Call of Duty: Infinite Warfare | Crítica
Infinity Ward ousa na campanha, mas joga seguro no multiplayer
Entre os vários anúncios da Sony apresentados na E3 2016, um jogo de tiro atraiu uma atenção cautelosa. Os comentários em redes sociais eram positivos para uma história com elementos de ficção científica e belas paisagens espaciais, unidos à velha temática de guerra que vigora no gênero. Para nosso espanto, o jogo era Call of Duty: Infinite Warfare, cujo trailer de anúncio, divulgado pouco mais de um mês antes, tornou-se um dos vídeos mais rejeitados da história do YouTube.
Essa sensação de surpresa é o que norteia o título desenvolvido pela Infinity Ward. Apesar das “descurtidas” e do repúdio geral do público (mais interessado, inclusive, em jogar o remasterizado Modern Warfare, que vêm de bônus em edições de luxo), o título faz do espaço sideral uma nova ambientação de forma competente, que joga seguro no multiplayer e traz uma boa campanha - possivelmente, uma das melhores que a franquia já viu.
Em Infinite Warfare, a necessidade da humanidade por recursos que o mundo já não podia suprir a levou para os confins do Sistema Solar. Essa busca, entretanto, levou ao surgimento de um grupo extremista de colonos chamado Settlement Defense Front (SDF), que toma Marte para si e inicia uma guerra contra a Terra. Novo cenário, velhos problemas.
A campanha de IW é, primariamente, de guerra, mas não faltam momentos que exploram as maravilhas da exploração espacial de um modo que as ficções científicas estão mais acostumadas a fazer. Você ainda vai invadir bases militares e atacar embarcações inimigas, mas, como agora elas se situam fora da Terra, abre-se o espaço para criar uma variedade de situações e sequências de ação - algo que CoD precisa desesperadamente.
A fronteira final
Ciente de sua situação atual em CoD, a atual Infinity Ward se superou. Com a reputação manchada pelo vilipendiado Call of Duty: Ghosts, a desenvolvedora encarregada do game neste ano não economizou na construção de cenários, com vistas deslumbrantes, combates em gravidade zero, missões furtivas em cinturões de asteróides, entre outros. Não faltam, também, opções diferentes do que fazer em cada missão, já que elas se alternam entre combates no solo e lutas em naves, uma das novidades deste ano.
As lutas de naves ocupam uma porção significativa da história de Infinite Warfare e foram elaboradas de forma bem acessível. Mais similares a helicópteros do que aviões em seus controles, os Jackals são bem fáceis de comandar e de atirar, e os desafios colocados nestes segmentos, que envolvem inimigos de pequeno, médio e grande porte, focam-se em deixar este tipo de ação no mínimo agradável para quem prefere só os tradicionais combates entre soldados.
Com toda a intenção de fazer de Infinite Warfare uma subsérie como Modern Warfare ou Black Ops, a Infinity Ward não economizou na elaboração da situação geopolítica entre o exército da Terra e os extremistas de Marte. A melhor forma de conferir isto é, veja você, em missões paralelas espalhadas pela campanha. É nelas que você tem a oportunidade de explorar vários pontos do Sistema Solar, como Plutão, Urano e Vênus.
Também chama a atenção a qualidade dos diálogos e da construção de personagens. Na pele do Capitão Reyes e ao lado de seus companheiros na nave Retribution, uma das poucas naves de guerra remanescentes após um ataque da SDF, Infinite Warfare cria um grupo de pessoas com sentimentos e emoções mais verossímeis do que a franquia já fez nos últimos anos.
Neste elenco, surpreendentemente, quem menos se destaca é o nome mais famoso, Kit Harington, que faz de seu almirante Salen Kotch nada mais do que um “Jon Snow do espaço”, raivoso e barulhento.
Entretanto, a jogabilidade em si é a maior coadjuvante desta campanha grandiosa, que conta com sequências visualmente impressionantes, mas não apresenta, em nenhuma sequência ou cenário, a densidade e complexidade de fases como a fábrica de Titanfall 2, por exemplo. Na história contada pela Infinity Ward, o gameplay é coadjuvante.
Um pacote completo, mais seguro
Se na campanha a Infinity Ward apostou todas as fichas em fazer algo diferente de seus antecessores, o multiplayer se mantém no território seguro e familiar dos combates rápidos e frenéticos da franquia. Depois de ser criticada pelas mudanças propostas por Ghosts em relação a Black Ops 2, o estúdio simplesmente seguiu a fórmula testada e comprovada no ano passado com Black Ops 3.
A movimentação, com seus pulos duplos e corridas na parede, é igual à do título da Treyarch - e, por consequência, similar à Titanfall, que apresentou a novidade lá em 2014. O sistema de Pick 10, que divide a escolha de equipamentos em dez pontos, também permanece inalterada após ter sido alterada, sem sucesso, pela Infinity Ward em Ghosts.
Até o sistema de especialistas, a principal novidade de Black Ops 3, ganha espaço em Infinite Warfare, ainda que de forma mais discreta - vão embora os rostos e nomes conhecidos, entram as “RIGS”, roupas de combate que dão uma habilidade passiva e um especial para cada soldado, tornando-se, enfim, mais uma das infinitas opções de personalização e customização de classes que CoD sempre ofereceu.
No campo de batalha, as coisas pouco mudaram, com Call of Duty oferecendo o familiar combate acelerado já estabelecido por Black Ops 3 no ano passado. O que piorou de 2015 para cá, talvez, sejam os cenários criados para Infinite Warfare, facilmente esquecíveis e cada vez mais reciclados - desta vez, nomes clássicos como Terminal vêm do passado para dar uma força ao game deste ano.
A falta de inovações no multiplayer de Infinite Warfare não precisa, necessariamente, ser encarada como algo negativo, já que a fórmula da qual o jogo pega emprestado seus elementos foi aprovada com louvor em Black Ops 3. Entretanto, pensando no jogo como a soma de suas partes, é curioso ver como o multiplayer, carro-chefe indiscutível de Call of Duty, tornou-se a parte menos memorável do game deste ano.
Fechando a trinca vem o modo zumbi, chamado Zombies in Spaceland. Começando uma nova história do zero, já que o arco contado em Black Ops finalmente se encerrou, a Infinity Ward teve espaço para ousar e o fez incorporando uma estética oitentista para dar uma nova cara a um tipo de partida bem conhecido: junte quatro pessoas em um cenário e sobreviva o quanto puder.
O cenário, no caso, é um parque de diversões, que cai como uma luva para o tipo de experiência proporcionada por Zombies. Com diversas seções desbloqueáveis e facilmente reconhecíveis, Zombies in Spaceland é talvez o mais acessível dos modos zumbi de Call of Duty até hoje, repleto de explicações e super poderes para dar cabo dos zumbis. Mas isso não significa que o modo não seja desafiador, especialmente em suas ondas mais avançadas.
Call of Duty: Infinite Warfare não merece o ódio que sofreu nos meses anteriores ao seu lançamento, mas também leva a franquia da Activision a um ponto inusitado no qual a campanha é mais atraente do que o multiplayer. Em termos narrativos, a Infinity Ward acertou e trouxe uma ótima campanha, mas o restante simplesmente repete o que já vimos no ano passado - desta vez, de forma mais acentuada do que em edições anteriores desta franquia anual.
Call of Duty: Infinite Warfare está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Steam). O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir o preço do jogo nas versões digitais.