A história do Japão é sempre novidade e parece mais divertida porque não é aquela que aprendemos na escola. Mas assim como a maioria, ela é seccionada entre períodos de guerra e paz, com aventuras retratadas com paixão em sua plenitude por autores de novelas e romances no geral. Governantes pintados como heróis ou vilões, haikus, tatuagens tradicionais e claro, jogos de videogame. Nioh é um desses jogos que mistura um contexto histórico real com um mundo de fantasia, “onis” e seres fantásticos dispostos à tudo pelo poder supremo.

O novo exclusivo da Sony é uma produção da Tecmo Koei que levou, mais ou menos, uns dez anos para sair do plano das ideias e ser propriamente finalizada. Versões alfa e beta do jogo foram apresentadas aos jogadores, de modo a entregar a experiência definitiva em seu produto final. O resultado não poderia ser mais satisfatório.

Criticado por muitos como um Dark Souls com samurais”, Nioh tem muito menos do clássico da Bandai Namco do que você imagina. É impossível não notar certas semelhanças, como o sistema de upgrade e a barra de vigor, por exemplo, mas a diferença no direcionamento do jogo, quando em mãos, é bastante nítida. Ouso dizer que Nioh deveria ser visto mais como uma versão RPG de Ninja Gaiden que qualquer outra coisa.

Mais uma vez caímos de cabeça na conturbada história do Japão, desta vez, no período de transição da Era Sengoku e o início do período Edo, também conhecido como o Shogunato Tokugawa. Do lado dos “mocinhos” temos Ieyasu Tokugawa e seus aliados, enquanto os vilões são comandados por Oda Nobunaga e seu exército (ou algo parecido, já que historicamente Nobunaga faleceu antes de 1600, data do início do jogo).

Seria apenas mais um jogo de época, não fosse a participação de Edward Kelley, famoso ocultista britânico, como manipulador da coisa toda. Kelley é conhecido historicamente por feitos como a transmutação do metal em ouro, a criação da Pedra Filosofal e o que nos interessa, a habilidade de invocar e aprisionar espíritos em gemas especiais, as quais ele almeja mais que tudo.

Outra figura histórica é William Adams, o primeiro navegador inglês a desembarcar em terras nipônicas e personagem principal do game. William e Kelley se enfrentam desde as primeiras horas do game, ainda fora do Japão. Toda a parte mística do jogo é guiada por Kelley, enquanto William segue em sua jornada (real) para o Japão em busca do que lhe foi tomado pelo vilão (ficção).

Se você é familiarizado com as histórias de Musashi (seja no mangá, nas novelas japonesas, filmes ou através do livro de Eiji Yoshikawa), já leu o romance Shogun, de James Clavell (também tem filme), ou mesmo jogou Sengoku Basara 3, vai se divertir em dobro com as releituras de personagens reais da história do Japão. Aprender técnicas de luta com mestres reais dos seus respectivos estilos (alguns vistos em Vagabond), fazer alianças militares com estrategistas reais e rever (e comparar) suas versões com as da Capcom é uma diversão extra que vale muito a pena. Prepare seu coração para aguentar a emoção de encontros épicos.

Uma jornada de paciência

Mas de volta ao jogo propriamente dito, desenvolver e aprimorar suas técnicas de combate é o que fará você seguir adiante em Nioh. Administrar seu vigor e aplicar golpes certeiros, “dançar” com seu inimigo frente a frente, ambos com suas defesas erguidas, preparados para arrancar cabeças com um único saque rápido de espadas faz qualquer luta parecer um duelo escrito por Akira Kurosawa.

Os menus são extensos, mas não se adiante ao jogo. Aos poucos ele lhe ensina como destravar habilidades, habilitá-las nos controles, gastar seus pontos de experiência, equipar seu personagem, preparar shurikens e magias onmiyou. Apesar de tudo estar liberado ao jogador mais curioso desde o instante que o jogo começa, vai de cada um esperar ou não.

Ao todo, são cinco armas principais que podem ser escolhidas. Cada qual exigindo atributos de constituição específicos. Espadas, lanças, machados, espadas com empunhadura dupla e a kusarigama (corrente e foice), cada uma dessas armas podem ser manuseadas em três posições diferentes retiradas diretamente dos manuais de luta japoneses. Vantagens e desvantagens de cada posição só dependem da situação em que você se encontra, então é bom variar.

É preciso tomar cuidado com o equipamento a ser usado também. Mais leve quer dizer uma melhor mobilidade ao personagem, com menos gasto de vigor, ao passo que extrapolar o peso impossibilitará a movimentação do herói. Da minha experiência, não há força que vença um adversário intocável.

As lutas são dinâmicas, e contra inimigos sobrenaturais é preciso lembrar de purificar certas regiões do campo de batalha, desvantajosas para o jogador (seu vigor passa a funcionar em uma velocidade muito abaixo do normal, entre outros fatores depreciativos). A purificação (um comando preciso realizado após os ataques do personagem) também acelera a recuperação do seu vigor, facilitando o combate também contra humanos, já que defesa e esquiva também consomem o fôlego do jogador.

A dificuldade do jogo pode separar mundos. A paciência é uma virtude de início, e o desespero fará qualquer luta do mapa parecer crucial. Mas é tudo questão de tempo. Aprender os vícios dos chefes de fase, manter sua distância e esperar o momento certo do ataque, sempre priorizando as fraquezas de seus oponentes é o caminho para a vitória.

Encontro entre mundos

É sempre bom lembrar que a experiência adquirida na fase pode ser perdida sempre que você for derrotado. É estressante em certos casos, mas não é nenhuma novidade. A novidade fica por conta dos duelos contra os espíritos dos demais jogadores que tombaram em suas respectivas partidas. Enfrentá-los requer paciência e acima de tudo, coragem, já que são lutas completamente opcionais e extremamente difíceis.

Claro que depois de enfrentar e derrotar Muneshige, qualquer desafio desses se torna um passeio no parque.

Um modo cooperativo serve como extra na hora de enfrentar novamente os desafios das fases já vencidas. O modo é uma mão na roda também na hora de vencer os embates das missões do Crepúsculo (Twilight Missions), extremamente mais difíceis que suas versões originais. Tudo em prol do replay.

Nioh é exigente. Não mais do que já se viu por aí dentro do gênero. Novamente, é um exclusivo menos casual no PlayStation 4, mas muito divertido e recompensador àquele que não desistir e lamentar suas próprias derrotas. Já dizia Miyamoto Musashi: “Em princípio, uma vez com a espada longa nas mãos, deve-se agir com o espírito de cortar o inimigo de qualquer maneira. Ao interceptar, desviar, fustigar, colar ou tocar a espada inimiga, deve-se ter a mente concentrada, sem vacilação, na oportunidade de cortar o adversário” (Gorin no Sho).

Confira nosso gameplay do jogo abaixo:

Nioh está disponível para PlayStation 4. Clique no nome da plataforma para conferir o preço em sua versão digital.

Nota do crítico