No distante ano de 1994, a SNK Corporation já era bastante conhecida no gênero de games de luta, graças a títulos como Fatal Fury, Art of Fighting e Samurai Shodown. Mas, em 25 de agosto daquele mesmo ano, a companhia conduziria esse estilo de jogo para um novo caminho com o lançamento de The King of Fighters ‘94 (KOF 94).
Curiosamente, o projeto não era para ter sido um game de luta, pelo menos não a princípio: na verdade, ele foi concebido como um beat ‘em up 2D, e se chamaria “Survivor”. No fim das contas, acabou sendo renomeado com o subtítulo de outro jogo da SNK, “Fatal Fury: King of Fighters”, de 1991.
Choque no universo SNK
O título “The King of Fighters” era muito apropriado. Afinal, este era o nome do torneio organizado em alguns jogos das séries Fatal Fury e Art of Fighting. Com esta premissa de autoreferência, o título do game ilustrava muito bem uma das novidades em jogos de luta da época: os crossovers.
Este novo crossover, porém, não era com personagens de jogos de outras empresas (como Marvel vs Capcom fez anos depois, por exemplo). O encontro, neste caso, foi entre lutadores de diferentes títulos da própria SNK: não só Fatal Fury e Art of Fighting, como alguns jogos mais obscuros da empresa, como Ikari Warriors e Psycho Soldier, cujos personagens ganharam versões “reimaginadas” em KOF 94.
À frente de seu tempo
KOF 94 chegou primeiro aos fliperamas e depois ao Neo Geo, sendo relançado também para outras plataformas conforme os anos se passaram, devido ao seu sucesso de público e crítica.
Isso porque o game trouxe algumas novidades consigo que chacoalharam o gênero de jogos de luta, na época: seguindo o mesmo estilo de 4 botões (A, B, C e D) já estabelecido em Fatal Fury e Art of Fighting, sendo A o soco fraco, B o chute fraco, C o soco forte e D o chute forte; KOF 94 também implementou o sistema de times contra times, colocando 3 contra 3 ao invés do clássico 1 versus 1. Com isso, era preciso vencer a equipe inimiga inteira para ganhar a luta.
Este recurso era apenas uma das novidades do jogo. Além dele, havia mecânicas como a de evasão, e as barras de golpes especiais que podiam ser carregadas segurando ABC ou sofrendo dano do oponente.
Vale lembrar ainda dos Desperation Moves, técnicas secretas bastante poderosas que podiam ser usadas quando as barras de especial estavam no máximo OU quando a barra de vida piscava (menos de 20%).
E, claro, os já mencionados crossovers entre os personagens das diferentes franquias da SNK.
Todas essas características do gameplay faziam com que KOF 94 se destacasse no gênero de jogos de luta. A SNK havia conseguido, afinal, oferecer um título com mecânicas próprias e recursos inovadores - especialmente se comparadas aos demais games do mesmo estilo lançados naquela época, como Super Street Fighter II Turbo (falaremos mais disso adiante).
Fácil de aprender, difícil de dominar
Ainda assim, é seguro dizer que KOF 94 não era para qualquer um. Pelo contrário, os jogos da SNK não eram exatamente fáceis de dominar. O sistema de 4 botões oferecia muito mais complexidade do que, por exemplo, o de 6 botões dos jogos da Capcom (divididos entre 3 socos e 3 chutes de diferentes velocidades e força - leve, médio e forte).
Em KOF 94 também era necessário combinar direções e sequências de botões como em SFII turbo, mas havia variáveis na jogabilidade a partir de então (a esquiva e as técnicas secretas que dependiam das barras de especial). Todos esses detalhes deixavam o gameplay um tanto quanto complexo. Era extremamente fácil de aprender, mas difícil de dominar.
Isso sem contar o fato de que cada personagem que compunha os times possuía seu próprio moveset, ou seja, uma lista de golpes e ataques especiais com comandos distintos; além de prós e contras em características passivas, como a força e a agilidade, por exemplo.
Um vinho da safra de ‘94
The King of Fighters ‘94 não é o mais bonito da série, quiçá da safra de jogos de luta lançados na década de 1990. Outros títulos da própria SNK eram visualmente mais atraentes, tais como Samurai Shodown II, também lançado em 1994. Ainda assim, KOF 94 tinha estilo.
Todos os personagens, inclusive os originais, tinham um design próprio e que chamavam a atenção. E, mais do que isso, ao invés de distribuir um apanhado de estereótipos sobre os bonecos para que ilustrassem visualmente os países que representavam no torneio, a SNK resolveu apostar em 8 times com lutadores que pouco lembravam os locais indicados - com a possível exceção do China Team e USA Team.
Os cenários de fundo das batalhas, por sua vez, eram extremamente detalhados e remetiam verdadeiramente ao país indicado. E, se os gráficos in-game não eram um primor na época, vale ao menos destacar as belíssimas ilustrações dos personagens criadas por Toshiaki Mori, mais conhecido como Shinkiro.
A trilha sonora da edição ‘94 também não é das melhores, mas a composição de Masahiko Hataya, membro da Shinsekai Gakkyoku Zatsugidan (a SNK Sound Team) ajudou a estabelecer para sempre na franquia temas como Esaka, que é o tema do Hero Team (ou Japan Team); além de ressuscitar a canção Psycho Soldier, que acabou virando a música do China Team (ou Psycho Soldier Team).
E, não é preciso nem ressaltar, mas tanto em questão de gráficos como em trilhas sonoras, a franquia The King of Fighters apenas melhorou com o passar dos anos - tal qual um vinho, que fica ainda melhor ao longo do tempo. Ainda assim, KOF 94 faz parte de uma safra agraciada, saborosa ainda que tenha um teor amargo aqui e ali, mas que certamente marcou e inovou o gênero de jogos de luta após seu lançamento.