em um jogo muito sólido e coeso – e isso, além de uma grata surpresa, pode muito bem render ao NFS Heat o título de jogo de corrida do ano com uma margem considerável, mesmo contra ótimos títulos como DiRT Rally 2.0 e F1 2019.
É claro que ele está longe de ser perfeito: ainda há problemas técnicos, principalmente na parte gráfica, e a história precisava de um pouquinho mais de cuidado (e algumas horas a mais).
Mesmo assim, a desenvolvedora não apenas conseguiu recuperar-se de uma completa tragédia, como fez isso trazendo para os fãs um dos melhores NFS já lançados – e que representa o segundo passo que precisava ser dado depois do reboot de 2015.
Se Payback foi uma caixa d'água fria despejada na cabeça dos fãs, a Ghost veio comprometida a fazer com que Need for Speed Heat não se resumisse a um calorzinho: ele é um lança-chamas tamanho família, potente o suficiente para reacender um fogo que há muito, muito tempo não queimava tão forte.
- Lançamento
08.11.2019
- Publicadora
Electronic Arts
- Desenvolvedora
Ghost Games