CS:GO: Do Brasil a 40 países visitados: A história de Rato Feliz

Rato Feliz chegou anonimamente no cenário e conquistou a todos. Mas o que ele fez antes disso? Como viveu? Aqui contamos um pouco dessa história

Por Jairo Junior 13.06.2022 12H10

Rato Feliz foi uma grata surpresa do último RMR de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). Anônimo no cenário, o brasileiro chegou apenas para acompanhar a paiN Gaming e se tornou uma atração nas transmissões, com seus trejeitos e hang looses. Mas de onde ele surgiu? Qual é a sua história? Vamos descobrir um pouco disso na parte 1 do nosso papo.

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Sérgio, que é o seu nome verdadeiro, teve uma infância normal como a de qualquer criança. De Niterói, no Rio de Janeiro, sempre gostou muito de jogar futebol e fazer tudo quanto é tipo de esporte. Não à toa, é faixa marrom de Jiu Jitsu e completou um curso de mergulhador de resgate. Segundo ele, as pessoas também se impressionam quando ele pula corda.

O apelido de Rato veio dos seus amigos de infância, pois era muito dentuço e vivia sorrindo. A continuação do "Feliz" veio depois, mas essa parte não carece de explicações… Basta conhecê-lo um pouquinho das próprias transmissões e entrevistas, que entendemos de cara.

Aliado a tudo isso, também conheceu o CS:GO muito cedo e se apaixonou, nas épocas de lan house. O destino, no entanto, o separou dessa paixão por certo período, principalmente quando viveu o que ele chama de "primeiro choque na sua vida". O fato aconteceu aos 18 anos, quando ele serviu ao Exército Brasileiro.

"Lá ultrapassamos limites que achávamos que tínhamos, descobrimos o que é companheirismo, responsabilidade e até inveja e o amor. Você descobre tudo lá dentro. Eu fiquei apenas um ano no quartel, mas esse período serviu para me dar confiança e mostrar que eu podia fazer muitas coisas. Eu diria que foi uma transição de adolescente para homem adulto, que me preparou para eu me jogar no mundo. Fica até a minha indicação para o jovem que ainda não sabe exatamente o que quer fazer da vida, se alistar pode ser uma experiência transformadora", relembrou Rato Feliz.

Rato classifica a experiência no EB como "incrível". Inclusive, foi ela que o encorajou a almejar sonhos maiores e a morar fora do país. Na época, fazer algo assim era uma possibilidade muito maior, devido a pouca diferença entre o Real e o Euro, que não chegava a R$ 3. Foi assim que de "infância normal", ele passou a alguém completamente fora da curva.

"Minha primeira viagem foi em um curso de Inglês que paguei mil Euros. Rapidamente consegui um trabalho no Rickshaw e a parte boa é que eu não precisava falar Inglês. A única coisa que eu falava era 'show me the way'. Já o cliente só falava 'right', 'left' e 'keep going'. Isso também foi ótimo para treinar o meu Inglês, porque era um trabalho à noite, que é um momento que a galera está sempre mais alegre, às vezes até pela bebida, então são mais receptivos para conversar", contou Rato Feliz.

Desenrolado, Sérgio logo pegou as manhas do país. Fazia seu dinheiro no trabalho, juntava o que sobrava e fazia viagens pela Europa em companhias aéreas de baixo custo, ônibus, trem… Foi assim que ele visitou cerca de 20 países por lá e também descobriu uma nova paixão em sua vida, que era justamente viajar.

A sua louca rotina cessou por certo tempo lá em 2015. Foi neste ano que ele decidiu voltar ao Brasil e começar uma faculdade, pois era algo que todos os seus amigos faziam. Sérgio cursou engenharia por um ano, até que se inscreveu para trabalhar em uma empresa internacional durante as Olimpíadas, passou e ficou lá por cerca de seis meses ganhando uma boa quantia em dinheiro. O trabalho, no entanto, por ser puxado, pediu para que ele desse foco total e trancasse a faculdade. E assim ele o fez.

