Conversar com Nolan Bushnell sobre a Atari é fácil.

O engenheiro americano é considerado um dos pais dos videogames e um dos grandes responsáveis pela criação do mercado dos consoles, trazendo dispositivos acessíveis aos consumidores que ajudaram a expandir a indústria dos games no mundo todo.

Mas Bushnell também é muito maior do que a Atari.

Aos 74 anos, ele ainda fala com prazer sobre a empresa que fundou na década de 70 e o sobre o papel importante que ela teve na indústria, mas confessa: não gosta da ideia de ser para sempre lembrado apenas por isso e prefere contar detalhes sobre seus projetos atuais.

E projetos atuais é o que não faltam na vida de Bushnell. Ainda ativo na indústria, ele agora trabalha em diferentes iniciativas que buscam alavancar novas tecnologias e tendências, mas – é claro – sem se afastar dos games.

Em uma conversa com o The Enemy durante sua segunda passagem pelo Brasil em 2017, para uma participação na Campus Party Minas Gerais, evento que aconteceu dentro da Feira de Negócios, Inovação e Tecnologia (FINIT), em Belo Horizonte, Nolan contou sobre alguns destes projetos atuais.

No mais avançado deles, a proposta é criar um sistema que facilite transações em aplicativos e jogos através do uso de blockchain – tecnologia por trás de criptomoedas como a Bitcoin.

Quanto mais você reduzir a fricção em um jogo, mais divertido ele será”, explicou Bushnell sobre a plataforma X Blockchain Games, um ambientes que será aberto para desenvolvedores colocarem seus jogos e conectarem-se ao modelo de transação.

A ideia é que o sistema seja particularmente útil para microtransações que envolvam crianças gamers, que poderão ser autorizadas pelos pais antes da autenticação e poderão ser canceladas a qualquer momento no caso de pagamentos recorrentes. A expectativa é começar os primeiros testes da plataforma a partir do segundo trimestre de 2018.

As criptomoedas ainda são muito voláteis”, aposta. “Acredito que as coisas vão se assentar, mas ainda que elas não se assentem, elas representam uma forma poderosa de se fazer novas coisas”.

Além da aposta em criptomoedas, Bushnell dedica hoje boa parte do seu tempo atual à Modal VR, empresa do setor de realidade virtual fundada pelo engenheiro em 2016.

Com o objetivo de criar experiências mais imersivas em VR, com latência inferior a 10 milissegundos e com múltiplos usuários simultâneos, a companhia deve produzir headsets que não chegarão tão cedo aos consumidores finais, mas poderão ser usados por outras empresas para criação de conteúdos mais realistas.

Segundo Nolan, a companhia deu um passo importante neste ano, com o lançamento de uma experiência em realidade virtual que simulava uma casa mal assombrada. O projeto foi utilizado por um parque de diversões durante o Halloween e atraiu uma boa quantidade de interessados. “Minha aposta financeira é que VR é muito importante em espaços públicos”, indica.

O desenvolvedor admite, no entanto, que experiências em realidade virtual ainda são “insuficientes” – e as compara a uma “sobremesa” em termos de usabilidade e experiência.

Ainda assim a aposta é em uma “ignição” da tecnologia a partir de 2018, principalmente por conta adaptação de Ready Player One, romance de Ernest Cline que explora a realidade virtual, para os cinemas.

Os dois projetos também dividem a atenção de Nolan com uma série de outras tendências da indústria que são consideradas “subutilizadas” pelo desenvolvedor e dignas de nota – ainda que não esteja com nenhum projeto paralelo ativo nesta áreas.

Uma delas é o retorno do jogos de tabuleiro, que voltaram a crescer em regiões como os Estados Unidos, com o surgimento de centenas de novos títulos complexos que podem ser jogados offline com amigos.

Diferente do Jogo da Vida da década de 60, no entanto, desta vez nós temos novas ferramentas tecnológicas que, de acordo com Nolan, poderiam expandir ainda mais a imersão destes jogos: smartphones, tablets e – principalmente – assistentes de voz. Para o engenheiro, é aí que mora a próxima ideia de um milhão de dólares do mundo dos jogos.

Elementos aleatórios, temporizadores, elementos de história, efeitos sonoros, música, dinheiro, tudo isso pode ser integrado por um assistente”, comentou. “Você vai vender mais hardware se tiver um bom software”.