FIFA 16 | Crítica
A evolução de sempre, com uma pitada de inclusão
FIFA 16 é mais um atestado da competência da Eletronic Arts quando o assunto é futebol. Na liderança do mercado há pelo menos seis anos, a empresa conseguiu se manter ativa em inovações durante boa parte deste período - não há um biênio que a franquia passe sem uma evolução significativa. Em 2015, além das pontuais e sensíveis mudanças nos controles, cada vez mais manuais, o futebol feminino chega como um componente especial, representando a igualdade de gêneros de uma maneira digna.
As atletas ganharam um jogo para si dentro de FIFA, com velocidade, ritmo, peso e dificuldade originais. A ideia de reconstruir modelos e até o sistema de colisão fez com que a modalidade se tornasse um verdadeiro elemento de inclusão - aqui, o esporte é tratado com suas peculiaridades e devido respeito. É de se admirar que logo no futebol, um dos esportes mais machistas do planeta, e nos games, outro ambiente com estas características, tenhamos algo tão progressista.
Jogadores livres, bola mais viva
Apesar de aplicar a física da engine Ignite de um jeito diferente para homens e mulheres, a EA tratou de mudar os controles nas duas categorias. Nenhum outro FIFA tem a jogabilidade tão livre quanto esta edição. A franquia segue forte no caminho de deixar a simulação cada vez mais fiel e como algo que já vem de fábrica - é possível deixar o computador controlar muitos movimentos, mas de início quase tudo fica nas mãos do jogador. Antes, ter a posse de bola era uma sensação momentânea, que se tornava permanente a partir do instante que alguém fazia um domínio. Agora, a coisa mudou.
A bola está tão viva que, mesmo com ela no pé, temos a sensação de que ela vai escapar a qualquer momento - a não ser quando se está com jogadores fora da curva como Messi, Cristiano Ronaldo, Marco Reus e outros. A “liberdade” dada a bola se replica nos jogadores, que estão mais soltos, menos automáticos e mais responsivos. O game permite que se dê um drible sem a bola, uma jogada de corpo que realmente engana qualquer adversário - e isso é feito com as próprias mãos. O gingado necessário para Neymar balançar o corpo é necessário também nos comandos do joystick. Guardadas as devidas proporções, o realismo de FIFA se assemelha cada vez mais com simuladores de veículos. Movimentos distintos para resultados verossímeis ao extremo.
Mais chutes, menos facilidade e mais animação
Os chutes estão melhores e o modificado (usando o gatilho esquerdo) ficou menos injusto, pois há pelo menos dois FIFA o uso dele era garantia de gol. O surrealismo de chutes de primeira com força e pegada desproporcional acabou, e agora é mais comum ver até grandes jogadores jogando a bola na arquibancada após um rebote de escanteio. Fato é que FIFA 16 força o usuário a chutar mais de fora da área, pois a defesa está (automaticamente) melhor posicionada e dificulta a entrada na área. Os adversários cercam até conseguirem dar um bote certeiro na maioria das vezes. E esta ‘inteligência’ se repete no ataque, onde o computador procura passes mais abusados e jogadas menos ortodoxas - o domínio e a rapidez da bola também é um problema para eles.
Todo esse aparato torna FIFA 16 uma das edições menos democráticas com os iniciantes. Não é fácil avançar nos torneios nem no modo Carreira sem um treinamento básico, caso seja um novato. A EA se adiantou e melhorou os tutoriais, colocando instruções dentro da partida, algo que ajuda bastante, mas polui a tela - não há uma saída melhor do que isso, aparentemente. Os menus, por outro lado, continua poluídos, cheios de informação e lentos como sempre. Este parece ser um defeito que ninguém da franquia conseguiu desvendar a solução - assim como os cabeceios, pois a defesa continua com uma desvantagem sensível.
O visual avança de acordo com o esperado, dos uniformes até as feições de jogadores e torcida. As animações são mais fluídas e acontecem sem corte, com a naturalidade esperada de uma simulação fiel. O movimento corporal de alguns jogadores impressiona pela fidelidade - Gareth Bale, Messi, Neymar e até zagueiros-volantes como Javier Mascherano têm características pessoais no andar, nos toques e nas comemorações. Das tatuagens ao orvalho e a destruição no gramado, a EA dá um passo modesto mas aceitável nas melhorias gráficas.
Diferente disso são as mudanças em dois modos de jogo, o Ultimate e o Carreira. O primeiro ganhou o submodo FUT, a porta de entrada perfeita para quem quiser conhecer a melhor invenção da franquia. Uma pré-seleção de jogadores é colocada no início e deixa o usuário aproveitar o que há de melhor no Ultimate já de cara. É o caminho ideal para se viciar na aquisição de “cartas” e combinações perfeitas que o modo permite.
No Carreira as evoluções variam das meramente plásticas (customização do treinador e notícias em maior número), até o funcionamento mais justo do mercado. É preciso passar algumas temporadas jogando para ver se o comportamento dos times mudou e se tudo não está remoto como nos anteriores, mas a impressão é que as movimentações são mais aleatórias e os olheiros menos viciados.
O Brasil de FIFA 16
Para os brasileiros fãs do futebol nacional, FIFA 16 é a melhor opção, apesar de não contar com estádios locais nem quatro times: Flamengo, Corinthians, Goiás e Sport. Diferente de PES 2016, a EA optou por colocar os times 100% licenciados, por isso não há ninguém com nome fictício ou fisionomia muito fora da realidade. Os elencos não estão atualizados: Ronaldinho Gaúcho, maior transação do futebol brasileiro, não está no Fluminense ainda - um problema que deve ser arrumado com algumas atualizações. Não é o ideal, mas é melhor que o esperado. Ainda na parte que toca o usuário brasileiro, a narração de Tiago Leifert e Caio Ribeiro continua boa e agrega de forma positiva à experiência - eles agora comentam resultados de fora do jogo, destacam jogadores promissores e contam histórias ainda mais fora do assunto que o normal.
FIFA 16 ainda é líder de mercado e mantém essa posição com melhorias contundentes. Seria fácil ignorar a falta de concorrência nos últimos anos e se calcar em atualizações sem conteúdo, mas não é o que acontece. O avanço na simulação do esporte em si e, principalmente, a inclusão da categoria feminina fazem desta uma das melhores e mais importantes edições da franquia da Eletronic Arts.
FIFA 16 está disponível para PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 3, Xbox 360 e PC. A versão testada foi a de Xbox One.