Battlefield 1 | Crítica
Reverente à história, novo game da Dice recupera equilíbrio entre narrativa e jogabilidade
As pedradas sofridas nos últimos anos, com as péssimas campanhas dos últimos Battlefield e a inexistência desse modo de jogo em Star Wars Battlefront, deixaram a DICE em alerta. Para Battlefield 1, game que revisita a maior guerra da humanidade, a desenvolvedora preferiu não correr riscos e dá aos jogadores um modo de história simples, mas que é bem-sucedido em garantir o engajamento de sua narrativa.
Diferente dos games clássicos da franquia concorrente Call of Duty, que frequentemente optam por alternar o protagonista a fim de mostrar fronts distintos, este Battlefield traz segmentos curtos de história, que podem ser jogados de uma vez ou alternadamente. São cinco deles, em que cada detalhe foi cuidadosamente pesquisado pela DICE, mais um tutorial, que funcionam como uma antologia dedicada a apresentar fatos ocorridos entre os anos de 1914 e 1918, quando quase 20 milhões de pessoas perderam suas vidas na "Guerra das Guerras".
Em "Através de lama e sangue", três britânicos guiam um tanque Mark V através da França, em direção à cidade de Cambrai. Esse capítulo alterna combate motorizado e avanços através de mecânica de furtividade (que funciona bem!) em uma região enevoada e de densa vegetação. O segmento "Amigos nos lugares certos" é bastante parecido, trocando o controle de um tanque por um avião da Força Aérea Britânica, cujo piloto vai parar atrás das linhas inimigas. "Avanti Savoia!" apresenta a feroz tropa de choque italiana dos Arditi, focando-se exclusivamente em intenso combate a pé através dos alpes da Itália, com direito a uma armadura protetora.
Em "O Corredor", um herói de guerra australiano lança-se em uma missão suicida logo depois do desembarque nas praias de Galípoli, na famigerada Batalha dos Dardanelos na Turquia. Essa história equilibra combate e infiltração. Por último, no front árabe, temos "Nada está definido", em que uma guerreira tribal enfrenta, sob o comando de T. E. Lawrence - o Lawrence da Arábia, com absurda fidelidade facial - as forças do Império Otomano. Esta é a mais elaborada das histórias de guerra, com inúmeras possibilidades de resolução no maior mapa do game single player, da furtividade total à destruição mecanizada, que também podem ser combinados de maneira extremamente orgânica.
As histórias, que somam no total algo em torno de 8 horas, são variadas em tom e estilo e têm como única constante o drama humano e, claro, o tiroteio. Elas vão do realismo expresso no brilhante tutorial (protagonizado pelos Harlem Hellfighters, que joguei mais de uma vez) à aventura superlativa, inspirada em Indiana Jones, nos céus de Londres. De qualquer maneira, o game trata essas histórias o tempo todo com reverência e respeito, o pano de fundo perfeito para a já conhecida mecânica precisa do motor Frostbite (os pequenos bugs de colisão que experimentei não atrapalharam o andamento do game, assim como a um tanto aparvalhada inteligência artificial dos inimigos).
Essa qualidade narrativa curiosamente se estende também ao multiplayer. Todos os mapas são inspirados em batalhas reais, que são explicadas cuidadosamente antes do início das sessões de combate. Tudo absolutamente contextualizado.
Não espere, porém, um game interessado na simulação. Battlefield 1 pode cobrir-se de estofo histórico, mas suas mecânicas estão primeiramente preocupadas, como sempre na série, na competitividade e diversão. É possível marcar inimigos no campo de batalha, por exemplo, que se tornam visíveis a todo o seu esquadrão - algo que destoa da ambientação histórica. O controle de veículos e dos soldados também não diferem em nada do padrão do gênero. Há recursos de sobra para garantir horas de entretenimento, incluindo as épicas partidas de 64 pessoas que se digladiam por controle de mapas vastos. Os seis estilos de partidas seguem o padrão consagrado... capture a bandeira, supremacia, etc.
A novidade é um sistema de esquadrão, que permite que grupos de jogadores entrem e saiam juntos dos servidores. A categorização desses servidores, aliás, é de fácil entendimento. Suas localizações, pings e número de pessoas na fila listados e filtrados para a melhor experiência possível. A DICE modificou também redistribuiu habilidades e equilibrou algumas classes de personagens, mas isso só deve afetar brevemente a adaptação dos jogadores mais experientes.
Ao resgatar a intensidade cinematográfica dos combates em histórias cativantes e contextualizar suas batalhas multiplayer sem perder sua precisão, Battlefield 1 deve recuperar o interesse de uma classe de jogadores que andava afastada do gênero dos shooters, ao mesmo tempo em que mantém sua base de fãs. A memória da Guerra das Guerras tem em Battlefield 1, melhor game da série em anos, um recipiente à altura de sua importância.
Battlefield 1 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. O jogo foi testado no Xbox One.