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Review: Like a Dragon Gaiden é versão compacta do que há de melhor da série

Sem grandes surpresas, jogo é um epílogo digno (e emotivo) para a saga de Kiryu

Por Victor Ferreira 06.11.2023 12H00

Eu entendo a Sega: é difícil abandonar Kazuma Kiryu.

Mesmo tendo superado todas as expectativas na criação de um sucessor à altura com Ichiban Kasuga em Yakuza: Like a Dragon – sem falar em várias outras mudanças incluindo o próprio nome da franquia no Ocidente, todas as tretas envolvendo o spin-off Judgement, até a saída do criador para a Tencent –, o pessoal do RGG Studio ainda consegue achar jeitos de trazer o Dragão de Dojima de volta.

E dá para entender porque: além de ser a cara da franquia por décadas, o personagem não só mantém o carisma, como é associado a um outro estilo de jogo.

Yakuza 6 era para ser o capítulo final da saga de Kiryu, mas ele deu as caras em uma participação especial no jogo seguinte, e vai ter um papel de destaque como companheiro de Ichiban em Like a Dragon: Infinite Wealth.

Inclusive com um novo penteado (e problemas de saúde)

Sega/Divulgação

Como o trailer de história daquele jogo mostrou, desta vez é possível (possível) que Kiryu não volte para uma próxima aventura, nada mais justo do que um jogo (possivelmente) final estrelando o antigo protagonista da série.

E, apesar de não trazer muito de novo em termos de gameplay, Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name é um ótimo epílogo para a história de Kiryu, mostrando não só o que ele estava fazendo durante os eventos de Like a Dragon, como também explorando as repercussões da conclusão de Yakuza 6 – um jogo que eu curti, mas que em retrospecto talvez precisasse de um embate final mais apropriado para o personagem.

Tudo isso enquanto revisita não só as mecânicas de combate clássicas, como também alguns dos melhores minigames e atividades da série.

À Serviço Secreto de sua Corporatividade

Sega/Divulgação

A história de Like a Dragon Gaiden começa mostrando as consequências da decisão de Kiryu de fingir a própria morte ao final de Yakuza 6.

Para proteger seus amigos e família, Kiryu faz um acordo com o Grupo Daidoji, responsável pela grande conspiração da trama daquele jogo.

Deixando sua vida antiga para trás, Kiryu passa a viver uma espécie de servidão por contrato, tendo que viver em um templo de fachada, enquanto ocasionalmente cumpre serviços especiais como agente da Daidoji.

E por "serviços especiais" entenda-se "trabalhar de segurança para nepobabies" e "trabalhar de segurança em um porto durante uma negociação secreta".

Isso é, até o Daidoji cair em uma cilada organizada por um grupo de mascarados com ligações com a yakuza – o que pode ter estragado o disfarce do supostamente falecido Dragão de Dojima.

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Com seu segredo em risco, Kiryu – sob o nome Joryu, e um disfarce digno de Clark Kent – parte em uma nova jornada para descobrir quem estava por trás do ataque.

... Que em certo momento o leva para uma certa reunião que vimos em Yakuza: Like a Dragon.

Quando vi Like a Dragon Gaiden pela primeira vez, minha impressão é de que ele seria uma espécie de "Kiryu 007", o que não é exatamente verdade: não apenas a estrutura, como a narrativa do jogo seguem um padrão parecido com o de outros jogos da série.

A parte 007 da equação vem de um dos dois estilos de combate disponíveis para Kiryu, conhecido como Agente, em que ele tem vários itens especiais à sua disposição, desde uma corda especial para amarrar e lançar inimigos – e pegar itens escondidos pelo mapa –, até um cigarro explosivo.

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O outro estilo, Yakuza, é bem mais tradicional, com uma movimentação mais lenta e golpes mais pesados, sendo muito mais útil em situações de luta um contra um.

A comparação mais próxima para mim é, curiosamente, outro spin-off, Judgement, já que Yagami também tem dois estilos ao menos filosoficamente parecidos com esses.

Tenho que admitir, por mais que goste do sistema de RPG por turnos dos jogos do Ichiban, e achar que se encaixa perfeitamente com a vibe do personagem, há uma simplicidade em só sentar a mão em um grupo de babacas/valentões/criminosos com Kiryu – e por mais que ainda prefira o combate de jogos anteriores (saudades, Yakuza 0), conectar um golpe, contra-golpe, ou ação especial continua sendo extremamente satisfatório.

A exploração também não tem muito segredo para quem está acostumado com um jogo estrelado pelo Kiryu, tirando uma leve mudança de hub: a ação não se passa em Kamurocho, e sim principalmente em Sotenbori, conhecida de jogos como Yakuza 2 e 0.

Além disso, há uma "centralização" de certos elementos de jogo na forma da personagem Akame, uma "faz-tudo" de Sotenbori que vira sua principal aliada no decorrer da história.

