Poucas franquias tem tantos personagens, cidades, criaturas e mundos tão conhecidos como Final Fantasy. A série de RPGs japonesa que está prestes a completar 30 anos de história está repleta de ícones que são reconhecidos por fãs no mundo todo. Seja Cloud e sua Buster Sword em Final Fantasy VII ou Terra com seu cabelo verde em Final Fantasy VI, ou quem sabe a doce Yuna de Final Fantasy X e até mesmo a não-tão-popular-assim Lightning de Final Fantasy XIII. A lista é quase infinita. 

Em World of Final Fantasy, derivado lançado pela Square Enix para o PlayStation 4 e PlayStation Vita, você tem a chance de navegar pela história da franquia encontrando rostos e cidades familiares a cada hora. O jogo é um verdadeiro passeio turístico por esse universo de fantasia tão grandioso. Na jornada de Lann e Reynn - gêmeos que acordam num local deserto sem memória, mas que fazem parte de uma profecia importante (isso é um Final Fantasy, afinal) - ganhamos a chance de encontrar velhos amigos e ter um tempo divertido.

É preciso entrar nesse jogo com as expectativas corretas. Você não vai encontrar uma história grandiosa, mecânicas profundas e complexas, e nem um grande nível de dificuldade que requer estratégias inteligentes e dezenas de horas upando de level para conseguir avançar. Para um fã, World of Final Fantasy é como uma viagem de estrada num feriado. Talvez tenha um ou outro buraco na estrada e você precise prestar mais atenção no que está fazendo, mas no geral, se encoste na cadeira, levante os pés e aproveite o fanservice eterno. 

A forma como WoFF funciona é simples. Lann e Reynn, os gêmeos citados acima, precisam descobrir quem eles são e salvar o mundo de uma ameaça maligna misteriosa. A premissa é simples e familiar, e como todo bom Final Fantasy chega num ponto onde você vai parar e pensar "o que é que vim fazer aqui mesmo?"

Para veteranos da saga, isso é algo quase que esperado. Para novatos, bom, há uma primeira vez pra tudo. Em sua jornada de amadurecimento, os jovens passam por dungeons e cidades familiares, como Cornelia do primeiro Final Fantasy e Saronia de Final Fantasy III, e nesses lugares ajudam outros personagens a enfrentar a Federação, um grupo militar que quer tomar a terra à força. 

A progressão é relativamente simples. Não há uma alto grau de exploração ou um mapa geral enorme. Na maior parte do tempo, você anda pra frente, explora ou um outro caminho alternativo, e enfrenta chefões para continuar progredindo. As dungeons tem algumas pequenas atividades que ajudam a tirar o jogo da mesmíssie no gameplay de momento a momento, e as cidades tem uma diversidade visual boa o suficiente para sempre criar um sentimento de novidade. Em outras palavras, não há nada muito inovador ou desafiante na mecânica geral, até as penalidades por morrer são pequenas. 

Entretanto, existe uma razão para isso. Por mais que a simplicidade de World of Final Fantasy possa ser um problema para o jogo - afinal, conforme as horas passam, as coisas ficam um pouco cansativas pela falta de complexidade - o propósito da Square é fazer você andar pela história num ritmo rápido porque você precisa encontrar os personagens clássicos, não é?

A troca de um desafio e profundidade mecânica maior por um ritmo narrativo e de progressão mais rápido funciona aqui simplesmente porque o roteiro do RPG é recheado de momentos. Horas que vão fazer até o mais antigo fã sorrir. Seja por uma referência feita ou até pela forma como o jogo tira onda dos próprios clichés e elementos de Final Fantasy.

E quando alguém conhecido aparece, é sempre um momento de felicidade. A quantidade de referências e momentos de nostalgia que preenchem esta história é enorme, e como há personagens dos 13 primeiros jogos presentes aqui, você nunca fica muito tempo sem ver um deles. Há algumas surpresas que eu não quero estragar, mas pode ter certeza que os principais nomes da franquia vão cruzar seu caminho em um momento ou outro. Vê-los em ação, mesmo na estética chibi fofinha de WoFF, é um grande prazer.

Em alguns casos, você também ganha a opção de invocar os personagens em batalhas - desbloquear isso, inclusive, é um dos processos mais difíceis do jogo, já que faz parte do side-quest mais complexo da história - e a satisfação de vencer uma luta utilizando estes heróis faz valer a pena sua inclusão na narrativa, que nem sempre tem uma explicação lógica, mas que não precisa ter. Afinal, Final Fantasy. 

