Guitar Hero e a magia de uma era sem microtransações

Bastava jogar para comprar tudo o que você queria

Por Diego Lima 21.05.2022 20H00

Fãs de Guitar Hero, provavelmente, já repetiram determinadas músicas no modo Carreira com o objetivo de ganhar mais dinheiro e comprar aquela tão sonhada guitarra ou alguma cor específica para um instrumento desejado. Que momento lindo da indústria era o período dominado por PS2, Xbox e Nintendo GameCube.

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Experimente revisitar essa franquia clássica um dia. Não demorará muito até que você perceba algo extremamente positivo: todas as principais recompensas podem ser obtidas por meio do bom e velho esforço. Basta fazer shows nos bares de mentirinha, com guitarristas de mentirinha, pegar o dinheiro de mentirinha e comprar as guitarras de mentirinha.

Sem microtransações. Sem troca de dinheiro real por itens cosméticos ou vantagens. Bastava jogar tanto quanto a consciência nos permitia e trocar aquela grana falsa pelas guitarras que nos faziam sentir mais orgulhosos. Era tudo tão mais simples.

Harmonix/RedOctane/Activision.

Talvez este texto soe saudosista demais. Contudo, é difícil não sentir falta de um período da indústria em que as recompensas, por mais fúteis que fossem, não exigiam um centavo além daquilo que se pagava pelo jogo em si.

Obviamente, como eram outros tempos, quase nenhuma empresa lançava um jogo em consoles com o objetivo de ter milhões e milhões de usuários ativos todos os dias. Além disso, como os jogos eram, de forma geral, pagos, as microtransações chegavam a ser ridicularizadas quando surgiam.

Nada poderia preparar os jogadores daquela época para o que viria em seguida. Era inevitável que a transição de um mundo no qual microtransações eram, normalmente, algo risível para um mundo no qual microtransações são algo tão banal gerasse polêmicas, discussões e infelicidade.

Harmonix/RedOctane/Activision.

Lembre-se do lançamento de Star Wars Battlefront II, em 2017, por exemplo. Ou, antes disso, do infame caso daquele cavalo de The Elder Scrolls 4: Oblivion.

Comprar as guitarras de Guitar Hero 2 (que sigo jogando) em pleno 2022 me trouxe um misto de sentimentos positivos e negativos. Por um lado, foi bom voltar à realidade em que jogos nos compensavam de maneira mais amigável. Por outro, revisitar aquele mundo do início dos anos 2000 reforçou como muitas coisas pioraram desde então... E outras melhoraram drasticamente.

Me resta lidar com a realidade em que estou inserido. De qualquer forma, pretendo continuar mais um tempo no mundinho do passado, em que skins e quaisquer outros itens dependiam apenas da minha paciência de investir tanto tempo quanto podia nos meus jogos favoritos.