The Quarry é quase um clichê ambulante da Supermassive Games, mas no bom sentido. Um acampamento isolado no meio da floresta, um grupo de adolescentes com os hormônios à flor da pele e celulares sem sinal. O que poderia dar errado? Logicamente só faltaria um perigo mortal escondido na floresta para a fórmula perfeita de um filme slasher.

Esse subgênero de terror foi muito bem representado pelo estúdio de Until Dawn e a antologia The Dark Pictures em The Quarry, e o The Enemy foi convidado para jogar um trecho de cerca de uma hora do jogo no PC antes de seu lançamento em uma experiência single-player. Não foi o trecho inicial do game, mas sim um ponto da trama pouco depois disso.

E não se preocupem, não haverá spoilers da trama nesta análise.

Primeiras impressões da imersão

Através do trecho jogado, foi possível acompanhar os personagens em alguns momentos de descontração conversando e também uma situação de tensão frente a frente com o monstro que se esconde na floresta. E, em resumo, é sim um bom jogo para quem curte filmes slasher. 

O game é capaz de levar o jogador a uma imersão completa, seja através dos diálogos, podendo participar de decisões que vão moldando em partes a personalidade dos personagens e suas relações com os demais; seja precisando escapar de perigos e pensar rápido qual será o próximo passo torcendo para não escolher errado ou tropeçar e… bom, morrer.

Antes de mais nada, é importante deixar claro que o material analisado é uma prévia de um game que ainda está em desenvolvimento, então algumas questões encontradas durante o teste podem ser resolvidas até o lançamento do game.

Em alguns diálogos dá para sentir um corte seco, sem qualquer refinamento entre um take e outro de câmera que ainda está meio grosseiro. Além disso, há algumas ocasiões de repetição de palavras ou o fim delas nesses cortes, causando um efeito “sanduíche-íche”, que quebram a imersão na história.

The Quarry
Divulgação: Supermassive Games

Poder de decisão do jogador

Em diversos momentos, o jogo vai dar ao player algumas opções para serem escolhidas. O estúdio inclusive promete que as escolhas importam para o rumo da história. Isso é legal para fazer o jogador se sentir no comando numa primeira run, mas, ao menos no trecho jogado, ao repetir o teste mais duas vezes buscando ao máximo escolher opções diferentes, ficou claro que a importância das escolhas não é tão grande assim para o rumo da história. 

Com as escolhas há muita sensação de controle, mas há ações imutáveis na trama. Pelo menos é essa impressão que passou durante as tentativas de mudar a história. Escolhendo opções diferentes e mesmo tentando matar um personagem, a gameplay avançou bem similar em todas as runs. Isso é um pouco frustrante após o anúncio de que há 186 finais únicos no jogo.

Isso inclusive levanta um questionamento de quão diferentes, importantes e necessários são todos esses finais. Muitos podem ser apenas um detalhe diferente que não tem influência real no desenrolar da história, assim como em NieR: Automata.

Ainda assim, é possível esperar cenas de ação emocionantes, fazendo o jogador reagir várias e várias vezes para correr, pular obstáculos, escalar e por aí vai. Até prender a respiração entra em cena neste momento, sim, há hora certa para segurar a respiração dos personagens para não serem detectados. O jogo inclusive coloca uma pressão de que basta apenas um errinho de julgamento pra ir tudo por água abaixo em uma fuga. Seja clicar num botão para evitar um tropeço ou garantir que o personagem não caia ao saltar longas distâncias. 

As consequências possíveis podem parecer bem claras e cruéis caso o jogador não faça o esperado para escapar. Essa pressão é muito bem construída, mas, conforme mencionado acima, o erro não necessariamente vai ter peso real nos acontecimentos seguintes. Se não está na hora de um personagem morrer ele não vai, não importa quanto você tente fazer ele ficar para trás para o monstro o alcançar. Há certos locais que vão ser visitados de qualquer forma, o jogo vai buscar ao máximo te induzir a ir lá por “escolha própria”, e certas coisas que vão acontecer de qualquer forma

Em teoria há também consequências no âmbito interpessoal. O jogo indica que o outro personagem ficou chateado ou entediado com a sua resposta ou ação e, no trecho do teste, ficou por aí mesmo. Não foi possível ver qualquer consequência. Apenas com o jogo completo ficará mais claro para que caminho essas reações vão levar.

