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Review: Gears Tactics

Jogo de estratégia por turnos é simples, efetivo, e uma boa porta de entrada para o gênero

Por Victor Ferreira 27.04.2020 10H08

Quando foi anunciado lá na E3 2017, Gears Tactics logo atiçou minha curiosidade pela sua clara influência de alguns dos meus jogos favoritos das últimas décadas, XCOM: Enemy Unknown e XCOM 2, mas agora com os monstros e brucutus da popular franquia da Microsoft.

Três anos depois, finalmente tive a oportunidade de jogar esta experiência, e minha impressão é de o novo jogo da Splash Damage e The Coalition conseguiu costurar estes dois conceitos de uma forma bem-feita, mantendo um aspecto de estratégia, mas dando ênfase mais clara aos combates e a brutalidade dos tiroteios entre humanos e Locust.

Este foco nas batalhas e o apelo da franquia pode servir como uma porta de entrada para o gênero, já que ele oferece algo no modelo de títulos de estratégia mais desafiadores em um pacote mais acessível - embora seja importante notar que, até a publicação desta crítica, não tive a oportunidade de testar XCOM: Chimera Squad, que supostamente também traz uma proposta do tipo.

Passando-se 12 anos antes dos eventos do primeiro Gears of War, Tactics tem como protagonista central Gabe Diaz, pai de Kait, a protagonista de Gears 5, e mostra mais sobre sua origem e relação conturbada com a Coalizão de Governos Ordenados que controla o mundo de Sera.

Pouco antes da destruição de boa parte da superfície do planeta como forma de conter os Locust, Gabe - que agora trabalha como mecânico da forças armadas - recebe a missão de caçar o misterioso Ukkon, responsável pela criação de algumas das criaturas mais ameaçadores da franquia, como os Brumaks e Corpsers.

Para isso, ele deve formar um grupo de soldados especial, formado tanto por militares treinados quanto civis, e completar uma série de missões especiais para descobrir o paradeiro de Ukkon, o que o torna tão especial, e como pará-lo.

Além de Gabe, outros personagens centrais do jogo são Sid Redburn, major da CGO que o “recruta” para a missão, e Mikayla Dorn, uma civil que tem como principal objetivo manter seu povo vivo, e não tem exatamente uma opinião positiva da Coalizão.

(Com bons motivos, como quem acompanha a série deve saber)

Algo importante de se notar sobre Gears Tactics, e uma diferença importante em relação a XCOM em si, é sua ênfase em combate: ao contrário dos jogos da série da Firaxis, não há nenhum aspecto de pesquisa e desenvolvimento neste jogo, ou a necessidade de fabricação de novos equipamentos para os soldados ou sua base, e sim nas diversas missões e embates durante a narrativa.

É um modelo bem mais simples, mas não necessariamente raso: O jogo conta com cinco classes diferentes - Vanguarda, Batedor, Peso-Pesado, Sniper e Suporte - e cada uma delas traz uma árvore de habilidades com quatro tipos de especializações, que o jogador pode explorar e moldar conforme o personagem vai ganhando níveis

Você pode tanto recrutar soldados para seu esquadrão como também utilizar as unidades heróicas na forma de Gabe, Sid e Mikayla (e algumas figuras bônus, como Cole), sendo às vezes necessário levá-los (ou não levá-los) em certas missões.

Os combates em si, por sua vez, não se diferem em essência do modelo implementado pelas versões modernas de XCOM, com seus soldados e inimigos movendo-se no mapa por um sistema de grid, procurando a melhor forma de sair por cima nos embates, seja se protegendo atrás de barreiras, flanqueando, estabelecendo um perímetro ou - meu método ideal - explodindo tudo pelos ares.

Não é possível pesquisar ou desenvolver novos equipamentos, mas durante as missões o jogador encontrará caixas com melhorias importantes, tanto para suas armas quanto novas armaduras com melhor proteção e bônus passivos durante o combate.

As equipes tem um máximo de 4 pessoas, e é interessante e divertido juntar e misturar soldados de diferentes classes dependendo de que especializações, habilidades e equipamentos especiais você escolheu para eles.

