Review: Call of Duty: Black Ops 6 aperfeiçoa a fórmula sem inovar
Título da Treyarch traz o melhor que Call of Duty pode oferecer, sem sustos
Call of Duty é marcado tanto pela consistência de seu sucesso quanto por momentos de aparente estagnação na tal fórmula. Não é incomum encontrar exemplos entre os últimos 18 jogos da franquia, lançados anualmente nos últimos 18 anos, em que a inovação foi pouca, para dizer o mínimo. Ainda assim, os controles ágeis, história hollywoodiana e multiplayer viciante sempre se mostraram o suficiente para manter o interesse do público nas alturas.
Durante esse período, houve momentos notáveis como a adição dos Zombies e de modos de battle royale, primeiro com Blackout e depois Warzone. Esse grau de ineditismo não está presente em Call of Duty: Black Ops 6, e por isso pode ser fácil descartar o jogo como só mais um CoD dentro da linhagem. Mas por mais que o game liderado pela Treyarch tenha um alto grau de familiaridade, o que vemos aqui é uma desenvolvedora se esforçando para levar cada elemento fundamental de Call of Duty ao seu limite de excelência, e encontrando novos espaços dentro dos limites estabelecidos para ser criativa, inesperada e refrescante.
Campanha
A campanha do jogo se passa nos anos 1990, depois dos eventos de Black Ops Cold War, e novamente se beneficia de deixar as histórias futuristas de lado. O que fez o primeiro Black Ops especial foi o entendimento da Treyarch de histórias de conspiração, suspense, espionagem e missões sigilosas, e Black Ops 6 dá passos significativos nessas direções, dessa vez colocando o time liderado pelo veterano Frank Woods numa jornada ultrassecreta.
A história não é muito imprevisível, e o gancho emocional reside numa figura pouco explorada na narrativa até ser revelada como uma ameaça. Ainda assim, o ar de mistério e o fato de o time operar sozinho, sem apoio da CIA ou qualquer outro órgão do governo americano, mantém a energia e curiosidade do jogador, e mesmo que a conclusão venha de maneira um tanto quanto apressada com um par de missões entre as quais alternando, há muito para se curtir no caminho.
Já dei uma pista com essas missões simultâneas, mas o verdadeiro prazer da campanha de Black Ops 6 vem em como o jogo foge das típicas fases lineares de Call of Duty. Elas ainda estão lá, mas frequentemente envolvem disfarces, vigilância e até a inclusão de elementos de terror, borrando as linhas entre campanha e Zombies de maneiras inteligentes.
Para variar ainda mais, há uma base que pode ser explorada e aprimorada com dinheiro que achamos durante as missões pelo globo. Eu gostaria que os puzzles presentes ali fossem mais duradouros ou trouxessem uma recompensa melhor, mas a presença do Rook, que é como esse esconderijo é chamado, ajuda a pontuar Black Ops 6 como uma história de espiões mais do que de apenas soldados.
Algumas das melhores fases envolvem ambientes abertos que apesar de não serem grandes ou variados o suficiente para serem descritos como dignos de um open world, quebram o ritmo de tiroteio e corredores e oferecem uma boa dose de repetitividade. Eu sei que deixei segredos para trás e a vontade de rejogar algumas delas é grande.
Nada disso é particularmente inovador, especialmente fora de Call of Duty, mas combinado com personagens relativamente marcantes e a expertise da franquia em criar momentos explosivos, essas adições contribuem para que a campanha seja uma das melhores que a série já teve.
Multiplayer
No multiplayer, apesar de algumas mudanças pontuais nas configurações de classes, loadouts e perks, as coisas são como um todo familiares, e tudo bem. O modo é o mais popular de Call of Duty por uma razão. Jogar o multiplayer é ficar totalmente cafeinado.
De ritmo rápido e intenso, as partidas seguem oferecendo alegria pura e raiva sem limites, levando o jogador do céu ao inferno mas jamais deixando de gerar em nós aquela vontade de jogar “só mais uma partida” que vai inevitavelmente levar a mais 10 partidas. No processo, você aprende os vais-e-vens dos mapas, armas e seu estilo de jogo. Não há nada em videogames como o prazer de um bom Double Kill em CoD, ou de ver seu nome entre os melhores de uma partida.
O que não quer dizer que não exista problemas. Em Black Ops 6, o design de mapas é irregular. Isso sempre foi verdade em Call of Duty, mas mais danoso do que a falta de um clássico instântaneo como um Nuketown, que felizmente segue presente como uma opção de jogo dedicada ao mapa, é a quantidade de arenas compostas por corredores cansativos que incentivam as piores práticas do multiplayer de CoD. Não é incomum cair num mapa que te fará instantaneamente querer trocar de lobby.
Mas não se engane, se você gosta de Call of Duty, o multiplayer de Black Ops 6 é um ótimo exemplo de como o jogo ainda pode divertir. A essa altura, um bom Team Deathmatch é como o futebol no meio da semana com os amigos. O que você está jogando não mudou muito com o passar do tempo, mas a dinâmica é maravilhosa.
Zombies
Onde a mudança pode ser bem percebida quando comparada ao passado é no modo zumbi, e aqui é onde eu, como fã, fico mais conflitado. Por um lado, o abraço que Zombies deu em elementos do multiplayer competitivo, nas classes e pontuações, dá a tudo um ar de novidade que só é superado pelo quão disposto o cooperativo está de abraçar a narrativa, que segue surtada e divertida.
Por outro, essas mecânicas muitas vezes parecem distrações desnecessárias de um modelo de jogo que já parecia aperfeiçoado. Eu sem dúvidas não vou advogar ao retorno do Zombies de 2010, porque há uma clara progressão no modo e depois de entender o funcionamento de cada elemento, você ainda encontrará o feijão com arroz de sempre ali.
Contudo, é difícil não desejar que houvesse ao menos uma opção de Zombies clássicos disponível para quem não faz tanta questão de deixar a experiência mais parecida com o multiplayer, e só quer curtir round após round de mortos-vivos.
Call of Duty: Black Ops 6 é o melhor que um Call of Duty moderno pode oferecer. Talvez o jogo não seja revolucionário o suficiente para figurar entre os clássicos como Modern Warfare 2 de 2009 ou o Black Ops original, mas isso não significa que ele não é ótimo de jogar.
Especialmente se você está afastado de Call of Duty a alguns anos, pulou Cold War ou sente saudade do que um bom CoD pode oferecer, não pense duas vezes. Black Ops 6 veio na hora certa.