Durante o game, o personagem que o jogador controla muda diversas vezes e não há poder de escolha quanto a isso. Mas é uma escolha bem legal para permitir o exercício da empatia pensando “como essa pessoa reagiria nessa situação”.

Uma coisa que deixou bastante a desejar, talvez por uma overdose recente de Life is Strange, foi a exploração de ambientes. Por mais que a publisher de The Quarry diga com orgulho que ela existe no jogo, não é das melhores. É possível interagir muito pouco com o ambiente e estritamente com detalhes específicos que fazem parte da composição da história. As interações são demarcadas por um feixe de luz que aparece junto aos itens, mas é preciso chegar bem perto para que ele apareça. O que pode ser um pouco frustrante ter que passar perto de tantas coisas que não tem interação para encontrar uma que tem.   

Mas é possível perceber o cuidado dos desenvolvedores de deixarem pequenos fragmentos de informação em diferentes detalhes de cena. O jogador vai sim se divertir criando uma “colcha de retalhos” com essas informações extras para desvendar mais sobre o que está acontecendo naquele acampamento e na floresta ao seu redor.

Realismo visual

Mas visualmente falando, a ambientação está bem construída, não podia ser diferente, afinal utiliza a Unreal Engine. Há bastante detalhes, texturas e jogo de luz e sombra em cena bem realistas. 

The Quarry
Divulgação: Supermassive Games

O elenco inclui estrelas de cinema como David Arquette (franquia Pânico), Ariel Winter (Modern Family), Justice Smith (Jurassic World e Detetive Pikachu), Brenda Song (Dollface) e Lance Henriksen (Aliens). E, realmente, todos os personagens parecem muito fisicamente com os atores que os interpretam. O que dá um quê a mais para os fãs desses astros, como se fossem realmente eles lá e não personagens digitais criados a partir deles. Já sua movimentação está ok, poderia ser mais refinada em alguns pontos, mas pode ser que esse aspecto do jogo ainda não esteja finalizado.

Acessibilidade

O game tem uma boa localização para o português, com linguajar bem coloquial e jovial, ou seja, vários palavrões “encantadores”. Pode ser jogado em português brasileiro ou em inglês com legendas, que inclusive são customizáveis para melhor atender as necessidades visuais de cada jogador. 

Vasculhando as configurações foi possível encontrar opções de acessibilidade, como três opções para daltonismo, assistência de mira, auxílio para disléxicos e até mesmo possibilidade de alteração de tempo de resposta de algumas ações (tempo de escolha, velocidade de interrupção e não respire). Além disso, é possível deixar configurada a possibilidade de rebobinar mortes, para aqueles que desejam ter uma segunda chance.

Também vale destacar que nem todas as features estavam incluídas nessa versão prévia. Por tanto, durante o hands-on não estavam disponíveis o co-op local, movie mode, o novo modo online e todos os tutoriais.

E agora?

Apesar de ter aspectos que deixaram a jogabilidade a desejar para as minhas expectativas, eu sou fã de filmes slasher e fui cativada pelo jogo por causa disso. Da forma como a trama e os personagens me foram apresentados foi rápido pegar carinho por eles e instigar minha curiosidade em relação ao monstro (O que é? Onde vive durante a temporada de acampamento? O que faz? Hoje no Glo… ops).

Foi muito interessante poder viver e sentir a emoção de forma mais ativa em situações típicas desse tipo de filme. Testar a teoria de espectador de “se eu estivesse lá faria diferente”, e confesso que falhei miseravelmente em algumas escolhas fazendo igualzinho.  

Há muitas pontas soltas e perguntas que apenas jogando o game completo poderão ser respondidas. E já tá quase na hora disso acontecer. 

The Quarry chega no dia 10 de junho para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC Windows (via Steam).