A maioria dos jogos inspirados por personagens dos quadrinhos que arriscaram criar um tipo de graphic novel jogável falhou miseravelmente. O resultado costuma ser tedioso, raso e sem foco em ambos os requerimentos principais de desenvolvimento de games: jogabilidade e narrativa. Ou seja, alguns costumam contar boas histórias em animações feiosas e colocam algumas partes jogáveis chatas para justificar. Ou vice-versa.
Injustice: Gods Among Us, novo game da NetherRealm é uma das belas exceções, o que lhe transforma em um jogo essencial para os fãs da DC Comics.
A história é uma surpresa agradável. Primeiramente porque o jogo propõe uma pergunta acertada: o que aconteceria se o Superman perdesse sua crença na humanidade? Esse é exatamente o tipo de premissa que leitores de quadrinhos querem ver em um videogame
E Injustice não pretende responder esta pergunta com somente um punhado de heróis: o jogo traz 24 personagens, e todos são interessantes, com golpes alinhados e especiais pra lá de divertidos. Para finalizar, o conto ainda traz especificidades dos quadrinhos, como universos paralelos e vilões atraentes e sedutores. O único problema do modo campanha é sua curta duração, ele deve tomar de três a quatro horas para ser resolvido. Por outro lado, melhor um belo roteiro em poucas horas do que muito tempo de embromação.
O cuidado com os lutadores e seus golpes
Já na parte jogável, o maior trunfo de Injustice é prestar uma bela homenagem, mas sem tentar emular, Mortal Kombat; o objetivo aqui é criar algo com ares de novidade. Isto é, mesmo que a mecânica básica de combate seja muito similar ao game de luta "mãe" do estúdio, há pequenas alterações que servem como um bom suporte para a criação de uma nova franquia. Especialmente em termos de cenário.
O que o jogador deve lembrar, mesmo que não exista um tutorial mais adiantado do título, é que não são somente os golpes especiais dos personagens que importam na hora das pelejas, mas sua interação com o cenário. É possível usar aquela moto que está no fundo, por exemplo. Uma das grandes diversões do jogo é descobrir o que cada lutador pode fazer nos cenários disponíveis. Assim, tentativa e erro valem muito a pena, pois nada supera a felicidade (com direito a sorrisão na cara) ao entender uma nova mecânica para explodir adversários.
Também há que se parabenizar a desenvolvedora por conseguir traduzir tão bem as habilidades dos heróis e vilões durante as lutas. Claro, os jogadores devem simpatizar com um ou outro golpe especial, mas isto faz parte da imersão. Contudo, a aplicação disto para a parte jogável só funciona bem no modo campanha. Injustice tem um problema sério de balanceamento, o que deve resultar em ver somente algumas das 24 possíveis escolhas na hora do multiplayer.
Quer dizer, mesmo que o Flash possa reduzir o tempo por alguns instantes, se seus golpes mais simples não estão em perfeito balanceamento com os dois outros lutadores, quem vai arriscar escolhê-lo? Não a maioria dos jogadores, infelizmente. A boa notícia é que isto pode ser resolvido via um arquivo de atualizaçãogratuito, e esperamos que a NetherRealm faça isso rapidamente. Um jogo de luta com este problema resulta em uma experiência multiplayer mais rasa, mesmo que o combate seja, sim, uma experiência profunda.
Também vale atentar-se à trilha sonora, bem acertada, e ao uso de vozes brasileiras que tem respaldo e experiência nos personagens que dublam. Para os fãs brasileiros é um deleite e uma viagem no tempo, onde você pode se lembrar de onde já escutou aquelas vozes familiares.
Escolhas possíveis
Mesmo com alguns problemas, Injustice: Gods Among Us é um jogo esperto, que soube utilizar o cardápio da DC. Isso também é aparente na variedade de jogabilidade. Há diversos modos para deixar o jogador que já acabou a campanha singleplayer entretido. Entre os melhores estão o S.T.A.R.S. Lab, que oferece 240 desafios, cada qual focado em um personagem específico; o modo de Batalha, que possui variantes bacanas, e ainda premia os jogadores com colecionáveis como artes, novas roupas, etc; e o modo online chamado Rei da Sala, em que oito jogadores se digladiam para definir quem é o bonzão da turma.
Acredite, há muito que fazer em Injustice. Para aqueles que são fãs de quadrinhos, mas não necessariamente versados em games de luta, a falta de um tutorial específico para cada lutador pode ser um problema. O jogo apresenta os golpes básicos, mas não há treinamento para pelejas mais avançadas. Talvez a única maneira de resolver isto seja assistir a um bando de lutas online, e perceber como jogadores mais veteranos utilizam seu personagem favorito. Em uma visão otimista pode se dizer que Injustice: Gods Among Us apresenta pequeninos defeitos somente porque tem a pretensão de criar uma nova série, de modo a rivalizar com Marvel Vs Capcom 3.
Com isso em mente, o jogo é um belo passo para, finalmente, termos uma saga de luta fundamental da DC. Mesmo com pequenos entraves, o videogame é notável, e mostra como fazer histórias em quadrinhos funcionarem de modo interativo, e como os episódios animados deveriam ser jogados. Mais do que isto, é indispensável para os fãs da DC.
Veja nossa entrevista com produtor Hector Sanchez