O anúncio de Grand Theft Auto: The Trilogy — The Definitive Edition foi precedido por rumores que destruíram completamente o sentimento de surpresa. No entanto, isso jamais seria o bastante para apagar o brilho de três dos maiores clássicos da Rockstar supostamente renovados de maneira cuidadosa. Se deu errado, a culpa não é dos vazamentos.
Evidentemente, é extremamente satisfatório poder andar pelos mapas de GTA III, Vice City e San Andreas sem que carros e árvores apareçam do nada a todo momento, mas digamos que otimizações tão básicas não são o bastante para encantar e manter jogador algum. Aliás, até isso dá errado de vez em quando, porque já vi carros e árvores brotarem na minha frente de repente mais de uma vez. Ainda assim, a frequência é menor do que era nos clássicos. Pelo menos isso.
"Ah, mas agora, os jogos possuem rodas de seleção de armas e de rádios parecidas com as de GTA V, né?" Legal, mas e aí? Quão relevante isso realmente é em comparação com tantos outros elementos nitidamente inacabados das novas versões dos jogos, que se destacam muito mais?
Rostos sem textura, inteligência artificial tão estúpida quanto há mais de uma década, animações totalmente ultrapassadas, prédios extremamente chapados, diálogos que não foram nem remasterizados. Não faltam pontos que mereçam ser criticados nas novas versões dos três títulos. De fato, quando esses jogos foram lançados, lá nos anos 2000, essas questões sequer eram problemas, mas hoje em dia a situação é completamente diferente.
É verdade que a comunicação da Rockstar não foi tão transparente antes do lançamento, já que se limitou a não usar os termos "remake" e "remaster" em vez de dizer explicitamente que não se tratavam de novas versões nesse sentido. A culpa da decepção não pode ser jogada apenas nas costas dos consumidores, que, portanto, tinham todo o direito de esperarem renovações mais decentes. É um caso muito único, quando pensamos na história da indústria, sinceramente.
Por incrível que pareça, GTA III talvez tenha sido o jogo que mais se beneficiou dessa proposta completamente ininteligível da Rockstar. Por ser o jogo do qual menos se esperava algo, acabou que fomos apresentados a uma versão que é muito superior à original e suficientemente modernizada. Foi, inclusive, o jogo que joguei por mais tempo na trilogia definitiva — que passa longe de ser, realmente, definitiva.
Talvez pareça inacreditável, mas até mesmo o sistema de mira de Vice City e San Andreas piorou consideravelmente. Ambos os jogos já não eram exemplo em termos de tiro mesmo quando foram lançados, mas era tão simples melhorar esse aspecto... Se tivessem literalmente copiado o sistema de tiro de GTA V, já estaria pronto. Nem precisava mexer além disso.
Contudo, por algum motivo, foi decidido que os alvos dos jogadores receberiam uma aura brilhante (no maior estilo Life is Strange) e os corpos não mais reagiriam aos tiros de maneira apropriada. O impacto causado por cada bala às vezes sequer despertam movimentos dedicados. Rola uma simples hesitação por parte do atingido e só.
Sério, chega a ser desesperador buscar motivos para elogiar a suposta trilogia definitiva de GTA. Não fossem as novas texturas e efeitos de iluminação, além do fato de que tudo no mapa carrega a tempo (na maioria das vezes), sequer existiriam pontos positivos.
A pergunta que não sai da minha cabeça é uma só: por que refazer só uma parte? Quem achou que seria incrível lançar um jogo renovado pela metade? Como algum ser humano chegou à conclusão de que animações datadas não se tornariam ainda mais problemáticas em um jogo um pouco mais realista?
Sabemos que atualizações cruciais foram prometidas pela Rockstar. Se, no lançamento, existiam cutscenes em que chovia dentro de espaços fechados, por exemplo, isso já não existe mais... Olha que avanço. Outras otimizações também serão implementadas com o tempo, mas falta muito para que a gente possa dizer que vale a pena jogar as novas versões dos jogos de GTA: The Trilogy.
Grand Theft Auto: The Trilogy — The Definitive Edition entra para a história como mais um lançamento absolutamente desastroso, no maior estilo Cyberpunk 2077, de 2020. Se seguirmos nessa tendência, temo muito pelos jogos que forem lançados no final de 2022. Será que grande jogos inacabados e mal otimizados se tornarão regra na indústria, já que sempre é possível corrigir tudo depois com atualizações? Não sei, mas espero, sinceramente, que não seja o caso.
- Lançamento
11.11.2021
- Publicadora
Rockstar Games
- Desenvolvedora
Grove Street Games
- Censura
16 anos
- Gênero
Ação
- Testado em
PlayStation 5