Chegada, saída e o "retorno": entenda a trajetória da Xiaomi no Brasil
Fabricante chinesa de smartphones deve anunciar sua segunda tentativa no mercado brasileiro nesta terça-feira (21)
Disputando espaço com gigantes como Apple, Samsung e Huawei, a Xiaomi é hoje uma das mais populares fabricantes de smartphones do mundo, com uma base sólida de fãs e fama de lançar modelos com boas especificações por preços competitivos.
Mas, apesar do crescimento impressionante ao longo da última década, a empresa chinesa nem sempre foi certeira em todos seus investimentos ao longo de sua história. E o Brasil é, talvez, o maior exemplo disso.
Isso porque, em 2015, a empresa buscou se aventurar no mercado nacional, procurando replicar aqui no país o mesmo modelo de sucesso que tinha na China e outros mercados do sudeste asiático.
O plano não deu certo e a companhia bateu em retirada após alguns meses de operação – ainda que não tenha deixado completamente o país para trás.
Depois do sumiço temporário – e mal explicado –, a Xiaomi parece pronta para sua segunda tentativa: um "relançamento oficial" da marca, com prováveis novos produtos e uma nova estratégia de venda, deve acontecer no próximo dia 21 de maio, em São Paulo.
Para você ficar por dentro do que exatamente aconteceu na história da companhia com o Brasil antes de seu retorno, resolvemos relembrar os momentos mais importantes da trajetória da Xiaomi no país e da relação conturbada da marca com o mercado nacional.
A entrada oficial da Xiaomi no Brasil aconteceu oficialmente em junho de 2015, mas os planos para que isso acontecesse começaram ao menos dois anos antes – mais especificamente com a entrada de Hugo Barra na Xiaomi, brasileiro egresso do Google que entrou na fabricante chinesa com o objetivo de liderar a divisão de internacionalização da empresa.
Barra foi o responsável pela apresentação da marca no Brasil, com o lançamento do RedMi 2, um modelo intermediário que desembarcou no país por impressionantes R$ 499. O Redmi 2 Pro também seria lançado pouco tempo depois.
Para garantir o preço baixo, a Xiaomi apostava na mesma estratégia que tinha em seus mercados bem-sucedidos: os chamados "eventos de vendas", janelas limitadas de tempo nas quais o site da Xiaomi abria para as vendas do modelo.
A comercialização também seria feita exclusivamente pelo site da empresa, na expectativa de controlar o estoque e excluir as varejistas do processo, reduzindo assim os custos da operação e o preço final do produto.
Não demoraria muito tempo, no entanto, para a estratégia mostrar os primeiros sinais de que não daria certo.
Como indicou uma reportagem do Manual do Usuário publicada em maio de 2016, menos de um ano após a chegada da Xiaomi no Brasil, a empresa já teria planos de deixar o país já naquela altura.
Um dos motivos seria o fim da Lei do Bem, dispositivo que dava isenções fiscais para empresas que vendessem determinados modelos de celular com parte da fabricação no Brasil. A regra deveria seguir até 2017, mas foi suspensa temporariamente em dezembro de 2015 – abalando o planejamento da empresa, que apostava na exoneração para manter sua produção no país.
Fontes da publicação indicaram que a fábrica da Foxconn em Jundiaí, parceria da Xiaomi na produção do Redmi 2 Pro, já havia cessado a produção “há meses”.
Ainda de acordo com a publicação, a prática da venda diretamente pela Internet também não foi uma ideia bem recebida pelos brasileiros – que gostam de experimentar smartphones ao vivo em varejistas antes de adquirí-los. Em setembro, a Xiaomi desistiu da estratégia direta e começou a vender modelos em parceria com a Vivo.
Uma fonte informou então ao site que a empresa teria vendido apenas 10 mil celulares por mês no país, um número baixíssimo quando comparado aos resultados do mercado brasileiro naquele ano. Na sequência, os números foram corroborados pelo blog Bastidores das Empresas, da IstoÉ Dinheiro.
Ao Manual do Usuário, a Xiaomi afirmou que não estava deixando o país, mas sim “expandindo os canais através dos quais vendemos nossos produtos”, o que incluiria novas parcerias com varejistas como Walmart, CNOVA, Webfones. Nos meses seguintes, no entanto, a empresa mudou para um escritório menor no Brasil, moveu sua equipe de marketing e redes sociais para Pequim e deixou de atualizar sua página oficial da Xiaomi Brasil no Facebook.
Em janeiro de 2017, Hugo Barra anunciou que estava deixando a empresa – sua casa nova seria o Facebook, onde começou a se envolver com projetos relacionados a Oculus.
Com a saída da empresa, consumidores brasileiros que quisessem adquirir smartphones da Xiaomi passaram a ter como a única opção empresas especializadas em importação, que passaram a vender os melos da companhia, mas sem ter relação direta com a fabricante chinesa – o que significa, por exemplo, que os produtos não são homologados pela Anatel e que os usuários não tem suporte técnico oficial sobre os produtos.
A situação só iria mudar em fevereiro deste ano, quando a empresa brasileira DL Eletrônicos confirmou ter fechado uma parceria com a Xiaomi para distribuição de produtos da fabricante no país.
A parceria começaria com dois modelos, o Redmi Note 6 Pro e o "premium acessível" Pocophone F1 – ambos seriam vendidos através das lojas físicas da Ricardo Eletro. Além dos dois, a DL também homologou os modelos Xiaomi Mi 9, Mi 8 Lite e Redmi Go junto à Anatel.
No mês seguinte, a conta oficial da Xiaomi Brasil no Twitter voltou a ativa, postando um pequeno vídeo institucional junto a uma mensagem. "Inovação para todos, essa é a nossa missão. Estão prontos para que isso aconteça no Brasil de novo?", questionou a empresa na rede social.
O próximo passo veio neste mês, quando a Xiaomi e a DL confirmaram um evento para esta terça-feira (21) prometendo novidades. O evento deverá esclarecer como exatamente será o retorno da empresa ao país.