Lost Planet 3 | Crítica

Game desperdiça potencial em erros cruciais de jogabilidade

Por Míriam Castro 08.09.2013 00H00

Apesar do nome indicar que Lost Planet 3 é uma sequência, o game é um prelúdio à série de tiro em terceira pessoa lançada pela Capcom em 2006. Um Jim Peyton idoso e moribundo conta à neta como, cinquenta anos antes, deixou mulher e filho na Terra e chegou ao planeta gelado E.D.N. III.

Não é preciso ter jogado os títulos anteriores para entender a história. Aliás, o enredo pessoal é o ponto alto do game, que tem combate medíocre e falhas além da conta. As duas seções são mal balanceadas, aliando uma trama cheia de potencial a batalhas engessadas e sem criatividade.

Memórias da Terra

As mensagens trocadas entre Jim e a esposa são tocantes e lembram ao jogador o motivo de estar em E.D.N. III. O trabalho é árduo, mas paga bem o suficiente para manter o bebê, que ainda não completou um ano. Essa correspondência é agridoce: ao mesmo tempo, é enternecedor e desolador assistir às declarações de amor lembrando que ele não voltará para casa.

Bons dubladores garantem que a história pareça autêntica (a versão brasileira tem legendas em português). As animações de personagens não ajudam tanto. Por mais que sejam agradáveis nas cutscenes, tornam-se artificiais quando Jim tenta falar com os colegas na base. A voz sai naturalmente, enquanto eles ficam gesticulando como se fossem bonecos rígidos.

Tiros sem inspiração

Na mecânica de tiro em terceira pessoa quase não há novidades, exceto por algumas cenas em que é preciso usar uma faca para acertar um Akrid - tipo de monstro nativo de E.D.N. III. Eles aparecem em certa variedade, mas se tornam repetitivos com o tempo. A inteligência artificial destes inimigos é falha; é comum ver um ou outro Akrid atacando uma parede em vez de dar a volta pelo outro lado. Um dos alienígenas é interessante: age como um humano, se escondendo atrás de barricadas e atirando lasers no protagonista.

Akrids gigantes que servem como chefes tiram o game da monotonia. Porém, seus movimentos são repetitivos e previsíveis. Para tentar disfarçar que os monstros não foram tão bem pensados, são jogados em meio à batalha outros inimigos menores, insignificantes, que apenas irritam e distraem o jogador, criando uma falsa dificuldade extra.

Robôs e monstros

A inovação que traz mais expectativas é a possibilidade de pilotar a máquina mecanotriz de Jim, um robô humanoide repleto de acessórios, como gancho e furadeira. Só não há armas, o que as diferencia das Vital Suits dos games anteriores. É preciso confiar no combate corpo a corpo.

Por mais que seja verossímil, já que a tecnologia da mecanotriz é cinco décadas mais atrasada que a das máquinas dos outros games, a lentidão atrapalha o combate. O robô se torna passivo e tem que esperar que os monstros gigantes ataquem para, então, tentar segurá-los e contra-atacar.

O combate na mecanotriz é ainda mais irritante porque, para o contra-ataque, é preciso esperar que apareça o sinal para pressionar o botão correspondente. Bugs em meio ao combate são imperdoáveis, mas acontecem frequentemente quando a mecanotriz enfrenta um monstro. O ícone do contra-ataque deixa de aparecer em momentos cruciais, tornando as lutas experiências cansativas e frustrantes. Isto também acontece em outras áreas do jogo: ao ficar bem em frente a uma alavanca que precisa ser acionada, por exemplo, o jogador pode não encontrar o ícone. Se não estiver lá, tem que ficar andando em volta do local até que o game se lembre de mostrá-lo.

Seria ideal que o jogador pudesse trocar as formas de combate como preferisse. No entanto, em certos momentos a mecanotriz fica trancada ("Para sua própria segurança", diz o aviso na tela) e o jogador é forçado a usá-la mesmo quando tudo seria mais fácil com uma pistola. Para piorar a situação, em vez de ser ejetado do veículo quando os danos são altos demais, nestes casos Jim morre junto com a máquina.

As áreas de E.D.N. III são extensas e demora percorrê-las a bordo da lenta mecanotriz. Felizmente, em certo ponto do jogo Jim pode usar uma viagem rápida para chegar diretamente ao local que deseja explorar. Enquanto caminha pela vastidão branca do planeta, o protagonista ouve músicas enviadas pela esposa. O recurso, além de animar o jogo, é outra lembrança que conecta o personagem à Terra.

Com trama empolgante e personagens carismáticos, Lost Planet 3 poderia ser muito mais do que realmente é. O game erra em elementos cruciais de jogabilidade, transformando a diversão de jogar em uma tarefa difícil. Parece até que o jogador assume o papel de Jim Peyton, que só quer terminar aquilo logo e voltar para sua família - a vontade provocada é a de acabar o jogo, conhecer o fim da história e partir para algo melhor.

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Nota do crítico