O jogo também faz um bom trabalho ao adaptar os diferentes tipos de Locust para o sistema de classes do combate por turnos: Drones são soldados de base; Granadeiros tem muito mais vida e capacidade de movimentação, mas com ataques de curto alcance; Kantus podem dar buffs de defesa a seus soldados; Boomers são lentos, mas difíceis de derrubar, e seus tiros de granada podem acabar com um grupo que estiver próximo; etc.

As missões, por sua vez, costumam ter uma estrutura básica - resgate sobreviventes (que podem vir a se tornar membros da sua equipe); defenda posições no mapa; encontre equipamento enquanto foge de bombardeios; elimine os inimigos da área; e por aí vai - durante toda a campanha.

Para não cair na mesmice, estas missões ganham modificadores especiais, que ou impedem certos tipos de classes de participarem, ou trazem benefícios e malefícios especiais para forçar o jogador a não se prender a um tipo de estilo de jogo. Não só isso, como um incentivo extra, o game te desafia a cumprir certos objetivos extras para receber um novo equipamento especial.

Mesmo com estas mudanças na fórmula, ao fim do jogo eu já havia começado a me cansar um pouco da mesma rotação de estrutura de missões, embora tal qual XCOM antes dele, há uma sensação única de pavor e animação quando as coisas começam a dar extremamente errado.

Este nível de desafio, porém, só se torna mais prevalente em alguns momentos críticos do jogo, como em lutas contra chefes e algumas missões com modificadores muito agressivos, ao menos na dificuldade Intermediária.

Sou longe de ser um bom jogador de XCOM, e não jogo um game do tipo já faz algum tempo, mas mesmo estando enferrujado eu consegui completar boa parte das missões tranquilamente, e até o final da campanha não havia perdido nenhum soldado recrutado - algo um tanto inacreditável ao se comparar com meus memoriais a soldados caídos no jogo da Firaxis.

Mas, por outro lado, isso de certa forma se encaixa com Gears, e é uma boa tradução do estilo da série para outro gênero: enquanto XCOM coloca o jogador como uma pequena resistência contra forças alienígenas e difíceis de se compreender, o apelo da franquia da Microsoft é conter e aniquilar as hordas que ou bloqueiam seu caminho ou avançam sobre você.

Para deixar um pouco mais claro, raramente senti o mesmo nível de tensão e pavor em Gears Tactics do que em XCOM ao seguir pelos mapas das fases, mas é difícil sentir tanto medo assim quando se tem uma motosserra como baioneta - seus personagens até ganham uma ação extra se você usá-la!

De qualquer forma, porém, tendo jogado um pouco no modo Experiente, já foi possível identificar alguns desafios maiores que o jogador pode encontrar durante o combate, então minha sugestão é de fãs de longa data do gênero a começar desta dificuldade para cima.

Visualmente, os modelos de personagens estão ótimos, mas ao menos no meu computador as texturas dos objetos e partes do mapa parecem sofrer um pouco, embora isso seja realmente mais perceptível em cutscenes.

O game também conta com uma excelente localização em português do Brasil, com direito a dublagem com piadas e referências especiais para o público local.

No fim, Gears Tactics é uma diversão básica e acessível para o gênero de estratégia por turnos. O game não traz nada de extremamente inovador para este tipo de game, mas sua árvore de habilidades robusta oferece a oportunidade de criar algumas builds bem especiais de personagens para enfrentar os Locust.

Para fãs de Gears que não tiveram tanto contato com este tipo de jogo, acredito que seja uma boa pedida por não fugir tanto da proposta dos games de tiro da série, e por mostrar um pouco mais da família de Kait e da vida antes dos eventos de Gears of War.

Gears Tactics chega em 28 de abril para o PC, e será lançado no Xbox One no futuro. O teste foi feito na versão de Steam do jogo, que também será disponibilizado no Windows 10 e estará disponível no catálogo do Xbox Game Pass.

Nota do crítico