Patinetes Elétricos: os problemas e possíveis soluções do novo transporte urbano

O veículo já domina algumas das metrópoles brasileiras, mas as cidades ainda não parecem prontas para recebê-lo

Por Breno Deolindo 16.05.2019 14H08

Nos últimos meses, não é nem um pouco incomum se deparar com um patinete elétrico em ruas da região mais nobre de São Paulo. Rio de Janeiro, Santos, Vitória e São José dos Campos são algumas das outras cidades que receberam o prático - e polêmico - veículo.

Atualmente, são duas grandes marcas que gerenciam esse meio de transporte no país: a Yellow, de origem brasileira, e que cresceu inicialmente com aluguel de bicicletas sem estação; e a Grin, mexicana, que é a maior empresa de patinetes elétricos na América Latina.

Ambas são facilmente diferenciáveis por suas cores - sim, as mesmas que denotam seu nome; no aspecto burocrático, entretanto, as duas empresas já se fundiram para formar a Grow. O nome é a mistura dos dois nomes antigos, Grin e Yellow.

Há ainda outras opções menos populares, como a Scoo e a TemBici, a mesma das famosas bicicletas do Itaú.

Na prática, o funcionamento ainda é o mesmo: o usuário procura o patinete mais próximo por meio do aplicativo, e o desbloqueia usando um QR Code. Ao final do uso, basta devolvê-lo em alguma das estações.

Tudo é bastante simples, mas ainda há alguns pontos a serem trabalhados pela Grow e pelas outras empresas: a regulamentação plena desse meio de transporte ainda é inexistente; até o momento, a prefeitura de São Paulo já ditou algumas regras a serem seguidas, enquanto no Rio de Janeiro a ordem é de seguir as regras locais de trânsito.

Uma recente resolução da prefeitura de São Paulo determinou algumas regras para o uso dos veículos. Não usar capacetes ou transitar com patinetes em calçadas pode gerar uma multa para as empresas responsáveis, e é responsabilidade delas repassar a cobrança para seus usuários.

Só será permitido usar os patinetes em ciclovias, ciclofaixas e vias que possuem velocidade máxima de até 40 km/h. A velocidade do patinete também foi regulamentada, com o limite de 20 km/h.

Aline Cavalcante, diretora de participação pública do Ciclocidade, questiona a regulamentação: “A gente é totalmente contra essa regulamentação da obrigatoriedade do capacete [...] Se você obriga o uso do capacete você pode desestimular o uso desse meio de transporte”, afirma.

De fato, a obrigatoriedade do capacete levanta uma série de questões: os usuários terão que carregar o equipamento consigo mesmo quando não estão pilotando? Ele será fornecido pela própria empresa? Se sim, haverá alguma ferramenta de higiene?

Aline pensa que o debate está com o foco incorreto, e que ele deveria ser direcionado para a segurança viária como um todo, não apenas aos capacetes: “Você só vai conseguir eficiência em uma discussão sobre segurança quando você reduzir a velocidade dos carros”.

Sobre a velocidade limitada, entretanto, Aline enxerga como um passo na direção correta, mas a determinação ainda parece estar longe do ideal: “O patinete alcança velocidades de 0 a 20 em muito pouco tempo. Você coloca pessoas que não tem qualquer experiência, que nunca nem andaram de bicicleta muitas vezes. Isso é a fórmula para dar errado”.

Contudo, a regulamentação dos patinetes é de competência federal, mesmo que o município poder estabelecer algumas regras para credenciamento e fiscalização das empresas, como explica um porta-voz da Grow: “Estamos em contato constante com as autoridades municipais para colaborar no que for possível na construção de uma regulamentação inteligente, que aumente a oferta de mobilidade na cidade”.

Reprodução/CET

Infraestrutura

Mas, afinal de contas, São Paulo e outras cidades do Brasil já estão prontas para receber esse meio de transporte? Um porta voz da Yellow afirma que “as cidades que melhor recebem os patinetes são aquelas com melhor infraestrutura cicloviária, pois são as que possibilitam maior segurança e conforto aos usuários em suas corridas”.

O Copenhagenize, entidade que, a cada biênio, ranqueia as cidades mais amigáveis a bicicletas no mundo, não incluiu nenhuma cidade brasileira em seu top 20 de 2017 (os resultados de 2019 ainda não foram revelados).

Em listas mais antigas, apenas o Rio de Janeiro figura: em 18º lugar em 2011, e 16º em 2013. Em 2015, a capital fluminense já não aparecia mais no top 20.

Falando em números, levantamentos de 2018 apontam que o Rio de Janeiro possui 458 quilômetros em malha cicloviária. O número até supera Copenhague, a cidade mais “bike-friendly” do mundo, que possui 429 km.

Entretanto, a área de cada uma das cidades é a verdadeira disparidade nessa comparação: o Rio de Janeiro tem 1095 km² de área urbana; Copenhague possui 88,25 km² de área total.

O atraso brasileiro em relação à estrutura cicloviária é nítido, o que, eventualmente, pode ser um problema para a real efetividade dos patinetes, que já possuem uma área de atuação limitada dentro das cidades.

Aline concorda com os problemas na infraestrutura urbana: “A gente está há muitos anos discutindo o desequilíbrio da distribuição do espaço viário, e fica cada vez mais claro como que outros modais da cidade precisam também de espaço para circular com segurança e com qualidade”.

Questionado sobre os maiores obstáculos para o sucesso dos patinetes, o porta-voz da Grow afirma: “Os principais problemas dizem respeito à infraestrutura das ciclovias, que quando não estão em condições ideais podem oferecer riscos aos usuário”.

De fato, esses riscos já estão se convertendo em estatísticas: de janeiro a abril, dois hospitais próximos à orla do Rio de Janeiro registraram quase 50 acidentes, segundo reportagem do G1.

Tendo em vista essa estatística, e uma pressão do Procon para fornecer dados sobre os acidentes, as empresas já começaram a se mexer: antes mesmo do uso dos capacetes se tornar obrigatório, a Yellow afirmou à Agência Brasil que doará 20 mil unidades do equipamento para seus usuários até o fim do ano.

A Scoo, por outro lado, contou também à Agência Brasil que obriga o uso de capacetes. A empresa possui ainda instrutores em cada estação, ajudando os usuários a aproveitarem o equipamento da maneira correta.

Mais um grande problema

Outro obstáculo para os patinetes elétricos envolve diretamente a Segurança Pública: reclamações sobre assaltantes que usam o veículo para abordar pedestres na Avenida Faria Lima, em São Paulo, foram amplamente noticiadas, apesar da Secretaria de Segurança Pública ter registrado inicialmente apenas um caso naquela região.

Posteriormente, a Polícia Militar confirmou que as incidências com patinetes aumentaram, principalmente na Faria Lima.

Mesmo com os crimes ainda em baixo número, a Grow já se mobiliza para solucionar o problema: “Recentemente, a Grin e a Yellow cederam via comodato 12 patinetes para serem utilizadas pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo no patrulhamento de ciclovias da cidade. As empresas estão fechando uma parceria semelhante no Rio de Janeiro”.

Com o “boom” de usuários recentes, é natural que os patinetes elétricos encontrem algumas dificuldades para chegar ao pleno funcionamento. Por enquanto, as empresas responsáveis parecem empenhadas em solucionar as intempéries da melhor maneira possível.