Cidade do México, 14 de fevereiro. Os segundos passavam rápido na etapa classificatória latino-americana de Halo World Championship. A disputa era séria e além de oferecer US$ 30 mil ao campeão, também valia uma vaga no mundial de Halo 5: Guardians que acontecerá em Los Angeles, com uma premiação maior que 2 milhões de dólares. A equipe mexicana estava jogando contra a colombiana e todos observavam a tela segurando o ar. Um tiro acertou em cheio um dos jogadores colombianos e a bandeira caiu. Os mexicanos da Chosen Legacy soltaram diversos gritos e então diversas palmas encheram a sala. Mesmo com o clima de competição, todos aplaudiam quando as jogadas eram boas - um sinal misto de respeito e amizade.

Os argentinos da equipe Gideon usavam pulseiras com as cores da bandeira colombiana. Mesmo já eliminados, eles estavam torcendo para os colombianos do time Insane OnFire por terem se conhecido há tempos em um torneio online.

Há poucas pessoas que jogam competitivamente na América do Sul em comparação ao México ou aos Estados Unidos. Nos conhecemos na competição e hoje em dia falamos não apenas sobre o jogo, mas também de coisas pessoais”, diz o argentino Walter González.

Time argentino Gideon usando pulseiras da Colômbia em apoio à equipe Insane OnFire

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Mesmo depois de desclassificados, nos vieram falar que deveríamos continuar e treinar mais. Pensei que o ambiente aqui seria diferente, com um ar muito competitivo sem que as equipes conversassem entre si. No final, todos foram muito amáveis e nos fizeram sentir em casa”, comenta Federico Sofio, também jogador da Gideon.

Esse foi o primeiro evento presencial de Halo reunindo os melhores times da América Latina e apesar de algumas rivalidades históricas envolvendo alguns países dessa região, no final, são todos hermanos.

Formar laços é, de certa forma, um legado na comunidade de Halo em geral. Desde o primeiro game da franquia, muitos jogadores possuíam a tradição de jogar no mesmo local em split screen. Apesar de Halo 5: Guardians ter retirado essa opção no jogo, agora a Microsoft investe em outra maneira de cativar o lado social de seus usuários: os eSports.

Além de jogar, também temos muita história. Nos conhecemos há nove anos, desde Halo 3. Começamos a afinidade na live e antes desse campeonato, eu nunca tinha visto o Luciano [colega de equipe]”, explica Andrey Mello, jogador da brasileira GG Team. “Digo que são meus melhores amigos porque dedicamos nosso tempo a isso. Damos risada online, convivemos online e reunir pessoas tão importantes em um evento presencial desses não tem preço”, finaliza.

Brasileiros da GG Team

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A relação entre os integrantes do time ultrapassou barreiras físicas, chegando a uma estima tão grande que o grupo compartilha até momentos cruciais de suas vidas entre si. “Nossa amizade é de tão longa data que o Thiago [companheiro do time] me convidou para ser padrinho do casamento dele. Para você ter uma ideia, eu não conhecia ele pessoalmente até semana passada!”, diz Marcos Vinicius, capitão da GG.

Tenho amigos que moram na minha cidade, casam e não me convidam. Eu também recebi o convite de casamento do Thiago e eu não o conhecia pessoalmente antes, mas sou mais próximo a ele em comparação a pessoas que vejo sempre”, comenta Andrey.

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Por ser um cenário relativamente novo, é natural que a comunidade latina se una dessa maneira. O competitivo dos Estados Unidos já é muito bem formado e traz consigo os favoritos para ganhar o Mundial de Halo em Los Angeles, em março. Trazer um título para uma equipe regional seria uma vitória para todos da comunidade. Bianca Herrerra, técnica da Chosen Legacy, fala sobre isso: "Todos os jogadores da Chosen Squad são muito bons, a América Latina inteira deveria torcer para eles. Nossa equipe competiu contra eles mas eles ganharam, então temos que apoiá-los. Espero que façam o melhor que puderem no Mundial".

Esse ambiente familiar entre os competidores traz uma sensação de cenário muito diferente em relação a outros jogos como League of Legends, por exemplo, no qual é comum observar uma grande rivalidade e briga de egos mesmo entre companheiros da mesma equipe. Na comunidade de Halo, se configura uma grande família na qual todos se ajudam - mesmo se de vez em quando ainda existam aquelas disputas naturais entre irmãos.

Esse formato “caseiro”, por assim dizer, não se limitou apenas aos times. O próprio campeonato realizado em parceria entre a Microsoft e a empresa de competições ESL teve muitos aspectos que demonstraram como os esportes eletrônicos ainda estão sendo incorporados pela série Halo. O evento não foi aberto ao público e foi realizado em um lugar relativamente pequeno, mas para tudo se há uma primeira vez.

Aparentemente, foi um ótimo início de uma longa história entre Halo e os eSports - assim esperamos. Ademais, uma boa sorte aos hermanos mexicanos da equipe Chosen Squad no mundial. Com toda certeza, a América Latina inteira estará com eles na torcida.