Halo tem um dos maiores universos dos videogames. Enquanto a saga principal narra a jornada de Master Chief, inúmeros livros, quadrinhos e demais mídias vão além do Spartan para abordar outros conflitos e personalidades. Assim surgiu a série derivada Halo Wars, há pouco mais de oito anos, se afastando das tradicionais miras de rifles para utilizar a visão de um comandante sob o campo de batalha.

Fruto de uma parceria entre a 343 Industries e a Creative Assembly, criadores de Total War, Halo Wars 2 retoma a história da tripulação da UNSC Spirit of Fire, 28 anos após os acontecimentos do antecessor. Dessa vez, a equipe do comandante James Cutter se vê ameaçada ao se deparar com uma facção rebelde na Ark, instalação Forerunner vista no final de Halo 3, onde um líder Brute tenta fabricar um anel para abrigar seus soldados insurgentes ao Convenant.

Mesmo comandando por um estúdio veterano no gênero, Wars ainda é um derivado de uma das maiores franquias da Microsoft e uma das maiores apostas do Xbox One em 2017, logo não seria possível apostar em um jogo para um nicho. Portanto, foram necessários alguns sacrifícios para criar um RTS que pudesse ser aproveitado até pelos mais leigos, seja no controle ou no teclado.

Essa noção de acessibilidade serve como ponto central da jogabilidade, que opera por algumas regras de fácil entendimento: existem dois recursos (Suprimentos e Energia) necessários para criar unidades, as quais são divididas entre Infantaria, Veículos de Solo e Veículos Aéreos. É uma dinâmica simplista que deixa a desejar no planejamento estratégico de algo como StarCraft, onde é possível antecipar os movimentos de seu oponente. Aqui, o combate funciona a base de respostas, observando o que foi construído e criando unidades prontas para derrotar uma ameaça já estabelecida.

Com isso, torna-se muito fácil pega-lo para tirar umas partidas sem ter experiência prévia com games de estratégia em tempo real - e esse é o seu propósito, afinal trata-se de um gênero cujo o apelo popular decaiu brutalmente desde o fim da década de 1990 e o avanço dos consoles de mesa. Halo Wars 2 será raso para os veteranos de RTS, mas é um ótimo ponto de partida para os novatos.

Por sorte, a campanha torna as coisas um pouco mais interessantes ao abordar os conflitos com foco cinematográfico, contextualizando os embates e alterando levemente suas regras a cada nova fase, o que diverte bastante. Em um momento é preciso montar defesas em uma praia com recursos limitados enquanto em outro você deve tomar e manter pontos de controle através do mapa, testando sua capacidade de administrar tropas em diversas situações simultâneas. Ajuda também que toda a apresentação não fique devendo em nada para a saga principal, com cutscenes espetaculares e uma trama de guerra empolgante o suficiente para te segurar por alguns minutos entre missões.

Um dos acertos mais interessantes de Wars talvez seja o vilão. Mesmo não combatendo-o diretamente em momento algum, Atriox consegue cativar com seu objetivo bem explicado e instigar com sua relação com o Covenant, ao qual não só foi exilado para montar sua própria facção como também ignora todas as crenças centrais que motivaram, por exemplo, os

Profetas da primeira trilogia. Não são características inéditas para a série mas ainda assim são bem vindas quando colocadas em comparação com o confuso Didata de Halo 4 ou a forçada vilã de Guardians. O encerramento deixa a entender que ainda veremos Atriox e a equipe da Spirit of Fire no futuro, talvez até mesmo nos títulos principais, então a 343i tem nas mãos a oportunidade de desenvolver um novo inimigo cheio de potencial.

Sendo da franquia Halo, o game também tenta dar atenção ao multiplayer mas é aqui que as limitadas estratégias realmente começam a pesar. Pensando nisso, a maioria dos modos de jogo - salvo os combates coop contra o computador - abrem mão de toda a parte de construção de base e coleta de suprimentos, te dando recursos ilimitados para criar tropas e sair na mão com seus inimigos. Há um incentivo para trabalhar com os demais jogadores mas a impressão que fica é, novamente, de ser um sistema raso, principalmente quando todos os demais elementos narrativos são retirados. Por sorte, a Creative Assembly investiu forte em uma modalidade específica.

Blitz é, sem dúvidas, o carro-chefe do online de Halo Wars 2. Trata-se de partidas de dominação, modo tradicional em jogos de tiro, só que sem bases ou recursos, e sim com todas as unidades e bônus sendo retirados de um baralho de cartas. Por mais que seja possível apontar que sofre dos mesmos defeitos do restante, a modalidade abraça o caos do imprevisível, te colocando para batalhar de acordo com o que você tem nas mãos.

Isso é justamente o ponto alto da experiência, que rende momentos de tensão e diversão, mas também a maldição que pode segurar uma possível cena competitiva do game, considerando que tudo é muito dependente de sorte - reclamação constante até mesmo em outros monstros dos eSports, como Hearthstone. Se Wars quiser trilhar o caminho de sucesso que seu progenitor, será preciso criar alguns padrões identificáveis para os jogadores que quiserem tornar-se mestres nos campos de batalha.

Se você não tem experiência com estratégia em tempo real, Halo Wars 2 é uma boa pedida. O derivado consegue inserir elementos da saga principal em uma campanha cinematográfica e divertida, que não requer muito esforço para entender suas regras. Infelizmente o mesmo não vale para quem já é versado no gênero, provavelmente se frustrando com mecânicas rasas, um multiplayer decepcionante e sem possibilidade de crescimento estratégico.

Trata-se de um caso complicado. É perceptível que a 343 Industries e a Creative Assembly tentaram ao máximo fugir da ideia de um jogo de nicho e, no fim das contas, isso não deve ser encarado com uma coisa ruim pois torna-se acessível para um maior número de jogadores.

Halo Wars 2 está disponível para Xbox One e Windows 10 como parte do programa Play Anywhere, que dá ambas as versões com uma única compra. Clique no nome das plataformas para ver o preço na loja digital. A crítica foi feita com base em ambas.

Nota do crítico