Clássico absoluto da empresa que hoje conhecemos como Square Enix, Chrono Trigger costuma ser lembrado pelos diferentes finais, personagens inesquecíveis e mecânicas divertidíssimas. Contudo, voltar a jogar pelo Steam pode nos fazer reparar em outros detalhes bem menores.
Tal qual tantos RPGs dos anos 1990, como o próprio Pokémon Red/Green, Chrono Trigger começa da maneira mais tranquila possível antes de se tornar um épico que envolve viagens no tempo e grandes atos heróicos.
Obviamente, quem jogou o game lá na época do lançamento — quando ainda tinha menos tempo de vida e, portanto, talvez até menos interesse em apreciar detalhes minúsculos — pode não ter dado muito valor ao que há ao redor de Crono nos primeiros minutos de jogo. Contudo, é impressionante como a realidade pré-viagem no tempo foi tão delicadamente pensada. Até comovente.
Ainda no quarto de Crono, por exemplo, podemos abrir ou fechar a cortina... Uma opção que parece totalmente desnecessária, mas foi colocado lá também para nos dar uma sensação de que aquele é o nosso espaço. É algo gratuito, mas contribui para, dentro dos limites da época, nos fazer sentir no controle do ambiente. É a casa de Crono. É o lugar em que tudo começa.
Depois, na sala de estar, podemos interagir brevemente com a mãe de Crono e também brincar com o gatinho da casa — que, mais tarde, podem ser dois se você vencer os desafios da tenda à direita, na tela principal do festival. Ah, o festival...
Na boa, pode parecer exagero, mas é surpreendente como, em um jogo de 1995, há tantas atividades opcionais na primeira meia hora.
Apostar em quem vai vencer uma corrida que se repete constantemente. Participar do desafio de imitar um clone bizarro do Crono. Recuperar um gatinho para a criança que o perdeu (sim, existem muitos gatos em Chrono Trigger). Beber tantas latas quanto possível de cerveja ou seja lá o que for aquilo. Dançar ao som de músicas ancestrais com Marle.
Todo o começo de Chrono Trigger não nós dá nem uma pista sequer da escala que a aventura terá nas horas de jogo seguintes. Tudo parece absolutamente cotidiano, assim como acontece no meu jogo favorito da vida: Final Fantasy IX.
Essa gradual evolução no tom da história faz com que o começo pareça ainda mais especial. Não fosse pelo acidente que gerou a viagem no tempo, aquele seria apenas mais um dia na vida de Crono — e jogadores podem aproveitar o mundano por quanto tempo acharem necessário, com direito até mesmo a uma economia pensada somente para o festival.
Bom, em 2022, dizer que Chrono Trigger é brilhante não chega a ser necessário. Ainda assim, reviver esses primeiros minutos do jogo estando mais velho e ciente de tudo o que virá depois foi uma experiência particularmente divertida, no meu caso.
Nunca deixe de voltar aos clássicos da infância ou adolescência, sejam jogos, livros ou filmes. Sempre podemos descobrir novas perspectivas encantadoras a respeito das obras que amamos.