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Ao invés de descobrir missões secundárias andando por aí, essas histórias agora aparecem sob o guarda-chuva da chamada "Rede Akame", com você geralmente tendo que falar diretamente com ela para ativá-las.

Não diria que é uma mudança ruim, necessariamente, mas tira um pouco da espontaneidade de trombar com algum evento maluco enquanto caminha pela cidade.

Há também missões menores envolvendo habitantes de Sotenbori espalhados pelo mapa, que geralmente são simples fetch quests para encontrar determinados itens, tirar fotos de certos objetos ou (é claro) cair na porrada com alguém.

Ao menos, algumas delas te incentivam a fazer mais atividades paralelas, que vão desde golfe e (obviamente) karaokê até o retorno do glorioso autorama, com vários rivais só podendo ser encontrados pela Rede Akame.

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E é importante fazer pelo menos algumas dessas missões, já que a progressão das habilidades do Kiryu requer que você tenha tanto dinheiro (lembrando um pouco o sistema de Yakuza 0) quanto pontos por completar essas missões para desbloquear ou melhorar habilidades.

Talvez soe um pouco burocrático vindo de mim, mas é um sistema relativamente simples, e eu sempre sou partidário de ao menos encorajar as pessoas a jogar as missões paralelas de Yakuza/Like a Dragon, já que boa parte do charme da franquia chega por meio delas.

Falando em dinheiro, as missões dão uma quantidade considerável de grana, mas a melhor forma de enriquecer é dando um pulo no outro lugar central do jogo: um castelo-cassino em alto-mar.

Castelo no mar

Em certo momento da narrativa, você passa ter acesso ao Castle, um local que dança no limite da lei ao ser não só um ponto central de diversos jogos de azar, como também do Coliseu, onde ocorrem lutas especiais – e que provavelmente vai servir como sua principal fonte de renda.

O Coliseu é, em essência, uma versão expandida dos antigos coliseus da franquia. Além de batalhas especiais entre Kiryu e outro(s) oponente(s), há também um modo conhecido como "Briga Infernal em Equipes", em que você deve recrutar e criar um time (ou times) para batalhas contra grupos de oponentes especiais.

De certa forma, é uma versão mais direta do Clan Creator de Yakuza 6, com você liderando um grupo na hora de entrar na pancada contra vários inimigos. Além disso, também é possível aumentar passivamente as habilidades e vínculos com os lutadores por meio de presentes ou favores.

O modo não é tão inventivo ou alcança o mesmo ápice de outras atividades, como o gerenciamento de cabarés, corridas de kart e o próprio autorama, mas ao menos consegue implementar e aprofundar as mecânicas de combate.

Além do Coliseu e dos jogos de azar, o Castle também conta com outras atividades e elementos, incluindo até uma butique especial para customizar o visual de Kiryu/Joryu tanto enquanto explora a cidade quanto dentro do ringue do Coliseu.

Não é um sistema tão robusto quanto, digamos, Saints Row (RIP), mas há opções suficientes para deixá-lo tão estiloso (ou ridículo) quanto você quiser que ele fique.

Epílogos

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De acordo com o próprio diretor do RGG Studio, Masayoshi Yokoyama, Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name levou apenas seis meses para ser feito. Ele, tal qual jogos como Assassin's Creed Mirage, foi pensado inicialmente como um DLC.

A história principal pode ser completada em cerca de 20 horas, e em termos puramente mecânicos, não há nada aqui que vá trazer muitas surpresas para quem curte Yakuza/Like a Dragon.

Mas este pequeno pacote reúne o que torna a série tão especial: da trama cheia de reviravoltas, pontuadas com o melhor melodrama possível; as lutas épicas contra chefes, cheias de momentos impactantes (metafórica e literalmente); o humor absurdo que permeia as sidequests, e que às vezes salta para a história principal; o fato de que, depois de uma batalha brutal contra dezenas de capangas, você pode ir para um karaokê ou jogar Daytona USA 2 Sega Racing Classic 2.

Mais do que isso, o jogo também reflete sobre as decisões e momentos que levaram Kiryu a este ponto, com diversas cenas grandes e pequenas envolvendo memórias e pessoas que saíram da sua vida – e como isso acaba pesando até no psicológico geralmente estoico dele.

Sendo assim, é impossível não recomendar Like a Dragon Gaiden para os fãs da série, especialmente para quem quiser um pouco mais do gameplay pré-Ichiban.

Mas justamente por isso, também é bem difícil recomendar o jogo para quem não tiver familiaridade com a franquia, já que todo esse impacto emocional deve se perder em quem não sabe muito da jornada do Kiryu até aqui.

Sega/Divulgação

Se este for de fato o último jogo protagonizado pelo Dragão de Dojima, é um bom jeito de... não necessariamente dar adeus, já que ele vai estar em Infinite Wealth, mas de aproveitar mais uma chance de andar pelo mundo da franquia com ele.

Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name sai em 8 de novembro para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series, e estará disponível no lançamento para o Game Pass.


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Nota do crítico