Hoje em dia, é muito comum ver jogos megalomaníacos com mapas imensos, histórias épicas e combates cheios de piruetas ou magia. Na busca por grandiosidade, games de inúmeras empresas acabam se esquecendo do básico. Talvez por esse motivo, revisitar Beyond Good & Evil, clássico de uma Ubisoft que desapareceu, foi tão mágico.
Quando o jogo original foi lançado, lá em 2003, eu tinha apenas oito anos e ainda não possuía um PlayStation 2. Logo, não estamos falando de um game com o qual tive muito contato enquanto crescia. Cheguei a testar algumas vezes nos consoles de amigos, mas nada além disso.

Depois do anúncio do segundo jogo, senti uma curiosidade imensa de jogar o primeiro até o final. Somente então entendi, de fato, o que Beyond Good & Evil tinha de especial: autenticidade e coragem de fazer mais com menos.
No controle de Jade, navegamos pelo planeta Hillys, constantemente ameaçado pelos chamados DomZ, parasitas alienígenas extremamente agressivos. Os principais responsáveis por combater essas criaturas são os membros da Alpha Section, uma suposta força de defesa de Hillys. Digo "suposta" porque, como você descobre durante a história, eles não são exatamente quem as pessoas acreditam.

Em meio a toda essa confusão, não controlamos uma protagonista extremamente poderosa e bem treinada capaz de superar quaisquer obstáculos ou algo do tipo. Jade, a princípio, é apenas uma jornalista investigativa que cuida de crianças solitárias em um farol no planeta Hillys, junto com o tio dela, Pey'j, um porco antropomórfico.
Aos poucos, somos apresentados a um grupo secreto que tem como principal objetivo revelar a verdade para o povo de Hillys, um planeta incrivelmente diverso, com personagens de todas as formas que você imaginar; de humanos comuns até focas gigantes que andam e falam como pessoas.

O mundo de Beyond Good & Evil está longe de ser tão grande quanto os mundos abertos que conhecemos hoje, mas é absolutamente rico. Não apenas pela população diversa, mas também por trazer diferentes opções de entretenimento além das missões principais.
Podemos disputar corridas para ganhar dinheiro e pérolas, comprar equipamentos especiais para o barco de Jade e Pey'j que nos dão o direito de acessar áreas até então inalcançáveis; o espírito de exploração é altamente recompensado ao longo do jogo, sem que seja necessário passar 30 horas jogando para ver um terço do mapa. Podemos ver praticamente tudo em uma jogatina de 13 horas, algo extremamente raro hoje em dia.

Acima de qualquer coisa, talvez o principal encanto de Beyond Good & Evil, no meu caso, tenha sido a simplicidade dos objetivos. Quase tudo se resume a invadir bases e tirar fotos para obter as provas necessárias para revelar a verdade ao povo de Hillys. No processo, inclusive, podemos tirar fotos de todos os seres vivos, sejam amigáveis ou hostis, como se Jade fosse uma pesquisadora. Quanto mais espécies registramos, mais dinheiro Jade ganha.
Eu não sabia que precisava de um jogo em que salvar o mundo significa fazer um bom trabalho jornalístico. Quase todos os objetivos, principais ou paralelos, giram em torno disso, e eu fiquei simplesmente maravilhado com como algo tão simples pode ser tão incrível.

O combate em si não envelheceu tão bem quanto poderia, assim como o controle da câmera. Esses detalhes, entretanto, passam longe de comprometer toda a experiência. Aliás, eu estava com saudade de adorar fazer coisas simples, como saltar por cima de lasers, no maior estilo de filme de agente secreto, ou abaixar na hora certa para não ser atingido por um, por exemplo.
Lá no final, até acontece uma reviravolta meio megalomaníaca, mas, durante a maior parte do tempo, somos apenas pessoas comuns tentando revelar uma grande conspiração que engana todos os habitantes de Hillys.
Não sei se Beyond Good & Evil 2 um dia será lançado. Também não faço a menor ideia do que esperar de um novo jogo, apesar do final do primeiro deixar uma importante porta aberta. Só sei que, se a Ubisoft não desrespeitar os detalhes que fizeram do jogo original algo tão único, a experiência pode ser incrível.