O conceito de "não se levar tão a sério" é uma praga em Hollywood. Ainda assim, Sonic 2 — O Filme consegue mesclar aquele humor simples e caricato do primeiro filme com algo absolutamente positivo para fãs dos jogos: fidelidade à obra original em um nível impressionante. Sonic, Tails e Knuckles estão juntos, finalmente, em uma das melhores adaptações cinematográficas de jogos de todos os tempos.
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Em vez de apostar naquela abordagem mais distante do material original, em que Sonic até enfrenta Robotnik, mas passa mais tempo criando laços com uma família humana do que sendo quem ele é nos jogos, o segundo filme, também dirigido por Jeff Fowler, traz um herói em construção bem mais consciente a respeito do que pode fazer pelo mundo e divertidamente atrapalhado.
Alternando constantemente entre ação e comédia, Sonic 2 mira, de certa forma, no público infantil, mas sem deixar os pais de lado. Algumas piadas, provavelmente, serão entendidas apenas pelos mais velhos, mas crianças terão muitas razões para se apegar ao mascote da SEGA. Aliás, isso vai muito além dele: Tails, um dos dois novos personagens, é inacreditavelmente adorável.
Poucas são as cenas nas quais Tails — a raposa com duas caudas que apareceu pela primeira vez no jogo Sonic the Hedgehog 2, de 1992 — não é um dos bichinhos em computação gráfica mais fofos na história do cinema.
Knuckles, o antagonista visto nos trailers, que ajuda Robotnik, também brilha como o clássico arquétipo do brutamonte ingênuo, que pode não ser a criatura mais brilhante da galáxia, mas é uma das mais honradas. E engraçadas, inclusive. Algumas cenas dele são simplesmente impagáveis.
Falando em piadas, é evidente que Jim Carrey voltou com tudo no segundo longa-metragem de Sonic. Nosso querido Robotnik, ou Eggman, está completamente maluco na sequência, o que deu a Carrey as desculpas perfeitas para agir de maneira ainda mais... Inesperada? Pense nos momentos mais escrachados de Ace Ventura ou Eu, Eu Mesmo e Irene. Multiplique por 200. Pois é... E quebrando a regra da comédia, o melhor ficou guardado para o final.
Se você estiver preocupado com os outros personagens humanos, aliás, fique tranquilo. Embora talvez um pouco menos presentes, o que pode ser bom para muitos espectadores, James Mardsen continua bem no papel de Tom, por mais simples que seja, assim como Tika Sumpter como Maddie. Os dois, agora acostumados com a existência do pequeno ouriço azul, parecem até mais amigáveis. Sem dúvida alguma, temos mais motivos para gostar do casal agora.
Também devemos ressaltar a "trama secundária" de Rachel (Natasha Rothwell) e Randall (Shemar Moore), que é completamente gratuita, mas excelente para os fãs da comédia pastelão. Um trecho específico me fez pensar imediatamente em As Branquelas, o clássico dos irmãos Wayans.
Mais do que os méritos individuais de cada personagem descrito, é a química do trio principal, formado apenas por criaturas animadas, que está no coração da experiência. Não faltam cenas que nos deixam com o coração quentinho. Para fãs de longa data da franquia Sonic — confesso ser o meu caso —, estamos falando de algo há muito esperado.
Vale destacar que, tendo assistido às versões dublada e legendada, consegui me divertir bem mais com o filme em português. Nossos Sonic, Tails e Knuckles (respectivamente interpretados por Manolo Rey, Vii Zedek e Ronaldo Júlio) são perfeitos. Simplesmente. Toda a equipe está de parabéns. O próprio texto parece ter ficado melhor por aqui.
"Uau! O filme é perfeito, então, meu camarada?", você pode estar se perguntando. Bom, é óbvio que não.
Conveniências de roteiro são regra em Sonic 2 — O Filme. Questões que, em tese, teriam resoluções extremamente complexas acabam sendo resolvidas de maneira totalmente improvisada. Aliás, até mesmo alguns detalhes da animação parecem mal acabados, como o contorno do Tails em determinadas cenas e uma ação específica do Sonic na primeira perseguição de carro.
Humor, como você já deve imaginar, também é algo extremamente relativo. Quem não conhece muito bem a franquia Sonic e espera ver um típico filme do Jim Carrey, provavelmente, se decepcionará. Tudo é muito mais amigável para o público infantil, então, o roteiro sempre esbarra na ideia do humor "bobo", pela perspectiva de um adulto.
Quando falamos em filmes de jogos, a régua é bem baixa. Portanto, reforço, sem receio algum, que Sonic 2 — O Filme é uma das melhores tentativas de Hollywood. Na verdade, devo ser sincero comigo mesmo: é a melhor.
Parece que, finalmente, estou pronto para abandonar minha posição enquanto defensor de Mortal Kombat (1995) nessa posição... Se bem que são filmes diferentes, então, os dois podem reinar juntos.