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Review: Resident Evil 2

Com remake, Capcom cria mistura incrível de passado e presente da série

Por Victor Ferreira 22.01.2019 13H00

Resident Evil 2 sempre teve um lugar especial para mim como jogador.

Por meio dele, jogado em meu saudoso Nintendo 64 há quase 20 anos atrás, descobri não só esta série, como também ao próprio conceito de jogos de horror como um todo, e muito do que os torna tão interessantes: a sensação constante de insegurança, a falta de recursos à sua disposição, as criaturas bizarras tão difíceis (ou até praticamente impossíveis) de se derrubar...

Desde então, a franquia passou por evoluções e reformulações, às vezes dando maior foco à ação como em RE4, até a volta aos aspectos de horror em RE7.

E agora, 20 anos depois, a Capcom conseguiu uma maravilhosa união destes dois conceitos no remake de Resident Evil 2.

Divulgação/Capcom

Para quem não conhece a história, RE2 conta a saga da dupla Leon Kennedy, um policial novato a caminho de seu primeiro dia de trabalho em Raccoon City, e Claire Redfield, uma jovem que vai para a cidade descobrir o paradeiro de seu irmão Chris, um dos heróis do primeiro game.

Infelizmente, os dois se conhecem na pior circunstância possível: um ataque de mortos-vivos que transformou a cidade em um pandemônio.

Após serem separados e em busca de abrigo, cada um segue para a delegacia de Raccoon, onde acabam se envolvendo em um mistério envolvendo armas biológicas e a sombria empresa que controla todos os aspectos da cidade, a Umbrella Corporation.

Divulgação/Capcom

Nesta nova versão, RE2 diz adeus aos ângulos de câmera fixos e controles de tanque e olá a um sistema de movimentação e combate semelhante ao de Resident Evil 4 e seus sucessores, com a visão em terceira pessoa por cima do ombro do personagem.

Desta vez, porém, a Capcom encontrou um ótimo meio termo entre as mecânicas de combate dos jogos de ação com o survival horror: como no RE2 clássico, há um número relativamente limitado de munição para suas armas espalhados pela delegacia e seus arredores.

Embora o jogo seja bem mais leniente quanto à quantidade de balas em relação ao original, é preciso sempre estar de olho no quanto você tem de sobra, já que inimigos essencialmente nunca derrubam munição, e combinar frascos de pólvora é a outra forma de conseguir manter suas armas carregadas.

Por isso, como nos primeiros jogos da série, muitas vezes a melhor estratégia é evitar disparar um tiro, desviando dos zumbis na hora certa ou atraindo-os para longe para abrir o espaço necessário para fugir sem ser mordido.

Isto forma um excelente equilíbrio entre os dois estilos de Resident Evil pelos anos, com mecânicas de tiro satisfatórias misturadas com o gerenciamento de recursos e equipamentos de um survival horror clássico.

Divulgação/Capcom

Resident Evil 2 também encoraja exploração, e a delegacia de Raccoon - e o que está conectado a seus arredores - é um ambiente rico e cheio de segredos a serem descobertos.

Para isso, porém, o jogador deve se aventurar em salas e corredores inóspitos, cheios de monstros que tem como principal objetivo devorar suas entranhas.

Relacionado a isso, uma das melhores - e mais estressantes - mudanças em relação ao original é a expansão do papel da criatura Mr. X (aqui conhecido apenas como Tirano, ou Tyrant).

Enquanto ele era um inimigo ocasional nas campanhas B do jogo de 1998, agora ele é uma presença recorrente, que perambula pelo prédio em diversos momentos da história.

E ele não para de te perseguir.

Você pode até tentar derrubá-lo, mas é inútil porque ele só vai se levantar e imediatamente seguir em seu encalço.

E a qualquer sinal de que você está próximo - como o disparo de uma arma, por exemplo -, só o leva direto para sua direção.

Isso cria uma das experiências mais tensas que lembro de ter jogado nos últimos tempos, tentando cumprir os objetivos e seguir com a história ao mesmo tempo em que tentava ao máximo não atrair a atenção do monstro.

Divulgação/Capcom

É uma experiência intensa, e só me fez pensar que talvez tenha sido o mais próximo que um jogo tenha chegado de recriar a tensão de O Exterminador do Futuro.

Não é possível falar do remake sem mencionar os gráficos.Por meio da RE Engine, a Capcom recriou o mundo de Raccoon City em detalhes estonteantes e horripilantes.

Dos modelos à iluminação e detalhes de cada área, a ambientação da delegacia é extremamente rica, mostrando a devastação e os horrores de Raccoon City sem precisar dizer explicitamente - e ainda fazendo referência a diversas salas icônicas do game original.

Os gráficos também retratam de maneira incrível a brutalidade da ação do jogo. Cada tiro na cabeça deforma os zumbis, ao ponto que os que conseguem sobreviver a muitos disparos ficarem totalmente desfigurados, com uma massa de carne e sangue no seu lugar.

Braços e pernas atingidas podem derramar sangue e lentamente se desprender de seus donos, e explosões simplesmente dilaceram corpos.

Divulgação/Capcom

Isso sem falar nas mutações e criaturas relacionadas ao G-Virus, que dão um aspecto cronenbergiano a tudo.

Infelizmente nem tudo é perfeito, e o jogo peca em alguns aspectos. Admito que algumas críticas vêm da perspectiva de um fanboy que gostaria de ver suas cenas favoritas recriadas com maior fidelidade: A sequência de abertura, por exemplo, em que Leon/Claire atravessam as ruas de Raccoon City até chegar à delegacia - um dos meus inícios favoritos de um game - foi significativamente reduzida no remake.

Outros, porém, são mais graves: assim como no original, após completar a campanha principal de um dos protagonistas, o jogador desbloqueia a secundária do outro, conhecido aqui como Segunda Jornada.

Em teoria, eles funcionam como os "Scenario B" dos game de 1998, complementando os eventos do que aconteceu com um personagem durante a aventura do outro.

Em teoria.

Enquanto no game original, em que este modo trazia chefes e momentos diferentes da campanha "A", a Segunda Jornada é essencialmente a mesma história deste personagem em sua narrativa principal, com alguns quebra-cabeças com soluções diferentes.

De resto, tudo acontece mais ou menos na mesma sequência, o que faz com que todo o modo pareça supérfluo, já que as histórias não se complementam.

Ao contrário, elas até acabam se contradizendo, já que Leon e Claire enfrentam as mesmas criaturas em sequência parecida, e personagens repetem as mesmas ações e tem destinos bem diferentes dependendo de cada campanha.

Divulgação/Capcom

É possível que existam vários motivos para isso, de tempo de desenvolvimento a financeiro, mas é uma pena que o jogo de 2019 não tenha implementado algo que a versão de 1998 conseguiu adaptar tão bem.

Tudo isso acabou dando um gosto final um pouco amargo à experiência da análise do game, mas ainda assim, Resident Evil 2 é um remake como poucos, que consegue trazer e misturar diferentes elementos da série para criar uma experiência que deve agradar fãs da série, de games de horror, e até do gênero de ação.

Resident Evil 2 sai em 25 de janeiro para PC, PS4 e Xbox One.

O jogo foi testado em um PlayStation 4 para a análise.

Nota do crítico