Se você é fã de Quentin Tarantino - o cineasta mais nerd da história da Sétima Arte - e se gosta de videogames, jogar Cães de Aluguel (Reservoir Dogs) é uma maneira interessante de revisitar um dos longas mais cultuados da história recente.

Basta ligar o console pra se sentir em casa... a trilha sonora do filme já começa a tocar e a sensação de transporte é imediata. A introdução também agrada, apesar de não contar com os talentos ou as vozes do longa-metragem (a única exceção é Mr. Blonde, que tem as feições e a voz de Michael Madsen), recriando de forma poligonal seqüências inteiras do filme de assalto mais politicamente incorreto do século 20.

O problema é que o filme pouco oferece para a criação de um game. Afinal, ele acontece quase que totalmente dentro de um armazém, com os personagens discutindo e toda a tensão decorrente de um plano que não deu certo. Assim, a produtora Volatile Games resolveu preencher as lacunas: aproveitou as descrições das cenas contadas pelos protagonistas e deu aos jogadores a chance de vivê-las, numa espécie de flashback interativo. No processo, porém, perde-se a atmosfera do filme - fator pelo qual o longa de Tarantino tornou-se famoso. E realmente não haveria como transportá-la para o jogo, ou ele seria uma chatice só... afinal, não daria pra fazer algo do tipo triângulo para gritar, quadrado para xingar, bola para fazer piada e xis para iniciar conversa descartável sobre cultura pop.

As fases intercalam as fugas a pé do banco assaltado (cada um dos cães de aluguel tem a sua), com trechos dentro de carros, visando chegar ao armazém. Essa última não traz qualquer novidade ao gênero, já que consiste apenas do velho pé na tábua, tentando detonar o veículo o mínimo possível. Já as fases a pé, em terceira pessoa, são bem mais legais. Além de atirar nos policiais e seguranças, há a possibilidade de desarmá-los usando os reféns - e eles existem aos montes conforme você cruza fábricas, lojas e outros estabelecimentos. Para ter um segurança sob o seu comando é fácil: basta dar uma chave de braço em um inocente e gritar para que ele coloque a arma no chão. Já policiais precisam de uma forcinha extra - nada que uma coronhada na cabeça do escudo humano não resolva. Isso sem falar dos membros da SWAT, que precisam saber que você não está brincando... uma vez desarmados, personagens podem ser obrigados a ficar de joelhos ou executarem outras tarefas, como abrir um cofre.

Dependendo de seu estilo de jogo, sua pontuação pode variar de psicopata a criminoso profissional. O primeiro mantém a contagem de corpos lá no alto (desfrutando da boa variedade de armas e do modo festa dos tiros, um bullet-time genérico), enquanto o segundo desarma, se esgueira e evita o banho de sangue. E por falar em sangue, toda a polêmica em torno do jogo, que causou até seu banimento na Austrália, é injustificada. Há o sangue ocasionado pelos disparos - como 99% dos games do gênero -, mas as cenas realmente violentas ficam apenas na sugestão e acontecem fora da tela. Ouvem-se os gritos, mas não se vê o ato.

O problema é que, com o tempo, o game começa a parecer repetitivo. Mas ainda assim há boa dose de diversão. Os cenários são muito bem feitos (o armazém é fielmente recriado) e o tiroteio na garagem é memorável. Se o jogo não inova, pelo menos fica acima da média das adaptações de filmes para os games. Vale conferir.