É seguro dizer que todo fã de jogos do gênero de corrida já sonhou em ser um piloto de verdade pelo menos em algum momento da vida – e digo isso com a propriedade de ser um desses desde muito pequeno.

Obviamente a coisa não é tão fácil quanto parece: o esporte é caríssimo, principalmente aqui no Brasil, e é aí que os games acabam por preencher esse vazio e dar um gostinho de como pode ser a experiência de pilotar os veículos que habitam em nossos sonhos.

No entanto, nos últimos anos, as linhas entre o real e o virtual se estreitaram e, em alguns casos, nem chegam a existir. Esse foi o caso com um menino nascido em Kanazawa, uma cidade no Japão que fica a 500 quilômetros de Tóquio – mas sua origem tem raízes bastante brasileiras. Igor Omura Fraga, filho de brasileiros, começou cedo no automobilismo graças à paixão do avô e do pai.

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Igor Fraga/Arquivo Pessoal
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Igor Fraga/Arquivo Pessoal

Aos três anos o rapaz já começava a se aventurar no kart e, um ano depois, já tinha um volante para aprimorar suas habilidades com a ajuda de um velho conhecido da comunidade gamer: a franquia Gran Turismo. O treinamento no virtual ajudou, com o rapaz conquistando seu primeiro campeonato já aos seis anos idade e colecionando mais alguns troféus nos anos seguintes.

Algum tempo depois, a família retornou ao Brasil para a cidade de Ipatinga, em Minas Gerais, e o contato com o automobilismo real foi cheio de idas e vindas.

Fraga conquistou o campeonato da F3 Academy em 2017 aqui no Brasil, e chegou a disputar corridas em outras categorias pelo mundo afora – mas, cerca de 16 anos desde seu primeiro contato com a série, foi a vez de Gran Turismo Sport ajudar a mudar a vida do garoto completamente.

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Igor Fraga/Arquivo Pessoal

É importante notar que o jovem brasileiro não foi o primeiro: desde o lançamento do primeiro Gran Turismo, em dezembro de 1997, a franquia e sua desenvolvedora Polyphony Digital já ajudaram a tirar alguns pilotos do virtual e colocá-los no real com diferentes níveis de sucesso graças ao programa GT Academy.

Mas, no caso de Igor especificamente, o caminho foi um pouquinho diferente, e chama atenção pela intensidade e velocidade com as quais as coisas aconteceram. Isso porque o piloto não participou do GT Academy, mas sagrou-se vencedor do primeiro campeonato mundial das nações no Gran Turismo Sport – representando o Brasil –, chancelado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

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Gran Turismo/Divulgação

Fraga superou outros 15 pilotos e chegou a receber seu prêmio na noite de gala da federação junto com estrelas do esporte real, como foi o caso do então pentacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton.

Esse foi apenas o primeiro passo para que o brasileiro tomasse o mundo do automobilismo de assalto: no início de 2019, Igor já engatou uma participação na competição McLaren Shadow Project, promovido pela equipe britânica para escolher aquele que se tornaria seu piloto de testes de simuladores.

De forma dominante, o piloto conseguiu superar outros sete aspirantes à posição em uma disputa que incluiu corridas em cinco jogos diferentes: os simcades Project CARS 2 e Forza Motorsport 7, o mobile Real Racing 3 e o simulador iRacing. A adaptabilidade de Fraga foi essencial para demonstrar seu potencial não apenas como piloto virtual, mas para reafirmar que sua história no automobilismo de verdade não foi em vão.

A Polyphony Digital entrou mais uma vez em cena e, com base nos resultados de Igor, resolveu investir na carreira do jovem brasileiro e apoiou sua investida em campeonatos regionais de Fórmula 3 na forma de um patrocínio do Gran Turismo como marca. Apesar de excelentes resultados na Europa, o grande destaque ficou pela recente campanha de Fraga na Nova Zelândia, na Toyota Racing Series, da qual ele saiu campeão.

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Igor Fraga/Twitter
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Igor Fraga/Twitter

O brasileiro ainda retornou para as competições virtuais em 2019 e ajudou a equipe da Toyota a ser campeã também na série de montadoras do Gran Turismo Sport, dividindo o carro com mais dois pilotos e fazendo a marca nipônica alcançar o posto mais alto no pódio.

Essa combinação do sucesso na trajetória no automobilismo virtual e que se traduziu também em excelentes resultados no real escancararam as portas para que o brasileiro chegue mais perto do sonho máximo de, talvez, chegar na Fórmula 1. Fraga foi convidado há pouco tempo para integrar o Red Bull Junior Team, o programa de desenvolvimento de pilotos daquela que é uma das três maiores equipes da categoria máxima do automobilismo.

O próximo passo é a participação do brasileiro no campeonato mundial de Fórmula 3 da FIA pela Charouz Racing System, uma das melhores escuderias da competição.

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Charouz Racing System/Divulgação

Com o advento da pandemia do coronavírus, as atividades do automobilismo real estão, naturalmente, paralisadas, então Igor terá que esperar um pouco mais para continuar seu progresso. Ainda assim, é no mínimo curioso pensar que, em breve, a gente pode ter um brasileiro de volta ao grid da Fórmula 1, que não conta com um piloto do país desde a saída de Felipe Massa ao fim da temporada 2017.

Mais interessante ainda, no entanto, é que tudo isso pode acontecer, justamente, com um jogo de videogame sendo o gatilho. As conquistas de Fraga, vale apontar, ecoam muito além da carreira dele: elas mostram que os jogos podem, sim, ser uma ferramenta capaz de revelar novos talentos e de fazer com que os fãs possam ficar ainda mais próximos de um velho sonho.