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Review: Life is Strange: Double Exposure é intrigante, mas tem problemas

Glitches visuais e problemas técnicos marcam novo game da Deck Nine

Por Amanda Seraphim 28.10.2024 18H59

Novo título da Deck Nine, Life is Strange: Double Exposure aposta na nostalgia dos fãs com o retorno de Max Caulfield, protagonista do primeiro game. O jogo segue o formato padrão já estabelecido pela empresa, com cinco capítulos e diversas revelações e reviravoltas. Infelizmente, alguns problemas técnicos chamam a atenção e são difíceis de ignorar.

Trabalhando na Universidade de Caledon como fotógrafa e professora, Max foi contratada por Yasmin, reitora e mãe de sua amiga Safi. Logo nos primeiros minutos, nota-se que Arcadia Bay teve um grande impacto na vida da protagonista, e é possível definir, no novo jogo, qual foi o final escolhido no primeiro, com consequências interessantes. Safi é aspirante a poeta e está dedicada no seu primeiro livro, que quer publicar um dia. Ambas são amigas de Moses, frequentam o Snaping Turtle e as coisas vão relativamente bem.

Até que, em uma noite fria, Safi é assassinada por um tiro no abdômen. Max fica devastada e resolve investigar. Duas realidades passam a existir a partir desse momento: o mundo morto e o mundo vivo. A investigação leva a protagonista a transitar de uma realidade a outra para encaixar as pistas desse mistério e entender porque a última foto de Safi mostra Max com uma arma apontada para a câmera. Tudo parece indicar para uma outra morte: o suícido de Maya Okada, amiga próxima de Safi e sobre a qual nenhum personagem parece querer falar sobre.

Os poderes de Max estão um pouco diferentes. Aqui, ela consegue alternar entre realidades, além de enxergar uma realidade mesmo estando em outra. Uma boa parte do gameplay é questionar as pessoas nas duas linhas do tempo para entender o que está acontecendo ou então obter informações em uma realidade para usar na outra. Nesse quesito, o jogo é bem direto ao ponto, e é geralmente óbvio o que se deve fazer. Houve dois momentos que foram um pouco difíceis de passar: o primeiro ligado a um glitch que encontrei e vou explicar mais para frente, e o segundo foi perceber todas as possibilidades que ver entre dimensões poderia proporcionar, como por exemplo, espionar conversas.

A narrativa permeia muito os acontecimentos do primeiro jogo, e o impacto que eles tiveram psicologicamente em Max. O diário perde um pouco a importância, mas uma das páginas mais marcantes é a que aparece logo após a morte de Safi. Mesmo completamente riscada, a página consegue transparecer o sentimento confuso e tortuoso de uma personagem que está passando por uma experiência traumática pela segunda vez. O crescimento de Max é palpável para quem acompanhou a história da menina no primeiro jogo, mas ela ainda retém a essência de sua personalidade.

Em Caledon, alguns outros personagens desempenham papeis importantes na trama. Gwen Hunter é professora e mentora de Safi e estava ajudando-a na publicação do seu livro, mas muda de ideia e passa a boicotar a pupila. No mundo vivo, alguém tenta incriminá-la de tráfico de drogas dentro da faculdade por meio de um vídeo. Ela então tem que passar por uma audiência disciplinar e acusa Yasmin de ser uma pessoa intolerante por Gwen ser uma mulher trans.

Lucas Colmenero, outro professor da universidade e famoso escritor, está tendo problemas com o filho, alegando que o pai, durante uma briga, teria acusado-o de ser o grande culpado pela separação no casamento, mas ele nega o acontecido. Além disso, Lucas era mentor de Maya Okada, o que faz com que Max se lembre de Arcadia Bay e se questione da relação entre os dois. Apesar de ser muito admirado pela maioria dos estudantes, Safi e Vinh claramente não gostam do professor.

Vinh, assistente de Yasmin, é apaixonado por Safi e estava tendo um caso com ela às escondidas. Ele também é amigo de Maya, e tem dificuldades de falar sobre a morte dela. De modo geral, a estrutura da história lembra muito o primeiro jogo, com algumas situações e personagens tendo poucas mudanças. Ainda assim, consegue ser suficientemente interessante para prender o espectador e com a história tomando um novo rumo a partir do capítulo quatro.

Apesar de se apoiar um pouco demais em referências do primeiro jogo, a construção de personagem é sólida e consegue manter a coerência entre as duas linhas do tempo. Claro que eles são essencialmente os mesmos, mas estão passando por momentos e dificuldades bem diferentes e mesmo assim a sensação deles serem dois lado de uma mesma pessoa permanece. É também interessante perceber que detalhes aparentemente inofensivos são chaves para entender o desfecho e o drama final. Essa minuciosidade às vezes passa a sensação de ser um trecho inútil ou sem qualquer consequência na história, mas são importantes para, quando tudo é revelado, causar uma sensação de realização para quem joga.

Sobre os problemas técnicos, a versão que avaliamos foi a do Xbox Series X, e sempre há a possibilidade de que outras plataformas estejam livres dessas falhas. Logo de cara, nos deparamos com um erro constante e que persiste por todo o jogo: os frequentes defeitos de renderização das cenas, que aparecem quase sempre que uma cutscene muda de câmera. Por alguns frames, assets específicos falham ao carregar, ou aparecem primeiro em baixa resolução para depois carregar a versão final. O resultado é que, diversas vezes durante uma mesma cutscene, objetos ou pessoas “piscam” na tela, deixando o erro muito evidente.

Divulgação/Square Enix

Esse tipo de falha não é incomum nos jogos em geral, mas em Life Is Strange: Double Exposure, elas são frequentes demais para serem ignoradas e, pelo estilo do game chegam a ser inaceitáveis, já que o propósito é assistir as cutscenes. Se isso não bastasse, lá pelo meio do Capítulo 3, em uma cena na universidade de Caledon, um problema um tanto estranho aconteceu: Depois de conversar com o Lucas, uma missão bem genérica de “investigar mais” apareceu. Ao entrar no prédio da administração, essa á substituída para novamente conversar com o Lucas. Porém ao voltar para ele, o personagem está parado, sem hitbox e a porta de sua sala está no meio do corredor. Ao mudar de timelines, o boneco passa a estar em T-Pose.

Houve um patch que consertou parte do problema, mas não a falha bizarra do Lucas, deixando claro que a missão deveria ser para investigar mais. E nesse ponto fica um pouco confuso se o próximo passo é parte do erro, ou se é realmente intencional, mas para prosseguir na história é preciso encontrar um objeto extremamente específico escondido em um lugar bem complicado e só assim é possível escapar dessa cena. Proposital ou não, essa cena acaba sendo um sufoco para passar bem no final, o que é um pouco frustrante.

De modo geral, o jogo segue uma fórmula e não inova muito. Isso não significa que seja um jogo ruim, pelo contrário, a sensação é de potencial desperdiçado que é ofuscado por problemas técnicos triviais. A história tem peso, os personagens tem personalidade e são complexos, as decisões são geralmente esperadas, mas trazem uma ocasional tensão e dúvida sobre qual caminho seguir. Fica a esperança que os problemas sejam corrigidos, para que o jogo possa brilhar em sua verdadeira potência.

 
Nota do crítico