Sunset Overdrive carrega os clichês de todos os jogos de mundo aberto. Repetição de missões, evolução gradual de armas e habilidades, customização de visual e missões secundárias espalhadas pelo mapa. O trunfo principal do novo trabalho da Insomniac Games (Ratchet & Clank), porém, está em tornar todos esses aspectos em um conjunto que, se não é inédito, ao menos é divertido e bem executado. E mais importante: consegue rir de si mesmo e conversar com o jogador como poucos títulos conseguem.

A intenção de Sunset é inserir o espectador não só pela jogaibilidade simples e pelo colorido de suas explosões. O negócio aqui é conversar diretamente com quem segura o controle, quebrar a "quarta parede". A partir de referências (Breaking Bad, Apocalypse Now) e piadas que julgam o desempenho do jogador, a experiência se torna algo diferenciado, sem obrigatoriamente explorar o potencial tecnológico do Xbox One. O texto cômico e despreocupação com qualquer estrutura narrativa faz desse um dos melhores games da primeira leva de exclusivos da nova geração de consoles.

O roteiro de Sunset é guiado por um vírus que transforma em mutantes todo ser que bebe um energético. A partir daí, na pele de um lixeiro que pode ser personalizado por inteiro, começa uma jornada para "limpar" a cidade. Ninguém se preocupa com os pormenores ou com as motivações por trás do desastre. Não a princípio. Esse não é o objetivo. Assim, premissa estabelecida, as convenções de heroísmo e politicamente correto são jogadas de lado e a história dá lugar à simples e pura construção do personagem "Sunset Overdrive".

A maior preocupação (e êxito) do título é criar uma identidade que o diferencie da maioria dos outros jogos de mundo aberto, e para isso ele aposta em uma arte cartunesca e no humor escatológico, gráfico. É como se a Seattle de inFamous acordasse de uma viagem de drogas sintéticas, começasse a fazer piadas constantes como a série Grand Theft Auto no meio de um ambiente alienígena que lembra Marte Ataca!, de Tim Burton. Sunset Overdrive é divertido e aleatório nesse nível.

Não é somente o ritmo dos diálogos que tornam o jogo diferente. Os controles são parte primordial, e talvez a mais importante de todas. Tudo é baseado no sistema de grind, o deslizamento pelas cordas, fios elétricos e canos da cidade. Muito parecido com a renomada série Tony Hawk's Pro Skater. Também é possível escalar e andar pelas paredes. Isso tudo é inserido dentro da movimentação, que é o cerne de toda a diversão, pois Sunset força o jogador e correr, lutar e explorar os ambientes sempre se mexendo. Nada pode ficar parado. Na verdade, nada precisa ficar parado.

A impressão inicial é de confusão e dificuldade de conciliar as lutas com esse frenesi. A solução da Insomniac para tal problema foi diminuir a velocidade nos momentos de tiroteio e forçar o aprendizado de todas as mecânicas ao mesmo tempo em que se faz o grind. Em cima dos canos é possível usar de bazucas a tacos de beisebol, tudo de forma simples e rápida. A quantidade de inimigos é propositalmente enorme, pois as lutas terminam tão rápido quanto começam. Por isso, Sunset está infestado de mutantes o tempo inteiro, algo que torna o jogo vivo e sempre ativo.

As virtudes diminuem, mas não apagam a quantidade excessiva de missões iguais, principalmente as secundárias. Colher itens, matar em tempo limite e outros modelos conhecidos do gênero são repetidos e cansam pouco antes da campanha principal terminar. Por outro lado, boa parte das missões principais são focadas explorar os momentos de plataforma. O combate com o boneco gigante do energético e a missão das duas torres são bons exemplos, que depois são modificados em outros objetivos. Dessa forma, por mais que a fórmula se repita, as poucas diferenças fazem com que as coisas pareçam novas (a luta com dragão e a fase do barco, por exemplo). O mesmo ocorre no multiplayer, que replica boa parte das passagens da campanha principal, mas renova tudo com a interação entre amigos.

Não existe nenhuma invenção mirabolante em Sunset Overdrive. Esse exclusivo do Xbox One é focado em divertir e fazer as horas passarem para o jogador com bom humor e alguns desafios. O multiplayer prolonga o entretenimento, assim como a customização dos personagens. Tendo em mente a fluidez dos controles e um texto fora do corriqueiro, a Insomniac fez um dos jogos mais divertidos do ano - e um dos exclusivos mais importantes da geração.

Nota do crítico