Tudo é apresentado com um visual que, bom, só pode ser descrito como fofo. O design de personagens, itens e até de criaturas grandes e poderosas da franquia tem um elemento de brinquedos para crianças que cria um belo charme para World of Final Fantasy. É provável que nem todos fiquem felizes com essa escolha artística, mas o clima divertido me agradou ao ponto de que eu preferia que a Square Enix tivesse cortado as versões normais de pesonagens como Lann e Reynn completamente, apenas mantendo suas formas chibi o tempo todo.

O principal elemento diferencia World of Final Fantasy dos outros jogos da franquia, mas que também será familiar para veteranos de JRPGs, são os monstros no mundo do jogo chamados Mirages. Assim como em títulos como Pokémon ou Ni No Kuni, é possível capturar e treinar estas criaturas para usá-las em batalhas. A fórmula é semelhante, mas há alguns desbodramentos interessantes nela. Por exemplo, você escolhe duas Mirages para batalhar - elas aparecem em uma pilha na sua cabeça na hora do combate - e ao combiná-las, o jogador também está combinando suas habilidades e atributos.

Em outras palavras, combinar duas Mirages de fogo tem a vantagem de criar um arsenal incendiário poderoso que vai aniquilar inimigos de gelo num piscar de olhos - especialmente se as duas tiverem a mesma habilidade, que é então combinada para criar uma versão mais poderosa - mas, se ambas são fracas contra ataques de água, sua resistência nas lutas contra adversários capazes de te molhar será baixíssima.

Essa dinâmica é de longe o ponto mais interessante, mecânicamente falando, do jogo. Você precisa levar diversos fatores em consideração para criar seus times, e World of Final Fantasy faz questão de te manter espero quanto à sua estratégia. Talvez todos os monstros de uma dungeon sejam fracos contra ataques de relâmpago... mas então chega o chefão que tem uma defesa alta contra estes poderes.

Nos combates, isso se manifesta de maneiras interssantes. As lutas se desdobram através de um sistema por turnos e tempo. O famoso Active Time Battle (ATB). No geral, elas acabam bem rápido, especialmente se você está usando uma boa combinação de Mirages para aquele inimigo específico, mas eu sinto falta de um bom tempero nelas.

Há algumas mecânicas desnessárias como uma pilha de Mirages para o seu tamanho chibi e uma para o seu tamanho normal, ou a capacidade de montar e desmontar a pilha (que pode ser derrubada caso um ataque tire seu equilbrio). Estes elementos só atrapalham a fluídez das batalhas. E ao mesmo tempo que há elementos descartáveis, existe uma clara falta de um gancho interessante para deixar os embates mais dinâmicos, coisas que títulos recentes da franquia como Final Fantasy XII e até o polêmico Final Fantasy XIII tem.

Felizmente, o sistema de Mirages compensa isso quando olhamos o quadro geral. Sim, no momento-a-momento das lutas há uma certa falta de vida no combate, mas há um grande prazer em criar uma estratégia antes da batalha e vê-la funcionando bem. Derrubar os inimigos com velocidade e facilidade sempre é divertido.

Por mais que a satisfação de experimentar e encontrar uma boa combinação de Mirages seja maior do que estes problemas, é através deste ponto forte que o ponto mais fraco de World of Final Fantasy aparece. A interface, menus e o gerenciamento do jogo são uma bagunça. Há listas atrás de listas, e o caminho para entender, por exemplo, como usar uma magia de cura fora de uma batalha, é mais difícil do que precisa.

Gerenciar suas Mirages (cada uma tem uma árvore de habilidades e evoluções que podem ser revertidas) também é um desafio porque a forma visual e textual pela qual isso é feita requer uma certa capacidade de desvendar mistérios. Para um jogo que apresenta simplicidade em quase tudo, essa complexidade é tão inesperada quanto é desnecessária. Pokémon, Ni No Kuni, Persona e outros títulos com "criaturas pra usar nas lutas" dão um banho em WoFF no quesito de fazer o jogador se sentir no controle do seu crescimento e estratégia.

Ao fim de tudo, temos um jogo com um saldo positivo. Ele não vai fazer grandes ondas no mundo dos JRPGs e Final Fantasy - esse trabalho, afinal, é de Final Fantasy XV - mas World of Final Fantasy é o passatempo perfeito para jogar enquanto o próximo título numerado da franquia não chega.

World of Final Fantasy está disponível para PS4 e PS Vita. O game foi testado no PS4.

Nota do crítico