Novamente Sérgio economizou o dinheiro que ganhou e, parte dele, usou para reformar sua casa no Brasil. Já a outra, trocou em Euro e Dólar e foi realizar seu grande sonho de conhecer a Ásia, mais especificamente a Tailândia. E lá foi ele rodar pelo mundo…

"Na Tailândia eu tive o segundo choque da minha vida", cravou Rato Feliz. "Foi lá que virei vegetariano, aprendi a falar um idioma que jamais imaginei que falaria e morei em uma ilha que não tinha carro e nem moto. Eu fui para passear, mas no meu último destino me apaixonei, consegui emprego de garçom num resort na praia e fiquei por lá. Basicamente eu ficava lá por seis meses, que era a alta temporada do turismo e nos outros meses ou eu voltava para o Brasil ou voltava pro Rickshaw na Irlanda. Fiquei um bom tempo nesse corre", completou.

Já com gigantesca experiência, ele aplicou na Tailândia o mesmo esquema que fazia na Irlanda: juntava dinheiro e conhecia países vizinhos. Desta vez, até de barco ele viajou, para estender sua longa lista de lugares que já pisou. A propósito, essa é a lista do que ele lembra e tem anotado:

  • Brasil
  • Irlanda
  • Irlanda do Norte
  • Inglaterra
  • Escócia
  • Polônia
  • Hungria
  • Letônia
  • Lituânia
  • Finlândia
  • Rússia
  • Suíça
  • República Tcheca
  • Eslováquia
  • Alemanha
  • Malta
  • Itália
  • Espanha
  • Holanda
  • Croácia 
  • Vaticano
  • Áustria 
  • Tailândia
  • Laos
  • Camboja 
  • Vietnã
  • Indonésia 
  • Índia 
  • Malásia 
  • Singapura 
  • Myanmar 
  • Estados Unidos 
  • África do Sul
  • Marrocos
  • Portugal
  • Bélgica 
  • França 
  • Israel
  • Romênia 
  • Sérvia

"Eu vi e vivi de tudo. Viajar e conhecer novas culturas me trouxeram experiências e formas de enxergar o mundo que me mudaram totalmente."

Lembram da época em que falamos da infância de Sérgio? Foi lá que ele conheceu Biguzera. Primeiro ficou amigo do irmão mais velho de Bigu e depois do atual pro player da paiN, pois eram vizinhos e jogavam futebol juntos.

Desde então, eles mantiveram contato e Biguzera até foi estudar Inglês e trabalhar com Rickshaw na Irlanda, seguindo a call do seu amigo Rato Feliz. No entanto, o jogador não se adaptou tão bem ao trabalho: "Ele gostava muito de jogar CS. É o que ele sempre soube fazer muito bem".

No meio de tantas idas e vindas, a pandemia foi o principal motivo para arrasar com o estilo de vida de Rato Feliz. Em todos os países que passou, ele trabalhou com turismo e transporte na noite para festas e afins, que foram exatamente os negócios que cessaram neste momento complicado para o mundo inteiro.

Ele ainda tentou se segurar fora do Brasil por mais um tempo, deixou o voo de repatriação passar, mas logo se viu obrigado de vez a retornar. O problema é que ele não tinha como, mas mais uma vez viveu contornou a situação vivendo uma nova aventura que jamais imaginou viver…

Rato Feliz retornou ao seu país de origem porque arrumou um trabalho de voluntário, para levar cinco cachorros aos seus donos - os cinco animais também precisavam voltar para casa e não tinham como. Sérgio uniu o útil ao agradável levando os bichos de estimação e a si mesmo para casa.

"quando eu acho que já fiz de tudo na vida me aparece uma dessas!"

De volta ao Brasil finalmente, ele fez o que mais queria: matar a saudade da família e amigos. Viajar é ótimo, mas voltar para casa é tão bom quanto.

O tempo passou e Rato Feliz estava inquieto. Durante sua vida inteira, deixou claro que não era uma pessoa de criar raízes, mas sim alguém do mundo. Foi quando Biguzera começou a instigá-lo a se aplicar para  trabalhar na paiN Gaming e retomar duas paixões suas de uma só vez: os esports e viajar.

Essa história, porém, fica para um outro dia… Uma outra matéria… A parte 2! Aguardem aqui, conosco, no The Enemy.

Continua...

Foto: João Ferreira/PGL