O Dominador - Tess Gerritsen
(Editora Record)
O Cirurgião - Tess Gerritsen
(Editora Record)
Uma mulher seminua atada em uma cama. Em sua frente, um homem coloca sua luva de látex, pega um bisturi e começa sua diversão: a exploração anestésica do útero. Seu nome? O Cirurgião. Num outro momento, um homem é preso num canto de uma parede e tem a garganta perfurada. Antes de se afogar em seu próprio sangue, ele ainda assiste o ritual do estupro de sua esposa. O nome do psicótico? O Dominador.

Assassinos seriais são um fenômeno social humano. Eles estão presentes em todas as sociedades, em todas as nações organizadas dentro do modelo ocidental e não raro, também no oriental. Porém, apenas nos Estados Unidos, estes párias transformam-se não somente em espetáculo midiático, com direito a nomes pomposos, mas também num lucrativo negócio tanto para o assassino como também para todos envolvidos, em maior ou menor escala - de parentes das vítimas aos policiais que cuidaram do caso.

No campo cultural estadunidense, os "serial killers" são um dos tipos de personagens mais rentáveis. O cinema sempre aposta nos monstros humanos. Séries policialescas de televisão sempre dão um jeitinho de ter ao menos um episódio com maníacos. A literatura idem. Tess Gerritsen muito mais.

Formada em medicina, Gerritsen abandonou a prática para, em 1987, apostar suas fichas na literatura best-seller de suspense, uma versão feminina de Robin Cook. O Dominador (Record, 400 págs, R$ 45, em média) é o seu segundo romance lançado no Brasil - O Cirurgião foi o primeiro.

Na obra, a detetive Jane Rizzoli tem que investigar a série de assassinatos cometidos pelo Dominador. Mas não é só isso. O tal Cirurgião - que havia sido capturado no livro inicial - consegue escapar e forma uma verdadeira dobradinha de carnificina. Dois assassinos seriais a preço de um.

Gerritsen não se cansa de explicar procedimentos médicos e policiais - quase um C.S.I. literário. Também se apóia nos clichês do gênero - policial durona, mas que, na verdade, quer é ser abraçada (bah!), o monstro humano obsessivo que comete erros crassos, um agente do FBI soturno que retém informações, um parceiro detetive descartável. Em resumo, tudo o que um bom filme com Morgan Freeman sempre traz.

Por ser conservadora e linear, a narrativa de Gerritsen é um convite para quem gosta de material ligeiro. Não há, aqui, o que teorizar - nem mesmo trazer conceitos literários ou filosóficos sobre horror/terror/suspense. Trata-se, de fato, do gênero invasivo literário, aquele que não dá margens a nenhuma interpretação, o que mostra que a autora sabe muito bem o que quer, onde quer chegar e o que fará para isto.

O Dominador tem uma trama envolvente - para quem gosta deste espetáculo de serial killers. Há, entretanto, concessões demais no final do enredo - sim, a autora não quer perder seu filão e também quer agradar quem gosta de um pouco de água com açúcar. Um prato cheio para quem gosta de literatura manipuladora. No final, fica um atestado: Tess Gerritsen é um messias do estilo.