Alan Moore, o reverenciado autor de Watchmen, A Liga Extraordinária e várias outras obras-primas dos quadrinhos, acaba de publicar na revista norte-americana Arthur um extenso texto sobre a história da pornografia. A melhor parte: está tudo disponível, gratuitamente, no site da revista (você baixa a edição completa em PDF - o texto de Moore está nos arquivos 1 e 2).

No meio deste ano, Moore e sua companheira, Melinda Gebbie, lançaram Lost Girls, graphic novel cuja intenção, na palavra dos autores, é reinstituir um valor artístico ao pornô. Como era de se esperar de Moore, ele pesquisou a fundo a relação entre arte, sexualidade, moralidade e política ao longo dos séculos.

Bog Venus versus Nazi Cock-Ring: Some Thoughts Concerning Pornography (A Vênus Esteatopigia contra o Anel Peniano Nazista: Algumas Considerações sobre Pornografia), o texto em questão, é um verdadeiro tratado. Oito páginas de colunas apertadas que buscam as origens da relação entre sexo e arte desde a Pré-História.

Moore dá atenção particular a dois contextos: a Inglaterra vitoriana e a influência dos quadrinhos (das tijuana bibles - ou, no Brasil, catecismos - aos comix nem um pouco reprimidos de Robert Crumb). Além disso, há alguns toques da perspectiva anarquista e liberal que domina grande parte de sua obra de ficção.

O que impressiona mesmo no artigo é a capacidade aparentemente ilimitada do autor barbudo de acumular, reproduzir e criticar conhecimento sobre tudo. Ele vai da arte mais refinada à parte mais grudenta da cultura pop, sempre embasado em história, política e uma lucidez invejável para expressar seus argumentos. Sem falar na ironia e no senso de humor que acompanham todo o texto.

Confira dois trechos:

Recapitulando, então: culturas sexualmente progressistas nos deram a matemática, a literatura, a filosofia, a civilização e todo o resto, enquanto culturas sexualmente reprimidas nos deram a Idade Média e o Holocausto. Não que eu queira exagerar nos meus argumentos, é claro.

A fantasia sexual é de graça para qualquer pessoa que ainda tenha um resquício de imaginação, mas o vídeo ou DVD pornô nos vende um substituto sem vida e sem brilho para algo que poderíamos ter criado nós mesmos, com satisfação bem maior. Isto, para as autoridades, deve ser a situação ideal da pornografia: ela deve ser livre, para girar a economia e gerar impostos, mas vista com maus olhos e vergonha, para que você não tenha outro Allen Ginsberg dizendo que isso é arte, ou direitos civis, um movimento, política, ou qualquer outra coisa que soe perigosa.

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